Boi

Embrapa testa técnica de manejo de carrapato-do-boi sem pesticidas

Estudo mostra que novo método é mais eficiente do que os produtos químicos, porque o carrapato criou resistência a eles

Uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) demonstrou resultados positivos no controle de infestação de carrapatos em bovinos sem uso de pesticidas.

O estudo liderado pelo médico-veterinário Renato Andreotti, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, foi batizado como Sistema Lone Tick.  A técnica permite o controle da infestação do carrapato nas pastagens deixando as larvas “solitárias” (em inglês, lone) por meio do distanciamento entre parasito e hospedeiro. Os testes a campo foram realizados durante um ano com animais da raça senepol.

carrapato Senepol
Foto: Renato Andreotti/Embrapa

O carrapato-do-boi causa uma doença conhecida como tristeza parasitaria bovina (TPB), levando os animais à morte. Infestação de carrapatos nos bovinos e suas consequências acarretam grandes prejuízos para a produção nacional, em uma ordem estimada em US$ 3,24 bilhões por ano.

“O nível de infestação do carrapato nos rebanhos varia em função da presença e do grau de raças sensíveis. A infestação acarreta perda de peso pela ausência de apetite, irritabilidade do animal, perda de sangue pela espoliação acentuada levando à anemia, lesões no local da picada evoluindo para miíases e lesões posteriores no couro. A alta infestação promove instabilidade dos agentes infecciosos responsáveis pela TPB levando a surto de mortalidade de animais”, diz o médico-veterinário.

O novo método de controle do parasito apresenta benefícios superiores ao uso de pesticidas, que por sua vez, se mostra esgotado em função do desenvolvimento de resistência do carrapato a esses produtos.

“O uso dos acaricidas da forma como é feita, na maioria das vezes, sem orientação técnica adequada, leva à contaminação dos animais, dos trabalhadores e do ambiente”, acrescenta Andreotti.

Sistema de controle de carrapato na prática

O especialista explica como o sistema atinge os resultados: “O carrapato-do-boi completa o ciclo de vida no hospedeiro em 21 dias com o ingurgitamento da fêmea e sua queda ao solo com consequente postura de 3.000 ovos em média, iniciando a fase não parasitária. As larvas emergem dos ovos e constituem 95% da população de carrapatos no ambiente, sendo a fonte de reinfestação para os animais, não sendo alcançadas diretamente pelos carrapaticidas. A grande maioria das larvas do carrapato-do-boi não sobrevive no ambiente por mais de 82,6 dias”, garante Andreotti.

O novo método se mostrou eficaz em corrigir a carga parasitária no sistema para condições ótimas de controle, o que significa baixa infestação de carrapatos com redução de impacto da ação dos mesmos e manutenção da estabilidade enzoótica para a tristeza parasitária bovina. “Durante um ano de observação e monitoramento dos animais, nenhum deles apresentou sintomas para TPB”, revela.

Para o pesquisador, com a prática do Sistema Lone Tick é possível controlar de forma ecologicamente correta as populações desta espécie de carrapato sem o uso de pesticidas, atendendo assim, uma demanda de mercado internacional, que seria a diminuição do uso de produtos químicos e seus efeitos colaterais.