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Produtores de leite desistem da atividade por causa dos custos altos

Conheça a história de quem já abandonou a lida e de quem ainda está tentando encontrar uma saída desta situação desesperadora

Produtores de leite estão sofrendo com a elevação dos preços do milho, já que o grão é um componente importante na ração dos animais. Em Mato Grosso, o valor pago pelo litro não compensa o custo de produção.

Nem mesmo com 40 vacas em lactação, produzindo diariamente 700 quilos de leite, foram suficientes para manter o produtor Carlos Roberto Siqueira na atividade. Após seis anos e um investimento de R$ 600 mil, ele decidiu deixá-la. “Os preços do milho e do farelo de soja como estão tornam incompatível”, lamenta.

Siqueira conta que a única forma do produtor amortizar seus custos fixos, como investimento em animais e maquinário, é produzindo mais. “Essa é a eterna luta do pecuarista leiteiro”, diz.

O produtor Carlos Eduardo Olson deve seguir pelo mesmo caminho. Ele investiu aproximadamente R$ 4 milhões na estrutura da propriedade. Atualmente, a produção de 450 litros por dia não cobre os custos. “Comprávamos milho a R$15/R$ 16. Hoje, a R$ 45; e ainda baixa o preço do leite, como é que faz?”, questiona.

Na tentativa de baratear o trato dos 25 animais em lactação e garantir a produção mensal de 13 mil litros de leite, o pecuarista Ederson Rodrigues dos Santos cultivou mais de oito hectares de milho na propriedade. Ainda assim, a rentabilidade é incompatível. “Na minha propriedade, sobra muito pouco. Tem mês em que acabo vendendo um animal para abate para conseguir pagar a dívida que fica de veterinário e até de insumos minerais”, diz.

Manter o produtor de leite é uma questão socioeconômica

O comentarista Miguel Daoud afirma que a pecuária leiteira é um dos setores menos valorizados pelo governo. “Os instrumentos de política agrícola não são utilizados para favorecer a atividade. O Ministério da Agricultura diz que defende o produtor, mas não defende coisa nenhuma”, dispara.

De acordo com Daoud, cerca de 1,2 milhão de famílias estão envolvidas na produção de leite, totalizando aproximadamente cinco milhões de pessoas — boa parte justamente na agricultura familiar. “Conheço uma parte da Áustria e da França, onde a pecuária leiteira é incentivada porque é a vida das pequenas cidades. Tem que ser incentivada, porque traz consigo indústria e comércio, gerando imposto”, conta.

Para o comentarista, o governo precisa “institucionalizar” o leite, viabilizando a industrialização do produto in natura para agregar valor. “E o que fazemos? Importamos leite em pó, porque a tonelada lá fora está muito mais barata do que conseguimos produzir. Isso está destruindo a vida dessas famílias. É uma questão socioeconômica”, diz.