Como será a margem de troca para a soja e o milho em 23/24?

Soja Brasil

Como será a margem de troca para a soja e o milho em 23/24?

Consultores de mercado avaliam preços da oleaginosa e do cereal nos últimos dois anos e mostram o que ainda está em jogo para o produtor

A pandemia e a guerra da Rússia contra a Ucrânia fizeram as principais commodities agrícolas atingirem os maiores patamares da história. Em março do ano passado, a soja chegou a 16,89 dólares o bushel, valorização de 79,8% em comparação ao período pré-emergência sanitária.

Já o milho foi cotado a 8,15 dólares o bushel, 114% a mais em comparação à mesma época. No entanto, o custo de produção acompanhou essa evolução. Nesta última safra, quando o produtor foi colher, muitos perceberam que não conseguiam pagar o investimento que fizeram na lavoura.

De acordo com o analista da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, em 2022 o agricultor precisou comprar os insumos em um dos maiores níveis em muitos anos. “Quando se compara o que ele gastou e o que ele está faturando, muitos produtores estão no zero a zero. Nos anos anteriores estava acostumado a ter margem positiva”.

Oferta maior, preços menores

Para os consultores, o movimento de pressão baixista para as commodities deve continuar nas próximas safras por causa de uma oferta maior e uma demanda ainda tímida. A soja, por exemplo, está no chamado “mercado invertido”, com preços ainda elevados no curto prazo, mas com queda acentuada nos contratos mais longos, especialmente em 2024.

Segundo o analista da Cogo Inteligência, Carlos Cogo, há uma recuperação da oferta no mercado global, o que leva os preços a caírem de forma acentuada.

“A soja está se aproximando de patamares próximos de 12 a 12,5 dólares por bushel, ante os 15 a 16 que tivemos desde a guerra até bem pouco tempo atrás. O contrato que está para vencer agora ainda está 15 dólares por buschel. A partir daí, 14, 13,50 e, na sequência do segundo semestre, de 13 até 12 dólares por bushel”.

Relação de troca para soja e o milho

soja mercado
Foto: Envato

Quanto à relação de troca para a próxima safra, os analistas acreditam que será melhor em relação à última, mas pior em comparação a 2020/21.

“Essas margens estão projetadas em 21% de margem bruta e, teoricamente, de 0% de margem líquida. Só que o milho vem de margens em 2021 de 64%, depois em 2022 de 55%. É uma queda bastante acentuada. O importante agora é olhar que a partir de agora a relação de troca melhora muito. Os fertilizantes estão em franca queda de preços no mercado global”, enfatiza Cogo.

Ele lembra que os nitrogenados, fosfatados e o potássio caíram entre 45% e 65% em dólares. “Isso vai levar a uma baixa bastante acentuada do custo de produção para a próxima temporada da safra de milho e segunda safra de 2024. E as margens já estão projetadas ao redor de 33%, ou seja, bem maiores que as atuais e já com a leitura de preços menores que foram praticados nos últimos dois anos”.

Sobre a soja, a situação é um pouco mais preocupante. “Nós temos o que chamamos de tempestade perfeita. Hoje essa rentabilidade da soja no Cerrado, em termos brutos, cai para 13%. Lembrando que a soja tinha deixado uma margem bruta em 2021 de 62% e em 2022 de 53%. A margem líquida da soja na lavoura de verão está zerada e o prognóstico no ano que vem é a mesma coisa”, afirma Cogo.

Exportações para a China

Foto: Tony Oliveira/CNA

O preço do milho, pensando a médio e a longo prazo, também deve continuar recuando. Porém, o cenário é um pouco melhor, já que o Brasil agora é um grande exportador do grão, principalmente para China.

“A china tem uma produção de milho perto de 270 milhões de toneladas, mas vai consumir 300, ou seja, ela já tem um déficit de 30. Tem grandes estoques, mas rapidamente caem e os chineses, nessa situação de pandemia, de escassez, têm a tendência de trabalhar com estoques grandes, então vão continuar comprando. O Brasil vai ter 50 milhões de toneladas para exportar, além de atender toda a demanda interna”, explica Brandalizze.

Para Cogo, o mercado internacional ainda tem estoques relativamente curtos em relação à demanda. “E isso só pode melhorar no início do ano que vem. Então, até lá os preços futuros estão bastante sustentáveis na casa dos 5 dólares o bushel, tanto para o primeiro semestre quanto para o segundo. Desta forma, os preços estão bastante sustentados em termos globais”.

Ampliação de portos

Foto: Porto de Paranaguá

Os analistas fazem um alerta: é preciso investir na ampliação dos portos. O Brasil vem batendo recorde de produção a cada safra e a capacidade de embarque é a mesma há anos.

“Os portos estão lotados de navios chegando, esperando, e nós estamos embarcando de 14 a 15 milhões de toneladas por mês, quando deveria estar embarcando de 20 a 25 milhões de toneladas para dar fluxo”, considera Brandalizze. “Quando tem problemas e o navio fica parado, temos que indenizar o navio e cada um custa de 30 a 50 mil dólares por dia”, completa.

O analista lembra, ainda, que o prêmio hoje está variando entre 160 a 200 pontos negativos. “Ou seja 1,60 a 2 dólares abaixo de Chicago por bushel. Isso dá 4 dólares a menos por saca que poderia estar se tivesse prêmio zero. Estamos perdendo em torno de 3,7 bilhões de dólares por estar trabalhando com prêmio negativo com essa dificuldade de embarcar rápido. Isso dá mais de 18 bilhões de reais. É um dinheiro gigantesco que deixa de circular no mercado brasileiro”.

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