EXPORTAÇÕES X TARIFAÇO

Encolhimento do rebanho norte-americano deve forçar EUA a comprar carne do Brasil

País conta com menor plantel bovino dos últimos 50 anos e pode ter dificuldade em trocar proteína brasileira pela dos concorrentes

As exportações de carne bovina brasileira aos Estados Unidos tiveram um crescimento exponencial no primeiro semestre de 2025, com 157 mil toneladas e uma receita de US$ 791 milhões, conforme dados do Comex/Stat.

A quantidade embarcada de janeiro a junho representa, assim, 83% de todo o volume vendido aos norte-americanos no ano passado, quando 189 mil toneladas foram embarcadas, rendendo US$ 945 milhões ao Brasil.

Por conta da representatividade desse mercado, o fato de a proteína animal nacional estar de fora dos produtos isentos da tarifa de 50% imposta por Donald Trump surpreendeu o mercado.

O diretor do Canal Rural Sul, Giovani Ferreira, lembra que os Estados Unidos simboliza cerca de 10% das vendas da carne nacional, sendo a China a principal compradora. De acordo com ele, os norte-americanos vivem um momento de encolhimento do rebanho bovino e, portanto, de redução interna da oferta do produto.

“A série histórica do USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos] mostra que os Estados Unidos têm o menor rebanho bovino em meio século. Atualmente, são em torno de 95 milhões de cabeças. A título de comparação, o Brasil possui mais de 220 milhões de cabeças de gado”, detalha.

Segundo ele, a oferta norte-americana encolheu significativamente, visto que o auge do plantel do país foi há 50 anos, em 1975, quando contava com 140 milhões de cabeças. “Mas a demanda continua crescendo, então os Estados Unidos precisa, necessariamente, da carne bovina do Brasil.”

Para Ferreira, a opção de trocar o fornecimento brasileiro pelo australiano não é tão simples quanto parece. “Não se substitui mercados da noite para o dia. Estamos falando de construção [de mercado], de relações e acordos comerciais e, também, de questões sanitárias”, ressalta.