Ferrovia Transcontinental proposta pela China é vista com desconfiança

Analistas questionam a viabilidade do projeto para escoar produção à ÁsiaA construção da ferrovia Transcontinental, também chamada de Transoceânica, ligando o Brasil ao Peru, foi um dos acordos firmados em um plano de cooperação entre a presidente Dilma Rousseff e o primeiro ministro da China, Li Keqiang, na semana passada. 

Caso saia do papel, a ferrovia poderá facilitar o escoamento de grãos e minérios brasileiros até a Ásia, mas ainda há dúvidas sobre este cenário. O primeiro passo para a concretização da Transcontinental é o início dos estudos de viabilidade da obra. Estão previstos 5,9 mil quilômetros de ferrovia, sendo 4,4 mil atravessando o Brasil e outros 1,5 mil o Peru.

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O desenho final não foi definido, mas a perspectiva é que a ferrovia comece no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, atravesse Minas Gerais, siga por Goiás, Mato Grosso, Rondônia, um pequeno trecho do sul do Amazonas e cruze o Acre, até a fronteira com o Peru. De lá, ela atravessa o país e a cordilheira dos Andes e termine na cidade de Ilo, na beira do Oceano Pacífico.

Uma parte do projeto já existe e faz parte da Ferrovia Norte Sul, entre Corinto e Aruaçu. Duas rotas já estão incluídas no programa de concessões de ferrovias lançados pela presidente Dilma em 2012: do Porto de Açu até Corinto, e de Aruaçu a Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. A ligação entre Lucas do Rio Verde e Porto Velho já teve os estudos de viabilidade iniciados.

Para o coordenador-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira, a Transcontinental deve enfrentar forte resistência por parte dos movimentos indígenas e ambientais, mas deve ser bem recebida pelos produtores do Centro-Oeste, que enfrentam alguns dos piores gargalos de infraestrutura do país.

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– Vai ter que haver um grupo, vamos dizer força-tarefa do governo, para viabilizar essa ferrovia, senão vai levar 20 anos, 30 anos, sabe-se lá quanto tempo – disse.

Alguns analistas ligados ao agronegócio receberam a notícia com certa desconfiança.

– Isso já foi estudado várias vezes e nós sempre chegamos à conclusão que a obra é inviável, porque é uma distancia muito grande e existem outras alternativas para o grão brasileiro, principalmente entre Lucas do Rio Verde e Sorriso, a saída norte, a saída pelo Canal do Panamá – afirma o presidente da consultoria Macrologística, Ricardo Pavan.

A obra é estimada para custar inicialmente entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, com parte sendo financiado pelo governo chinês. Ainda não há data para o início da construção. A estimativa é que as obras sejam executadas em até cinco anos. Mas de acordo com especialistas de mercado, devido a algumas dificuldades logísticas, a Transcontinental não deve ficar pronta em menos de duas décadas.