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'Tentam jogá-la contra mim', diz Bolsonaro sobre Tereza Cristina

Em vídeo de reunião ministerial, o presidente critica a imprensa e demonstra indignação com tentativas de prejudicar relacionamento com a ministra

Durante reunião interministerial ocorrida no dia 22 de abril, o presidente da República, Jair Bolsonaro, mostrou-se indignado com sugestões de que as relações com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, estivessem abaladas.

A fala ocorreu após Bolsonaro criticar a imprensa. “A gente está sendo pautado por esses pulhas, pô. O tempo todo jogando um contra o outro. Até a Tereza Cristina contra mim (ininteligível). Mas para jogar a Tereza Cristina… jogam ela contra mim. O tempo todo, tá? Então se a gente puder falar zero com a imprensa é a saída”, diz o presidente.

Rumores de que a relação entre Bolsonaro e Tereza Cristina estivessem ameaçadas iniciaram após a demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Por Mandetta e Tereza Cristina pertencerem ao partido Democratas (DEM), suspeitou-se que a demissão do ex-ministro acabasse respingando desafetos com a chefe da Agricultura.

Alguns veículos também publicaram reportagens afirmando que a ministra estaria cansada de “apagar incêndios” sobre as relações entre Brasil e China. Em março, o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), acusou a China de esconder informações sobre a disseminação do novo coronavírus. Em abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez acusações semelhantes às de Eduardo Bolsonaro. Ele também ridicularizou sotaque de chineses comparando-o com a forma de falar do personagem Cebolinha da Turma da Mônica.

Trechos não divulgados

O ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, ao divulgar o vídeo da reunião interministerial, pediu a exclusão de trechos em que ministros e o presidente conversam sobre a China e o Paraguai. Mas, algumas falas ainda estão presentes. Nelas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugere que a China deveria ajudar a solucionar a crise econômica causada pela Covid-19 no mundo. Guedes falava sobre o plano Pró-Brasil no momento em que citou a China.

“A China, (((TRECHO CENSURADO))), deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido. Então, a primeira inadequação, a gente tem que tomar muito cuidado é o seguinte, é o plano Pró-Brasil”.

O chefe da Economia ainda mostra não ter boas impressões sobre o país asiático. “A China é aquele cara que você sabe que você tem que aguentar, porque para vocês terem uma ideia, para cada um dólar que o Brasil exporta para os Estados Unidos, exporta três pra China”, expôs.

Trigo e Plano Safra

A ministra da Agricultura faz uso da palavra apenas ao final da reunião. Ela informa os presentes de que haverá um movimento pós-pandemia de priorização de estoques de alimentos em mercados internacionais. Tereza Cristina avisa que o Brasil precisa buscar autossuficiência na produção de trigo. A ministra aproveita a ocasião para solicitar redução de juros no crédito rural

“Nós temos dois milhões de hectares na … ali no Matopiba, prontos, inclusive com a Embrapa com variedades superprodutivas para poder investir lá. Precisa de dinheiro. E uma última coisa, é financiamento. O que nós precisamos é baixar o juros. A agricultura não aguenta 9% de juros, é muito alto para ela.”, aponta.

Como resposta, Bolsonaro questiona o posicionamento do Banco do Brasil. Guedes interrompe o fluxo de conversa e diz que a característica público-privada do Banco do Brasil dificulta a negociação. “O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem [Novaes, presidente do Banco do Brasil], coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.’ . Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”.

Guedes incentiva Rubem Novaes a revelar um sonho que ele teria. Bolsonaro pede que ele revele apenas em 2023, ano que em o capitão reformado não estaria mais ocupando o cargo de presidente. Mas, Novaes confessa concordar com a opinião de Guedes sobre a possibilidade de privatização do Banco do Brasil.

“Em relação (risos) à privatização, eu acho que fica claro que com o BNDES cuidando do desenvolvimento e com a Caixa cuidando da área social, o Banco do Brasil estará … estaria pronto pa … para um programa de privatização, né?”.

A reunião é encerrada logo em seguida.