Preços da soja devem seguir firmes em 2017

Especialistas avaliam safra 2015/2016 como uma das piores para o setor. Perspectiva da atual temporada é positiva, mas clima ainda gera preocupação

Fonte: divulgação

O ano começou com a confirmação de uma quebra histórica na safra da principal cultura do país, a soja. Em contrapartida, os preços da oleaginosa atingiram patamares recordes, que não evitaram o alto índice de endividamento dos agricultores que não tinham produto para cumprir os contratos. Em resumo, especialistas avaliaram a safra 2015/2016 como uma das piores para o setor. Nesta temporada, a perspectiva é melhor, mas tanto o clima quanto as cotações ainda geram preocupação.

Na safra 2015/2016, o Brasil colheu 95,5 milhões de toneladas de soja, queda de apenas 0,83% se comparado ao resultado da temporada anterior. Mas é preciso levar em consideração que a expectativa inicial de colheita era bem superior à da safra 2014/2015: algo em torno de 103 milhões de toneladas, o que significaria uma quebra real de quase 8% ante o potencial previsto para a safra. Essa grande queda se deu por conta dos efeitos de um dos mais potentes fenômenos El Niño da história. Durante sua ocorrência, as estiagens foram extremamente severas no Matopiba e no Centro-Oeste, enquanto houve excesso de chuvas e frio nas regiões Sul e Sudeste.

“Foi uma das piores secas que tivemos em Mato Grosso. Algumas regiões sentiram mais do que as outras. Perdemos quase dois milhões de toneladas de soja. Isso teve impacto no bolso dos produtores, houve necessidade de renegociação de dívidas em algumas regiões. Foi um ano muito difícil para a sojicultura no estado”, relembra o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin.

A crise econômica do país levou produtores de municípios do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso a pedirem renegociação de dívidas e adiamento da entrega de produtos já negociados, mas não colhidos. Alguns municípios pediram inclusive a homologação de situação de emergência, para facilitar o processo de prorrogação de dívidas dos produtores rurais junto aos bancos.

O preço chegou próximo dos três dígitos; R$ 100 por saca seria um número mágico para o produtor

Além disso, o El Niño devastador ampliou muito a incidência de pragas nas lavouras, fato não minimizado pelas tecnologias existentes. A ocorrência de ferrugem asiática, por exemplo, aumentou quase 10% no ano, chegando a um total de 399 casos. Isso sem falar nos prejuízos causados pela temida lagarta Helicoverpa armigera, levando o Ministério da Agricultura a prorrogar o prazo de emergência fitossanitária de alguns estados, que estavam autorizados a importar produtos agrotóxicos, que tenham como ingrediente ativo a substância benzoato de emamectina.

“No ano passado, a helicoverpa atacou muitas lavouras, assim como o percevejo. Tivemos um custo um pouco maior com a compra de produtos e uma eficiência não tão boa assim”, diz Giovani Fritsch, produtor rural de Mato Grosso.

Segundo Endrigo Dalcin, da Aprosoja-MT, além de o produtor pagar royalty por uma biotecnologia (sementes), ainda houve necessidade de gastar com aplicação de inseticidas, pois só a biotecnologia não resolveu. “Ligamos o sinal de alerta, porque precisamos estudar e ver realmente com a detentora da tecnologia se há uma alternativa para que este custo não cresça exponencialmente, como foi na safra 2015/2016”, explica o presidente da entidade.

Os problemas climáticos tiveram, contudo, efeito positivo sobre as cotações da oleaginosa. A quebra de safra da Argentina e Brasil e a preocupação com a produção dos Estados Unidos fizeram o preço da soja subir a patamares recordes neste ano. Na Bolsa de Chicago, a cotação da soja começou 2016 na casa dos US$ 8 por bushel e chegou a US$ 11 entre junho e julho. “O preço chegou próximo dos três dígitos; R$ 100 por saca seria um número mágico para o produtor”, afirma o diretor de commodities da consultoria INTL FCStone, Glauco Monte.

Nova safra à vista

Passado os primeiros seis meses do ano tentando resolver os problemas da safra 2015/2016, o setor voltou suas atenções para a nova temporada. As perspectivas para a safra 2016/2017 eram de recuperação de produção no Brasil, Estados Unidos e Argentina, o que trouxe em um primeiro instante o recuo nas cotações internacionais da soja.

Nos EUA, a perspectiva era de uma safra de 116 milhões de toneladas e, após a colheita, o número saltou para 118 milhões. No Brasil, a expectativa era superar 106 milhões de toneladas, mas o alto endividamento do setor e os preços nem tão atrativos assim não empolgaram e a área pouco mudou da temporada anterior para esta. Agora, consultorias e entidades como a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), apostam em uma colheita de 102 milhões de toneladas, e se o clima atrapalhar, até menos. Na Argentina, aposta-se em uma safra de 57 milhões de toneladas.

Com uma safra mundial de soja maior, as consultorias alertavam para uma possível desvalorização do grão, que não aconteceu, pelo menos não como se esperava. Os preços até caíram, mas logo voltaram a subir e permaneceram em patamares mais elevados, algo em torno de US$ 10 por bushel. Naquele momento, todos tentavam entender o que estava acontecendo e quando as cotações recuariam. A resposta veio das eleições americanas, que elegeram como novo presidente Donald Trump. Os maiores compradores da oleaginosa do mundo, os chineses, assustados com possíveis medidas americanas contra seu mercado, partiram para as compras antecipadas e ajudaram a manter os preços em alta.

“Já temos o desenho de uma demanda chinesa crescendo, mas em ritmo bem mais moderado. Está difícil de ver coisas muito negativas para o ano, mas elas podem acontecer”, diz a economista Amaryllis Romano.

Para Glauco Monte, o ano realmente não terá grandes movimentações nos preços, mas deve servir para melhorar a rentabilidade do produtor em 2017. “O preço da soja está um pouco acima do que estava no ano passado e eu tenho uma perspectiva positiva, de que a gente não vai ter grandes quedas, pois a demanda está muito firme”, diz.