Leite

Leite: indústria quer pagar preço abaixo da referência, critica CNA

Entidade pediu que laticínios cumpram os valores de referência; conseleites indicam alta ou estabilidade e empresas sinalizaram redução

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pediu nesta quarta-feira, 6, que as indústrias lácteas do Brasil cumpram o preço pago ao produtor de leite estabelecido pelos Conseleites. A criação desses conselhos paritários visam harmonizar as diferenças entre os produtores rurais e as agroindústrias e tem a finalidade de definir tendência do comportamento do preço do leite e servir como conciliação de conflitos.

A entidade explica que a situação do produtor de leite já era crítica antes da pandemia do novo coronavírus e ficou ainda pior nessas últimas semanas. 

“O preço pago pelo litro de leite ao produtor caiu 5,9% no primeiro trimestre de 2020. Enquanto isso, o custo de produção aumentou 3,18%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com destaque para o preço do farelo de soja, importante componente da ração animal, que teve alta de 23% em relação a fevereiro”, disse a CNA.

A CNA afirma que as medidas de isolamento social impostas para amenizar os impactos da pandemia da Covid-19 levaram o consumidor a aumentar significativamente sua demanda por lácteos no final do mês de março e nas primeiras semanas de abril. 

Com isso, principalmente o leite UHT e o leite em pó apresentaram maior volume de vendas e elevação de preços nesse período, comportamento que não se repetiu nas semanas posteriores.

Diante do cenário observado nos últimos meses, os conselhos regionais sinalizam valores de referência em alta ou estáveis para o leite entregue em abril, a ser pago em maio. Entretanto, boa parte dos laticínios apontaram redução no preço do leite para pagamento em maio, justificando os efeitos da crise no novo coronavírus.

Em Minas Gerais, por exemplo, o valor de referência para o leite entregue em abril a ser pago em maio teve alta de 5,62% em relação ao último mês. Em Santa Catarina, a alta foi de 3,8%; no Paraná, 6,75%, enquanto no Rio Grande do Sul a alta foi mais expressiva, 9,79%. Já em Goiás, na Câmara Técnica e de Conciliação da Cadeia Láctea, o Índice de Preços de Derivados Lácteos aponta uma variação positiva de 0,18% frente ao mês de março. Em termos de representatividade, a produção desses cinco estados representa praticamente 70% de todo o leite produzido no Brasil.

Apesar de todos os conselhos sinalizarem altas, há relatos de descumprimento dos acordos. Produtores do estado do Paraná apontam que importantes empresas fecharam o mês com a manutenção do preço pago no mês anterior. Em Goiás e Minas Gerais, produtores indicam sinais ainda mais preocupantes, uma queda dos preços ofertados.

“O comportamento dessas indústrias em não seguir as tendências sinalizadas pelos conselhos remete a práticas arcaicas de negociação unilateral, que acreditávamos já estarem superadas. Nesse momento de crise sanitária e econômica, o que menos precisamos é de uma crise de credibilidade”, criticou a entidade.