Canal Rural Na Estrada: Cavalos de elite

Confira o primeiro programa da edição 2012 do projetoNo programa de estreia da série Canal Rural na Estrada 2012, você acompanha os preparativos, as dificuldades, o início desta grande aventura pelas rodovias nacionais. Tudo para mostrar a complexa logística de transporte de animais de grande porte no pais. Confira como é feito o transporte de cavalos de elite que viajam para representar o Brasil em competições na Europa e também a volta para casa de cavalos lusitanos que enfrentam horas de estrada, com imprevistos e armadilhas pelo caminho.

 

Assista à íntegra do programa:

 

Campinas
O Canal Rural Na Estrada foi até Campinas no aeroporto de Viracopos para mostrar o embarque dos cavalos de competição que atravessam o Atlântico para representar o Brasil em competições na Europa.

O avião alemão da Lufthansa levanta voo levando a bordo os cavalos que vão representar o Brasil nas Olimpíadas de Londres. Até chegar este momento, um longo caminho foi percorrido.

São Paulo
Esta história começa uma semana antes no Jóquei Clube de São Paulo. É no local que a cavaleira Luiza Almeida, de apenas 20 anos, treina todos os dias com o pensamento voltado para os Jogos Olímpicos. 

– O maior valor que tem no momento é que é a segunda vez que o adestramento está sendo feito consecutivamente de uma olimpíada para outra. É uma vitória, de novo a bandeira do Brasil lá. Foi muita raça, determinação, dedicação, a Luiza [Almeida, competidora] parou a vida dela só para se dedicar a isto – conta a treinadora Sandra Sabóia.

Luiza Almeida conquistou o direito de representar a América Latina nas provas de adestramento e tem à disposição dois cavalos lusitanos, o Samba e o Pastor.  Ambos conseguiram o índice olímpico, mas só um pode participar da competição.

A escolha é difícil. Só um vai representar o Brasil. O Samba é um velho conhecido e está com a Luiza há oito anos. O Pastor só há dois anos mas tem um potencial maior.

– É difícil, mas vou fazer uma prova na Alemanha e quem obtiver o melhor resultado vai ser o escolhido. Não vai ser pelo coração. Eu tenho que pensar no meu resultado – explica a competidora.

A escolha só vai acontecer dias antes dos jogos, por isto os dois cavalos vão embarcar para a Europa. Trata-se de uma viagem delicada que requer uma série de cuidados com a saúde dos animais. É necessário estar 100% para encarar a maratona dentro de caminhões e aeronaves. Os exames acontecem quase que diariamente, mas quando antecede uma competição tão importante, eles crescem em importância.

– A gente examina ele se movimentando, puxando a mão mesmo para descobrir se tem alguma alteração que mostre um processo de doença, infecção. Vê como está a frequência cardíaca, respiratória, enfim, o estado sanitário deste animal – diz o veterinário Neimar Roncati, responsável pelos animais.

Chegando o dia do início da viagem, os dois cavalos têm malas, e é fundamental que nada seja esquecido.

– Bom, a gente tem que estar preparado para estes três meses em treinamento fora do país tentando levar tudo que vai ser necessário – diz o administrador do haras, Raul Antônio Silva.

Os cavalos têm até passaporte. Sem eles, não podem sair do país!

– Com os passaportes internacionais, em cada competição são feitas vacinas e uma revisão. Temos um cavalo que esteve nos Jogos Olímpicos na China e lá recebeu o carimbo. É como a gente, super viajado – se diverte Silva.

Indaiatuba
Sem  passaporte, a pouco mais de cem quilômetros de São Paulo, em Indaiatuba, outros cavalos se preparam para uma viagem mais simples: a volta para casa de caminhão. São lusitanos que acabaram de participar de uma competição de elite. O objetivo é mostrar a logística de transporte que envolve um evento deste tipo.

Afastado da pista, há um local que não tem o mesmo grau de importância, mas tem um papel fundamental na logística de um grande evento. No lugar, não há muitos holofotes e o público mal enxerga, mas é lá que acontece o embarque e desembarque dos animais. 

São centenas de cavalos que chegam e voltam para os mais variados destinos. A distribuição dos animais nas baias durante os três dias de competição também é uma engenharia que faz parte da logística.

– A gente toma um cuidado especial. Exemplo, este lance de baias que a gente tem eram 12 baias , tive que colocar três animais, porque a gente tenta preservar a saúde deles e evitar machucados mais sérios – diz o veterinário Antônio Gomes, mostrando o caminhão.

Os caminhões que realizam o transporte são preparados para que nada saia errado. Equipados com baias, chegam a carregar de 10 a15 animais em cada viagem.

– Quando você tem um cavalo, desde pequeno, com um ou dois anos tem que passar ele em obstáculos, subir no trailer, descer do trailer. Aí quando ele vem para competição já está maduro para aquilo. Um criador que pega o cavalo do pasto e coloca no caminhão e já traz, provavelmente não tenha um resultado tão positivo. Então tem que ter preparo antes disto – ensina Marcio Merezzi, da Associação Brasileira de Puro Sangue Lusitano.

Esta é uma dificuldade na hora do embarque. Um dos cavalos não é acostumado a viajar e não quer entrar no caminhão. São necessários dez homens tentando.

-É que estes são potros que nunca viajaram. Então é a primeira vez, um pouco de estresse, mas daqui a um mês, dois meses, já estão viajando tranquilamente – afirma o treinador Valdeci dos Reis.

Tudo certo,é hora de ir embora e pegar a estrada de volta pra casa. No vai e vem dos caminhões, nem sempre as coisas dão certo. Carregando mais de dez cavalos, um veículo afundou no barro e quase tombou. Os animais foram retirados e um trator fez o serviço de resgate.

Depois de embarcar todos os cavalos novamente, a equipe do programa inicia a viagem de 80 quilômetros seguindo o caminhão até o município de Boituva, onde os cavalos serão devolvido ao haras. Mas outro imprevisto acontece, desta vez com própria equipe, que acabou se  perdendo do caminhão que transportava os cavalos. O clima ficou tenso, e apresentar, cinegrafista e motorista temiam que todo o trabalho fosse se perder.

A alternativa encontrada foi posicionar o caminhão próximo ao haras. Era a única esperança. E deu certo!

De volta à trilha, desta vez a equipe seguiu o caminhão até o Haras e acompanhou  o desembarque.

Às 20h, todos estão cansados e acabou toda a função de transporte dos animais. Quem vê os cavalos competindo não tem ideia de toda logística de toda mão de obra que acontece até este momento, até a volta para casa.

– A gente tem que sair do haras, carregar, ir e voltar, então quem vê na pista não sabe a logística que tem por trás disto, do trabalho que isto dá. Ainda vai um bom tempo para acabar, o cavalo tem que tomar água, comer observar se chegou bem, não encerra aqui, ainda não, ainda não – diz o treinador Valdeci dos Reis.

Missão cumprida, hora de ir embora.

São Paulo
De volta ao Jóquei em São Paulo, nossa outra viagem está recém começando.  Os cavalos precisam ser levados para o aeroporto de Vira Copos em Campinas. Até lá vão de caminhão.

O piso é todo de borracha para evitar que o animal escorregue durante a viagem. E também é mais confortável.

Na chegada ao terminal de cargas, os cavalos passam pela inspeção do fiscal agropecuário. Mais uma entre tantas etapas necessárias para sair do país.

– Acabamos de fazer a conferência física do animal e junto a isto está identificação do animal junto ao documento. São as garantias sanitárias do animal. Serve para ver se apresenta algum sinal de doenças contagiosas e depois emitirem a documentação animal aguardando o embarque para aeronave – diz o fiscal agropecuário no Viracopos André Marcondes.

Campinas
Os animais ficam até 24 horas em baias localizadas no próprio aeroporto. No local, são alimentados, passam por novos exames e permanecem até o momento do embarque

A baia onde os animais vão viajar pelo menos 12 horas até a Alemanha é de alumínio especial para este tipo de viagem. Fábio Camargo é o veterinário que vai acompanhar os cavalos até Frankfurt, na Alemanha.

– Primeiro é em relação à alimentação nos dias anteriores à viagem, evitar grãos, apenas ração propriamente dita para evitar cólica e desconforto. Basicamente, se a viagem for tranquila e gente vem de hora em hora ver se está tudo bem, oferece água, fica em cima um pouquinho – explica Camargo.

Por exigência da companhia aérea, o veterinário carrega durante a viagem, medicamentos que vão desde analgésicos até um kit para sacrificar o animal caso seja necessário.

– Tem estetoscópio, curativo, seringa, agulha, analgésico, lanterna para emergência no escuro, eutanaziar o animal. Tem que levar o kit caso haja um acidente que coloque em risco a segurança do vôo a gente tem que intervir. Graças a Deus nunca aconteceu e nem hoje, mas é obrigatório levar, norma da companhia – afirma Camargo.

Isto tudo não é nenhuma novidade para Cassiano Rios, dono de uma agência que faz a intermediação com o Ministério da Agricultura e a companhia aérea. Burocracia que começa 40 dias antes da viagem.

– Entra em contato conosco, a gente vai providenciar toda documentação junto ao Ministério da Agricultura, companhia aérea, toda esta parte que nós cuidamos para esta carga possa viajar com toda tranqüilidade – conta Rios.

Só em 2011, a agência exportou 150 cavalos. O transporte de cada animal pode chegar a seis mil euros.

– A gente presta serviço rotineiramente para Confederação, entra em contato conosco, toda documentação em cima da solicitação deles, da viagem destes animais – conclui.

Burocracia vencida, cinco cavalos da Confederação Brasileira de Hipismo estão prontos para viagem. Entre eles, os personagens do programa, o Samba e o Pastor, que na hora do embarque resolveu complicar.

– Um cavalo que é bem agitado e quando vai um cavalo do lado dele, ele é garanhão, tem que ter um cuidado especial – explica o tratador Luiz Ezequiel Gomes.

O tratador vai junto porque conhece os animais como ninguém. Gomes já passou por vários países e vai indo para segunda Olimpíada.

Na hora de colocar as baias dentro do avião, um susto que quase paralisa toda equipe envolvida no processo: uma virada na máquina que leva os animais até o avião.

– Foi um susto ali? Foi apreensivo, deu uma viradinha, mas agora está tudo tranquilo – diz Fábio Camargo.

O Canal Rural Na Estrada conseguiu algo raro, ter acesso ao interior do avião cargueiro.

Dentro do avião cargueiro, a equipe encontra os cavalos que vão encarar 12 horas de viagem até a Alemanha. Missão cumprida: a missão do Canal Rural Na Estrada era esta, mostrar como os animais viajam, como atravessam o oceano até a Europa.