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Pecuária sustentável passa por mensuração das emissões

Para especialistas, é preciso ter métricas claras para os produtores rurais cumprirem os acordos de redução de emissões de gases de efeito estufa

ILPF, plano abc
Foto: Fabiano Bastos/Embrapa

Durante a Conferência do Clima (COP26), o Brasil e outros 102 países assinaram um acordo para reduzir as emissões do potente gás de efeito estufa metano em 30% até 2030.

O metano é o principal gás de efeito estufa depois do dióxido de carbono, e tem como um dos maiores emissores a pecuária.

No Fórum Planeta Campo, realizado nesta terça-feira (30), em São Paulo, o tema foi discutido no painel Pecuária sustentável na prática, mediado pela presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teresa Cristina Vendramini.

No painel, o líder global de Sustentabilidade da Royal DSM, Carlos Saviani, disse que a base para cumprir os acordos anunciados na COP26 é a mensuração das emissões. “A partir do momento em que passamos a medir as emissões, nós podemos reduzir. Atualmente, 90% das emissões acontecem dentro da propriedade. Com métricas claras, é possível reduzir em cada atividade”, afirmou.

Saviani disse que existe uma variação enorme de dados, dependendo da fonte. “Segundo dados da FAO, para cada quilo de carne produzida são emitidos 50 quilos de CO². Existem outros estudos que apontam até 400 quilos de CO² por quilo de carne. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que existem fazendas com uma pegada de carbono de 32 quilos. Ou seja, é preciso ter uma métrica clara, não apenas para reduzir, mas até para comunicar, informar a redução. É o básico. Só mensurando vamos saber da onde vem e vamos conseguir reduzir e reportar”, disse.

O líder da Royal DSM contou que o métricas foram adotadas no setor de pecuária leiteira, que passou por uma revolução nas últimas décadas. “Atualmente, quase todos os produtores de leite no sistema formal adotam métricas. Com isso, criou-se uma indústria da qualidade do leite, onde são investidos milhões em novas práticas, um setor foi criado após a adoção da contagem de células somáticas, composição e contagem bacteriana total”.

Auxílio social

A diretora de sustentabilidade da Friboi, Liège Vergili Correia, conta que, com o objetivo de auxiliar os pecuaristas da região do bioma Amazônia, especialmente aqueles que são fornecedores de gado, a atender às suas exigências socioambientais até o final de 2025, a JBS instalou 15 Escritórios Verdes em unidades de processamento de diferentes regiões-chave para as atividades pecuárias.

“Oferecemos suporte gratuito para pecuaristas que possuem restrições ambientais, visando a regularização ambiental de suas propriedades”, disse.

Correia também citou a Plataforma Pecuária Transparente, iniciativa que permite avanços na rastreabilidade da cadeia produtiva de bovinos.

“Nós temos condições de fazer parte da solução, e não apenas do setor, não apenas da empresa. Com a sustentabilidade, todos ganham”.

Pecuária nacional

Caio Penido, presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), defendeu a pecuária brasileira, especialmente dos ataques da União Europeia.

Segundo ele, o Brasil tem hoje a maior biodiversidade do planeta, além do Código Florestal e o Plano ABC+. “E, com tudo isso, ainda tem outros países dando pitaco. Mas nós somos muito melhores do que eles. Por outro lado, entendemos que a diplomacia climática é delicada e tem seu tempo”, disse.

Penido afirma que, para reduzir emissões na Europa e nos Estados Unidos, basta reduzir rebanho. “Toda produção já é intensificada. No Brasil, reduzir emissões é reduzir idade de abate. Mas qual é o motivo desse conflito? O Brasil assusta o mundo, é o maior exportador e como eles reagem? Com a floresta”.

Segundo o presidente do Imac, o Brasil está muito bem na parte ambiental e na economia. “Nós temos um agronegócio rico, pujante. Mas deixamos a desejar no social. Precisamos ter um olhar mais apurado para os vulneráveis nas florestas e nas cidades”, concluiu.