Canal Rural na Estrada mostra realidade da suinocultura voltada para a exportação no Brasil

Equipe acompanha processo logístico desde a granja até o embarque em porto de Santa CatarinaO Canal Rural Na Estrada deste sábado, dia 11, mostra a exportação da carne suína e o longo caminho percorrido até seu ponto de partida do Brasil: o Porto de Itajaí, em Santa Catarina.

 

Chapecó (SC)
A aventura começa em Chapecó (SC), em uma das maiores cooperativas de carne suína do país. Uma empresa de grande porte, que é uma das quatro no Brasil recentemente autorizadas a exportar o produto para a China.

Cerca de 2,5 mil funcionários trabalham em ritmo constante em busca do corte perfeito. Somando todas as unidades, a cooperativa chega a abater 15 mil suínos por dia. São 16 mil colaboradores e 60 famílias associadas.

Os números da empresa reforçam a realidade do setor. Em 2011, o país produziu 3,5 milhões de toneladas de carne suína, com 15% destinados a vendas externas. O produtor integrado Dirceu Coser relata que a situação dos criadores não é fácil.

– Está complicado. A gente trabalha porque gosta, é um serviço que a gente sabe fazer, mas está bem difícil. Eu acredito que sem integração, a gente não consegue nem trabalhar. Não sobrevive. Bastante gente na região abandonou o negócio – lamenta.

O problema é uma realidade em todo território catarinense. O Estado não é autossuficiente na produção de milho e farelo de soja e consome 4,5 mil toneladas de ração por mês. Os custos de produção, desta forma, são altos, uma vez que, destas, 2,5 mil toneladas são compradas na região Centro-Oeste.

– A ração representa algo em torno de 70% do custo de produção, se você faz o milho viajar de caminhão de Goiás ou Mato Grosso até Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nós estamos falando somente no exemplo do milho. Estamos falando em um milho de R$ 17,00 em MT contra um de R$ 25,00 a R$ 27,00 no RS. Quer dizer, é o mesmo suíno, vende no mesmo mercado e consome ingredientes com diferencial de preço tão grande – aponta o pesquisador Jonas Irineu dos Santos.

Produtores de milho do Centro-Oeste comemoram produtividade
Enquanto em Santa Catarina a suinocultura sofre com os custos para conseguir a matéria-prima para ração, na região Centro-Oeste, em Mato Grosso, os produtores de milho comemoram a safra recorde esta ano. É tanto milho, que não tem espaço nos silos. Os grãos ficam expostos a céu aberto. Mesmo sobrando, o cereal continua com valor alto no mercado interno. A saca é vendida acima de R$ 25,00.

Indústria catarinense cresce apesar da crise
Mesmo com as dificuldades, a indústria consegue crescer e ter competitividade em Santa Catarina. Na cooperativa, a equipe acompanha a chegada de um caminhão carregado de suínos que serão abatidos. Esta é uma das pontas da indústria. A outra é o produto industrializado que já sai pronto para o consumo. Até lá, uma série de cuidados são tomados para garantir a qualidade da carne.

Na sala de cortes, a analista de controle de qualidade Camila Reffatti explica a importância da adoção de procedimentos padrão.

– A gente tem exportação para a Ucrânia, China, Singapura, Argentina. Então, dependendo o lugar para onde vai, é um padrão de produto. Por isso tem um controle de qualidade. Para saber se o produto está sendo produzido nas exigências do cliente.

Da indústria para as prateleiras

Em São Carlos (SP), o consumidor encontra o produto proveniente de Chapecó (SC) nas gôndolas do supermercado. São mais de um mil quilômetros percorridos. A carne abatida e industrializada no Estado catarinense viajou a bordo de um caminhão por mais de 600 quilômetros até o Paraná. O veículo estacionou na cidade de São José dos Pinhais, sede de um centro logístico da própria cooperativa, onde as mercadorias são reagrupadas e ganham um novo destino.

O procedimento ajuda a organizar e eliminar custos. O problema apontado pelo gerente do centro, Jaison Cardoso, no entanto, são os gastos com as rodovias.

– As estradas brasileiras são o nosso Calcanhar de Aquiles. Este é o grande problema de escoar a produção brasileira para os portos e para o restante do país. Santa Catarina é um grande produtor de alimentos e nós temos somente uma rodovia não duplicada que liga o oeste catarinense até os portos de Itajaí e Navegantes.

Também em São Paulo, a equipe visitou, semanas antes, a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). O diretor executivo da entidade, Jurandir Machado, afirma que da porteira para dentro, o setor é competitivo. Já do lado de fora, a situação até o Porto é complicada.

– Quando você tira isso da propriedade, que envolve custos de transporte, armazenagem, distribuição, nós começamos a perder competitividade. Um custo de logística, de tirar o produto industrializado, levar para o porto, no Brasil, chega a ser até 72% mais caro que nos Estados Unidos. Até a porteira, estamos sendo muito eficientes no Brasil. Depois dela é que a gente perde competitividade. Você despacha um contêiner de carne suína para a Ásia e custa R$ 1,9 mil. A Europa faz o mesmo por R$ 1,2 mil.

De volta a Santa Catarina

Para agilizar o embarque e escapar das filas que atrasam e custam caro, as indústrias utilizam um armazém localizado a poucos quilômetros do cais. É a última etapa antes de chegar ao porto e partir para terras estrangeiras, segundo o supervisor de logística Nilson Thomaz.

– É o ponto final do produto do cliente. A gente entra como um ponto chave pra ele, cuidando do produto, manuseando, estufando o contêiner e mandando para fora do país. Então, vejam a importância que nós temos neste elo, entre a cadeia de produção e a cadeia final na entrega do produto – diz.

Depois de um longo caminho iniciado em Chapecó, a equipe retorna à principal porta de saída da carne suína. Contêineres carregados partem em navios que têm como destino, pelo menos, 60 países espalhados pelo mundo. A burocracia, entretanto, é um entrave.

– Nós carregamos um contêiner na fábrica, precisamos carregar de oito a nove dias antes de carregar no navio para poder fazer o desembaraço de toda burocracia que existe. Isto é custo de estoque, é mão de obra que você precisa para adequar toda esta documentação. O Brasil, se quer ser competitivo no mercado internacional, tem que tirar esta burocracia existente hoje no país – pontua Celso Cappellaro.