Safra recorde de soja, baixa comercialização antecipada e demora nos embarques. Esses três componentes formam a “tempestade perfeita” para a queda vertiginosa dos prêmios no Brasil. Essa é a avaliação do consultor em agronegócio Carlos Cogo.
Segundo ele, há quase 20 anos não se registra prêmio inferior a um dólar por bushel. A última vez que isso aconteceu no país foi em abril de 2004. O especialista ilustra como o cenário afeta os preços da soja no Brasil.
“O preço que seria embasado pela cotação do primeiro vencimento em Chicago, que hoje está acima de 15 dólares por bushel, representaria o equivalente, sem prêmio, a R$ 160 no Porto de Paranaguá, mas está em R$ 146 [nesta quinta-feira], ou seja, estamos perdendo 14 reais por saca pela ineficiência da nossa logística e do nosso sistema de infraestrutura”, afirma.
Cogo lembra que esses problemas advém do início da cadeia, com a falta de armazenagem e de capacidade estática. “Nesta safra de grãos, faltam 124 milhões de toneladas de capacidade estática. O produtor colhe, embarca, joga no porto, todos contratam o frete ao mesmo tempo, os fretes explodem de preços, os descontos crescem, os portos ficam entupidos de produto e os prêmios desabam, como estamos vendo”, enumera.
Grande volume de soja disponível
Em uma safra de soja avaliada em 153 milhões de toneladas, conforme a Conab, os produtores brasileiros venderam, apenas 27% de forma antecipada. “Com isso, gera-se um acúmulo ainda maior, já proveniente de uma colheira maior, de soja disponível. A isso, soma-se mais um ingrediente complicador: o câmbio abaixo dos R$ 5”, diz Cogo.
De acordo com ele, os componentes que levam ao cenário negativo dos preços finais são compostos por:
- Colheita farta
- Tempo de embarque demorado
- Logística de portos complicada
- Falta de armazenagem no interior do país
- Câmbio baixo
Prêmios e o prejuízo ao produtor
O especialista lembra que cada vez que há um desconto exagerado, há uma perda não apenas na soja que é exportada, mas também na movimentada internamente. “Tanto a soja exportada como a interna vendida para produzir farelo e óleo no mercado interno também sofre esse desconto. Resumindo: a perda em abril está estimada em 4,4 bilhões de reais”.
Com isso, o prejuízo para este primeiro semestre chega a 12 bilhões de reais com prêmios negativos. “O programa de construção de armazéns do governo tem recursos para 4,5 bilhões de reais, ou seja, daria para fazer [com o valor do prejuízo] dois anos de programa”, ilustra Cogo.