Pecuária

Entidade alerta para crise na indústria de carne no Paraná

Na avaliação do Sindicarnes, há perspectiva de uma oneração ainda maior do setor com o início da cobrança do Funrep

O anúncio, feito no início de janeiro, de que uma das maiores unidades de processamento de carne bovina do Paraná fecharia, eliminando centenas de empregos, levou o Sindicarnes-PR a exigir do governo estadual medidas “urgentes” para apoiar o setor.

Em comunicado nesta terça-feira (24), o sindicato, que representa empresas de carne bovina e suína, disse que o fechamento de uma fábrica da empresa Big Boi é o mais recente golpe para o setor, que eles afirmam estar sofrendo há anos.

O fechamento da empresa, segundo o Sindicarne-PR, “é um reflexo amargo da crise instalada no setor industrial da carne bovina nos últimos anos, gerada pela combinação de uma extensa lista de fatores negativos: aumento de custos, fuga de matéria-prima para outros estados, desidratação do consumo interno, além da perspectiva sombria de aumento da carga tributária”, aponta o documento.

Segundo a entidade, “o cenário mercadológico da carne bovina paranaense já era adverso quando ocorreu o reconhecimento do estado do Paraná como Área Livre de Febre Aftosa sem Vacinação e a consequente imposição de medidas sanitárias restritivas à entrada de animais provenientes de outros estados onde a vacinação continua sendo adotada. Este quadro abalou fortemente a dinâmica da cadeia pecuária bovina estadual, gerando crescentes dificuldades e prejuízos aos frigoríficos paranaenses”.

Na avaliação do Sindicarnes, há perspectiva de uma oneração ainda maior do setor com o início da cobrança do Funrep, a partir de março de 2023.

“Se tal cobrança realmente vier a ocorrer, poderá significar um golpe fatal para muitas empresas do setor no Paraná. Os números confirmam o agravamento da situação. Somente em 2020, ano de início das restrições sanitárias, o êxodo de bovinos para outros estados (principalmente São Paulo) passou de 150 mil cabeças, impossibilitando aos frigoríficos paranaenses obterem as escalas de abate necessárias para rentabilizar minimamente suas operações. Esse patamar recuou ligeiramente em 2021, mas voltou a subir com ainda mais força em 2022”.

Confira o posicionamento da entidade

No setor, estima-se que o desestímulo derivado a elevação dos custos de produção no campo, atrelado à insuficiência de recursos direcionados ao fomento da pecuária de corte tenha causado uma redução do plantel bovino de corte paranaense em até 300 mil cabeças desde 2019. 

Muitas propriedades voltadas à terminação e/ou confinamento existentes no estado foram desativadas ou simplesmente desmanteladas, informa o documento. O cenário tem prejudicado inclusive as empresas exportadoras, fazendo a participação do Paraná nas externas de carne bovina e derivados cair de 1,8% em 2019 para 0,8% em 2022.

Para garantir a formação de escalas de abate e cumprir seus compromissos contratuais, os frigoríficos paranaenses foram obrigados a assumir um ônus logístico adicional exorbitante na busca de animais para abate a milhares de quilômetros, nos estados de Rondônia e Acre, que possuem o mesmo status sanitário. 

Mesmo assim, o volume de abates dos frigoríficos paranaenses com SIF recuou drasticamente, de 835 mil cabeças em 2019 para 795 mil cabeças em 2020 e 695 mil cabeças em 2021, uma queda de 17% em apenas dois anos. Vale dizer que até cinco anos atrás o abate com SIF de bovinos no Paraná passava rotineiramente de um milhão de cabeças/ano.

É vergonhoso e inaceitável para a tradição centenária da cadeia industrial da carne bovina paranaense que o Paraná continue seguindo no rumo de converter-se em mero fornecedor de gado para outros estados.