OPINIÃO

Lula na ONU: soberania, democracia e clima no centro do discurso

Presidente destacou a defesa das instituições brasileiras, criticou sanções externas, pediu diálogo em conflitos e reforçou o papel do Brasil no combate às mudanças climáticas

Lula discursa na ONU
Foto: ONU/divulgação

Na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou o espaço mais simbólico da diplomacia mundial para expor sua visão sobre os principais desafios globais. O tom de seu discurso reforçou a imagem de um Brasil que busca protagonismo internacional: defensor da soberania, mediador em conflitos e referência climática.

Para o público interno, a fala funcionou como uma reafirmação de que instituições e democracia seguem sólidas. Para o setor produtivo, em especial o agronegócio, a mensagem é clara: o mundo exigirá cada vez mais compromisso ambiental, mas também reconhecerá o Brasil como ator indispensável na segurança alimentar global.

Defesa da soberania e das instituições

Lula classificou como “inaceitáveis” os ataques externos ao Judiciário e às instituições democráticas brasileiras. Segundo ele, práticas como sanções econômicas, tarifas unilaterais e restrições diplomáticas ferem a autonomia dos países e aprofundam assimetrias globais.

A mensagem foi entendida como recado direto a nações que, em nome de interesses comerciais ou geopolíticos, tentam pressionar governos soberanos.

Democracia como linha vermelha

O presidente também reforçou que democracia e Estado de direito são pilares inegociáveis. Citou o funcionamento das instituições no Brasil como exemplo de que a justiça deve atuar com independência e alertou para o avanço de forças antidemocráticas que buscam fragilizar esses sistemas em diferentes partes do mundo.

Outro ponto central foi a defesa da diplomacia. Lula mencionou conflitos como a guerra da Ucrânia e a crise na Faixa de Gaza, criticando o uso indiscriminado da força e distorções no conceito de “direito à defesa”. Para ele, apenas negociações multilaterais podem garantir soluções duradouras. O Brasil, disse, está disposto a atuar como mediador em conjunto com outros países.

Crise climática e desigualdade

Lula vinculou a luta contra o aquecimento global ao combate à desigualdade. Argumentou que não é possível avançar na agenda climática sem atacar as profundas diferenças sociais, especialmente em países em desenvolvimento.

Destacou ainda o papel do Brasil como protagonista na preservação ambiental e no combate ao desmatamento, apresentando a Amazônia como ativo estratégico para o planeta.

O recado para o agronegócio

Embora não citado diretamente, o discurso tem forte impacto para o setor agropecuário. O presidente sinalizou que a agenda internacional cobrará cada vez mais práticas sustentáveis, o que pode afetar acordos comerciais, tarifas e certificações. Ao mesmo tempo, ao defender soberania e diálogo multilateral, Lula busca abrir espaço para que o Brasil negocie melhores condições de acesso a mercados, especialmente na Europa e na Ásia.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural





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