OPINIÃO

Produtores de soja têm oportunidade única de acessar subsídios do PSR

Projeto piloto de R$ 8 milhões para o Paraná prevê até 35% de subvenção ao seguro

lavoura de soja
Foto: Daniel Popov/ Canal Rural

Tenho defendido neste espaço que o futuro do seguro agrícola passa pelo Zarc Níveis de Manejo (ZarcNM). Num cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas, ele surge como ferramenta estratégica para aumentar a resiliência produtiva e proteger a renda do agricultor.

No piloto da safra 2025/26, os produtores terão subvenções conforme a classificação:

  • NM1 20%
  • NM2 – 25%
  • NM3 – 30%
  • NM4 – 35%

Considerando que o governo bloqueou R$ 354 milhões do PSR, esse piloto se tornou talvez a única opção de o produtor acessar a subvenção ao prêmio do seguro de soja em outubro. Cooperativas e corretores do Paraná: ainda é tempo, mas o prazo está se esgotando.

O novo Zarc Níveis de Manejo (ZarcNM), lançado em caráter piloto para a soja no Paraná, é a maior inovação dos últimos anos no seguro rural, conectando boas práticas agrícolas a mais acesso a recursos do PSR.

O ZarcNM, coordenado pela Embrapa, representa um salto de qualidade na forma como o risco climático é avaliado. Em vez de tratar todos os produtores de forma uniforme, a metodologia leva em conta indicadores agronômicos objetivos para classificar as áreas em quatro níveis de manejo (NM1 a NM4).

São analisados parâmetros como fertilidade do solo, saturação de alumínio, tempo sem revolvimento, cobertura com palhada, rotação de culturas e diversidade de cultivos. A pontuação final gera a classificação que, por sua vez, modulada pela política pública, define diferentes percentuais de subvenção ao seguro rural.

Isso significa que quem adota melhores práticas de manejo terá direito a maior subvenção. Trata-se de um incentivo direto à sustentabilidade produtiva, premiando quem investe em conservação do solo, rotação de culturas e técnicas modernas que aumentam a resiliência climática.

Os dados da Embrapa deixam claro o potencial dessa abordagem. Em anos de seca severa, como 2021 e 2022, agricultores classificados no Nível de Manejo 3 apresentaram entre 55% e 83% mais resiliência do que aqueles que não seguiram as recomendações técnicas.

Outro ponto relevante é a transparência e a base técnica do processo. O ZarcNM combina informações de sensoriamento remoto (imagens de satélite), validações de campo e análises laboratoriais de solo, processados pelo Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM). Cada etapa é rastreável e auditável, garantindo segurança tanto para produtores quanto para seguradoras e o próprio governo.

Além disso, o modelo abre espaço para uma revolução no mercado de seguros agrícolas. Tradicionalmente, seguradoras precificam riscos a partir de médias regionais, sem diferenciar práticas de manejo. Com o ZarcNM, passa a ser possível precificar riscos de forma mais justa e personalizada, reduzindo custos para bons produtores e estimulando a adoção de tecnologias que beneficiam toda a cadeia produtiva.

Em síntese, o Zarc Níveis de Manejo é muito mais do que uma inovação técnica: é uma ferramenta de política agrícola inteligente. Ele cria um círculo virtuoso em que o produtor é incentivado a adotar melhores práticas, a seguradora ganha em precisão na gestão do risco e o governo utiliza de forma mais eficiente os recursos do PSR.

A mensagem é clara: investir em manejo de qualidade é investir no futuro da agricultura brasileira.

*Pedro Loyola é coordenador executivo do Observatório do Seguro Rural da FGV Agro.


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