Candidato à presidência Eduardo Campos diz que vai salvar setor sucroenergético

Em entrevista ao Rural Notícias, o candidato do PSB também fala sobre questão indígena, legislação ambiental, política energética e política cambialO ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) concedeu entrevista ao Rural Notícias sobre os seus pontos cruciais para o desenvolvimento do agronegócio: autonomia do Ministério da Agricultura, legislação ambiental, infraestrutura e logística, política energética, questão indígena e política cambial. Veja abaixo a entrevista em vídeo veiculada no Rural Notícias e a íntegra de todas as respostas dadas aos entrevistados.

Os três principais candidatos à presidência – Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Campos (PSB) – foram convidados para dar entrevista ao Rural Notícias sobre os mesmos pontos. Dilma e Aécio ainda não confirmaram a disponibilidade para participarem.

AUTONOMIA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

Alessandra Mello: Se eleito, qual será o papel do Ministério da Agricultura no seu governo. Ele terá mais autonomia?

Na verdade, essa área, que deve cuidar da atividade primária no Brasil, está muito desestruturada. Primeiro, está pulverizada em várias áreas: Ministério da Pesca, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura. Além de pulverizada, está fragilizada do ponto de vista da competência.

O provimento desses cargos passou a ser feito no balcão da velha política. Uma negociação que leva pessoas sem expressão a comandar uma área tão importante, uma área que tem ajudado o Brasil a gerar empregos, a gerar riqueza e ter resultados na balança comercial. Você não sabe direito nem o nome desses ministros. Nós precisamos mudar esse quadro, nós precisamos fortalecer a instituição. Colocar gente que a agricultura brasileira reconheça como competente, que possa buscar competência que há nas nossas universidades, nas nossas empresas, nos institutos de pesquisa, para vivermos um tempo em que a agricultura será fortalecida no governo federal.

Miguel Daoud: O senhor pretende unificar o Ministério da Agricultura, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Pesca, caso seja eleito?

Eu acho que a gente tem que mudar, fundamentalmente, em duas direções. Primeiro, temos que ter menos ministérios. Eu já anunciei que teremos metade dos ministérios. Segundo, esses ministérios não podem ser ocupados no balcão dos partidos políticos. Com todo o respeito aos partidos políticos, aos que merecem respeito. Nós precisamos botar gente capaz e competente.

Sabe por quê? Porque eu já fui ministro de Estado. Eu já vi ministros da Agricultura, como Roberto Rodrigues, trabalhando no governo do presidente Lula, e eu sabia que ele era ouvido internamente. Eu já fui governador do Estado duas vezes, e eu sei que se um secretário tem força, força de conhecimento e representatividade naquele setor, ele tem audiência dentro do governo. Se for um ministro fraco, que está ali porque o partido pediu e que não sabe direito das coisas, que não sabe quem são as lideranças do setor, que não conhece a história, que não conhece o que está acontecendo no mundo de mais inovador, o fato é que o setor fica sem ter com quem falar. É o que acontece hoje no Brasil. O setor não encontra uma porta com quem possa tratar o assunto para que ele seja resolvido.

Kellen Severo: Quando o senhor governou o Estado de Pernambuco, existiam 20 secretarias, um número que podemos considerar elevado. Reduzir o número de ministérios é transformar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Agricultura e o Ministério da Pesca em um só?

Quando eu fui governador, o Estado de Pernambuco fez uma inovação no sistema de gestão, que foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um sistema que foi buscar pessoas para preenchimento de cargos por meio de headhunter (profissional especializado em contratar cargos de chefia), por comitê de busca, implementamos a remuneração variável. Tanto é que quando fui à reeleição, eu fui o governador reeleito com o maior percentual de votos que já teve uma reeleição no Brasil, 83% dos votos. Se eu não tivesse feito uma gestão por mérito, por qualidade, com envolvimento da sociedade, com gente que soubesse, eu jamais seria reeleito com 83% dos votos.

Agora, nós apresentamos nesta semana as diretrizes do programa (de governo), que fala fortemente para a agricultura brasileira o que a gente deseja fortalecer e prestigiar. Quebrar o preconceito que existe em setores urbanos sobre o agronegócio brasileiro. Vamos apresentar agora, no final de julho, o nosso programa completo e vamos apresentar a nova estrutura do organograma do governo federal depois do programa. Porque senão você está discutindo a forma antes do conteúdo.

Alessandra Mello: Essa definição você não tem ainda?

Tem uma decisão anunciada, que nós não queremos 39 ministérios, mas nós vamos ter em torno de 20 ministérios. E outra decisão anunciada, é que, no nosso governo, os ministérios não serão providos no balcão dos partidos, como acontece hoje no Brasil. Por exemplo, a área de agricultura será entregue, no nosso governo, a alguém que a agricultura brasileira sabe que tem competência, conhecimento, respeito e não porque é do partido A, B ou C. Pode, inclusive, ser de nenhum partido.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Kellen Severo: Das 70 páginas do seu plano de governo, apenas uma é dedicada ao tema agricultura. E no item que trata do agronegócio, aparece a seguinte frase dizendo que: “o agronegócio hoje gera impactos de ordem social e ambiental, que precisam ser superados”. O que é superar estes impactos? É criar normas ambientais mais rígidas, é mudar o atual modelo de funcionamento do agronegócio?

O que você viu são as diretrizes do programa. Nós temos que falar de saúde, de educação, de segurança, de ciência e tecnologia, de mobilidade. Temos que falar de crianças, de pessoas com deficiência, temos que falar de florestas, de pesca, de agronegócio. Então, é claro, que a gente ainda vai apresentar o programa completo em julho. Este você não teve acesso ainda. Quando tiver, você vai ver o que é um programa que vai prestigiar o agronegócio.

Inclusive, levando ao agronegócio a força e a representatividade que nós temos na área urbana do país para mostrar que tem muita gente no Brasil, no campo, cuidando da natureza, dos nossos rios, das nossas florestas, fazendo agricultura com precisão, fazendo um bom uso dos recursos naturais, quebrando esse preconceito. E corrigindo, com extensão qualificada, com crédito, com seguro safra, com infraestrutura.

A competitividade da nossa agricultura precisa ser apoiada por dois vetores fundamentais. Um, é levarmos a infraestrutura. O outro vetor é termos uma política comercial muito mais ativa, onde o Brasil vai fazer acordos bilaterais que não faz hoje, abrindo espaço no mercado estrangeiro para produtos do agronegócio brasileiro. E mostrando, eu e a Marina (Silva), que o Brasil é um lugar que produz, mas produz respeitando a natureza. Porque, lá fora, como aqui, nas gôndolas do supermercado, as pessoas cada vez mais querem um produto com origem certificada de boas práticas.

Miguel Daoud: O senhor citou o nome da Marina Silva. Podemos dizer que ela tem uma visão ruim do setor de agronegócios. Como você vai conviver com essa visão de sua vice, visto que o agronegócio é o setor que tem mantido a economia brasileira?

Como eu sempre convivi. Não sei se você sabe, mas eu sou de uma família que vem do campo. Eu morei numa fazenda, aprendi a andar numa fazenda. A família do meu pai viveu do agronegócio. Então, eu conheço essa realidade não do “ouvir dizer”. Eu conheço de viver. Na prática, de viver até hoje. Até hoje, eu produzo café em Pernambuco. Então, eu conheço essa realidade. E o que eu vou fazer é diminuir essa distância que há entre a realidade do campo e as pessoas que vivem nas cidades, que não conhecem exatamente o que tem de beleza no campo, de produção, de gente acordando cedo, trabalhando muito, pagando muitos juros, enfrentando muitos gargalos da burocracia.

E tenha certeza que a Marina será uma grande oportunidade para o agronegócio brasileiro. Na medida em que Marina, vice-presidente da República, andar o mundo, como ela vai andar, defendendo as questões ambientais e testemunhando o que nós estamos fazendo na agricultura brasileira. Esse será um diferencial para o produto agrícola brasileiro. Nós vamos levar para o campo não somente a questão da sustentabilidade e da competitividade, mas outra palavra muito importante para o campo brasileiro: a paz no campo. Paz para quem produz e paz também para quem cria seus filhos. Segurança para quem vive lá. Não se faz isso com brigas, com polarização. Se faz isso com diálogo. É isso que eu fiz a vida inteira. E vou ter a oportunidade de fazer um amplo entendimento em torno dos grandes objetivos estratégicos do campo brasileiro, que são os objetivos do Brasil.

Kellen Severo: Candidato, existe outra proposta apresentada por você que há o interesse de promover o desmatamento líquido zero. Eu gostaria de entender de que forma é possível ter esse desmatamento líquido zero. A questão ambiental é muito marcante no plano de governo, mas não há tanto destaque na questão da produtividade.

Eu tenho conversado com as cooperativas, com a sociedade brasileira, com as entidades da sociedade civil que representa o campo, como também com a academia. Todos os setores estão preocupadíssimos em ter uma agricultura que siga investindo em ciência, tecnologia e inovação, como é a agricultura tropical brasileira, a mais competente agricultura tropical do mundo. E ela cresceu não foi porque desmatou, ela cresceu porque investiu em ciência e tecnologia. Porque Deus deu essas terras boas, essa fotossíntese e esse povo trabalhador que tem no Brasil. Povo esse que foi e fez no Centro-Oeste, fez no Sul, fez no Nordeste irrigado.

Então, nós temos condições, sim, de ter desmatamento líquido zero. Nós temos muita terra de pastos abandonados. Vamos incentivar a plantação de florestas, concessão de florestas, de reservas extrativistas, que podem ser feitas. E isso cumprindo, exatamente, o nosso desafio.

A ONU olha para nós e diz que, nos próximos 10, 20 anos, nós temos que ser responsáveis por 40% a mais de produção. Nós vamos dar conta disso. Mas vamos dar conta como? Nós vamos dar conta com ciência e tecnologia, dar conta com crédito, dar conta com infraestrutura, dar conta da produção, que vai aumentar, e do desmatamento zero, que vamos fazer, sim. E isso vai fazer com que os produtos de origem brasileira tenham mais mercado lá fora. Porque esse é um valor que, cada vez mais, o consumidor global valoriza.

Kellen Severo: Para esse desmatamento zero, nós vamos ter normas ambientais mais rígidas? Seguindo as propostas de sua vice?

As normas nós já temos. Já foram objetos de uma votação, de um debate brasileiro, que foi vencido. E agora, com essas normas, vamos fazer a tarefa que nós temos que fazer. Qual é a tarefa? O desmatamento líquido zero, sim. E ter produção que aumenta. Em vez de perder 12% da nossa soja, porque não tem estrada, não tem estrada de ferro, não tem porto, não tem armazenagem. Temos que cuidar das perdas e sermos inteligentes. É um tempo de nós termos a inteligência de unir o Brasil.

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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA

Alessandra Mello: Vamos falar de infraestrutura e logística. Como você imagina melhorar rodovias e portos, caso seja eleito como o próximo presidente? Seria através da privatização? Qual seria o modelo de investimento no seu governo?

Segundo levantamentos feitos pela Câmara de Competitividade, nós temos R$ 320 bilhões em investimentos a serem feitos em logística, nos principais corredores de logística brasileiros. Nos cinco corredores, de hidrovia, ferrovia, rodovia, portos etc. É o que nós precisamos: de R$ 320 bilhões. São os projetos já selecionados, já discutidos, que são consenso.

O governo federal não tem no orçamento para esses R$320 bilhões. Nós temos três receitas para eles. Uma parte será concedida à iniciativa privada, com segurança jurídica, com clareza de taxa de retorno que possa animar o mercado nacional e estrangeiro. Eles estão loucos para investir no Brasil, só que as mudanças de regras, o preconceito com a iniciativa privada fizeram com que muitos recuassem. O outro é a parceria público-privada, que o governo federal não fez nenhuma. Eu fiz, como governador de Pernambuco, parcerias público-privadas. A maior parceria público-privada de saneamento no Brasil foi feita no nosso governo em Pernambuco. Então, eu estou falando de uma coisa que eu já fiz, tanto concessão como parceria público-privada. E aqueles projetos que não se viabilizam por concessão, não se viabilizam por PPP, serão dedicados ao orçamento fiscal. Eu imagino que é em torno de um terço para cada um. É um terço desse desafio que vai ser resolvido por concessões, o outro terço com parcerias público-privadas e o outro terço pelo orçamento fiscal.

Miguel Daoud: Como você terá clareza com relação a esses investimentos? Hoje, nós vemos dúvida no governo. Uma hora ele privatiza, em outra hora não privatiza. Ele não tem clareza, e isso acaba afastando o investidor.

O pior dos mundos é a falta de clareza e regras seguras. Isso faz qualquer cidadão, que é dirigente ou consultor de uma empresa, recomendar para aquela empresa que não tome decisão porque não está claro. E é o que está acontecendo hoje no Brasil. O oeste do Paraná reivindica uma saída para o mar por ferrovia. São entre 120 e 200 km de ferrovia. Se você chega à região de Chapecó, em Santa Catarina, a mesma reivindicação: atingir os portos. Se a gente vai para o Centro-Oeste, são as eclusas que nunca saem do papel. As ferrovias, como a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), na Bahia, que ligaria o oeste baiano ao mar, estão paradas. A Transnordestina, que ia ligar o sul do Piauí à área irrigada do São Francisco, está parada. Ou seja, o Brasil sabe o que tem para ser feito.

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POLÍTICA ENERGÉTICA

Miguel Daoud: Em seu possível governo, a Petrobras continuará subsidiando a gasolina e destruindo um setor importantíssimo, que é o setor sucroenergético?

Eduardo Campos: Esse setor (sucroenergético) quando me vê junto com a Marina, sorri, fica feliz, nos chama, nos apoia. Porque eles sabem que eu venho de um Estado que tem tradição na cana-de-açúcar. Eles sabem o quanto é importante para a sustentabilidade o álcool, e nós vimos o quanto esse setor foi incentivado no governo do presidente Lula. E, mais do que de repente, jogaram esse setor para baixo, uma coisa absurda, 40 usinas fecharam, mais cerca de 15 usinas em recuperação judicial e muitos trabalhadores demitidos no Brasil inteiro.

Nós vamos salvar esse setor e vamos salvar a Petrobras. A Petrobras será dirigida por gente séria, competente, que vai seguir o plano estratégico que a Petrobras tem. Nós vamos resgatar um programa belíssimo, que é o programa de etanol no Brasil. Um programa que dialoga com esses valores que há pouco eu falava: o da sustentabilidade. Nós vamos buscar nas usinas, também, a parceria para a biomassa, para gerar a energia que nós estamos precisando. Pois, a metade das usinas poderia estar usando o bagaço de cana para gerar a energia que está faltando, só que estão desperdiçando esse bagaço.

Ou seja, é um absurdo, é um absurdo completo o que acontece hoje. Essa situação está sendo ruim para a Petrobras. A Petrobras perdeu metade do valor que tinha de mercado em três anos. A Petrobras está devendo quatro vezes mais do que devia três anos atrás. A Petrobras saiu da página de economia para a página de polícia. E o setor do etanol está vivendo esse drama que, há pouco, eu falava.

QUESTÃO INDÍGENA

Kellen Severo: Você afirma no seu plano de governo que vai garantir a demarcação e homologação de terras indígenas. Você também falou que não quer mais conflito no campo. Como isso vai acontecer? A Funai terá autonomia para determinar quais são as terras indígenas no Brasil?

Eu acho que a Constituição Brasileira já diz claramente que há todo um devido procedimento legal para a demarcação de terra indígena. E nós precisamos fazer isso com tranquilidade e com paz. Quando eu falo “com paz”, falo, por exemplo, de situações como a de Mato Grosso do Sul, onde você tem proprietários, pessoas que foram colocadas no Estado de Mato Grosso do Sul por quem? Pelo próprio Estado brasileiro, que fez lá processos de colonização, deu um título para esse cidadão. Foi buscar muita gente lá no Rio Grande do Sul, as animou para ir para Mato Grosso do Sul, deu um título do Estado. E, depois, o próprio Estado descobre, por estudos feitos, que aquela terra é terra indígena.

Hoje, querem tirar essas pessoas sem nenhuma indenização para os proprietários. Eu conversei com os dois lados, que é sempre importante na vida nós termos a capacidade de ouvir um lado e ouvir o outro, e é possível fazer um acordo, desde que se indenizem os fazendeiros e proprietários que estão lá e que podem produzir em outro lugar. E os que estão lutando pela demarcação também desejam um acordo. Na hora que o governo fecha os ouvidos, não ouve um lado e nem o outro, não decide, não gerencia a crise. O que acontece? Mortes e insegurança. A paz no campo é cumprir a lei.

Kellen Severo: Mas a Funai, então, vai ter autonomia total para continuar dizendo qual é e qual não é terra indígena no Brasil?

A Funai não tem autonomia total. Nem o Presidente da República, nem o Congresso. Nós temos uma democracia com três poderes constituídos, com regras estáveis, que concedem a setores do serviço público obrigações que devem ser cumpridas dentro da lei.

Alessandra Mello: Existe uma proposta para que a definição das terras indígenas seja compartilhada por mais órgãos além da Funai, inclusive que seja uma prerrogativa do Congresso Nacional. Porém, o posicionamento do atual governo é manter a decisão com a Funai. Quero saber a sua opinião: a decisão será só da Funai ou outros setores serão ouvidos se o Sr. for eleito?

Não é uma questão de deixar somente com a Funai. É uma questão de ter diálogo no campo. No campo, tem fazendeiros e índios. Se o governo não senta e não faz a mediação, tem conflito. A Constituição não é só para fazendeiro e nem só para índio, é para todos. Nós temos que ter um governo que atua preventivamente para evitar conflitos. Eu governei um Estado que tinha 14 movimentos sem-terra e garanti a propriedade privada. Tinha luta na terra. Garanti com diálogo. Havia 11 povos indígenas. Você não viu nenhum conflito em Pernambuco enquanto eu fui governador. Por quê? Porque eu sentava com fazendeiros, sentava com índios, com movimentos sociais, com igreja. Eu dialogava e mostrava que temos uma regra a cumprir.

Agora, um governo que se tranca em Brasília, que pega 39 ministérios distribui com os partidos políticos, a crise estoura no Brasil real, e esse governo não entende do Brasil real. Aí, quem paga, muitas vezes, é quem não tem nada a ver com isso. Ou paga a família de um fazendeiro de um lado, ou paga a criança indígena do outro. E aí, quem perde são todos. O que eu estou propondo é que a gente tenha uma regra. A regra é paz, respeito à lei. Um governo que atua e que dá razão a quem tem razão. E não tem medo. Se não tem razão um movimento indígena, ele diz que não tem razão. Se não tem razão um fazendeiro, que diga que ele não tem razão. Agora, se você tiver um governo que toma parte de um lado e joga o país no confronto, como é o que estão propondo os meus adversários, que há 20 anos mandam no Brasil. Um polo e outro, um fazendo e outro desmanchando. O que eu estou propondo é um tempo em que o Brasil se una em torno de uma agenda transformadora que faça bem ao povo brasileiro.

POLÍTICA CAMBIAL

Alessandra Mello: A última pergunta é sobre um tema que não poderia faltar. Sobre o câmbio flutuante. O senhor é a favor? Com a mesma base da política econômica hoje adotada?

Eu acho que a gente precisa ter muita clareza em relação aos fundamentos da macroeconomia brasileira. Nós defendemos o tripé macroeconômico. Mas não é somente estabelecer o câmbio flutuante ou meta de inflação. Porque você precisa fazer o seu dever de casa. Se você faz um fundamento no tripé macroeconômico, com câmbio flutuante, com meta de inflação, mas se não faz o dever de casa, como fazer a sinergia entre a política monetária e fiscal, acontece o que está acontecendo hoje: baixo crescimento. O câmbio vai lá pra cima, nós temos os problemas dos juros, com os juros mais altos de todo o planeta. Não existe uma política comercial. Gastos excessivos, desequilíbrio na balança comercial, desequilíbrio nas contas fiscais brasileiras.

Ou seja, é a coordenação de uma política que tenha uma visão de longo prazo, que tenha uma equipe séria e capaz, que o Brasil se reconheça e que mostre exatamente capacidade de diálogo. Que se vença esse maniqueísmo que domina o Brasil nos últimos anos, pois isso está vencido. Isso não quer dizer nada. Quem está nos assistindo pensa: “são os mesmos de sempre: os que estão há 12 anos e os que tiveram 10 anos, cada um se preparando para tomar o cercado, um batendo no outro sem resolver os meus problemas”. É preciso que chegue alguém que fale ao brasileiro do mundo real e diga: “O Brasil tem jeito, para dar jeito é preciso melhorar a política, é preciso limpar a política de muita coisa, e é preciso vencer essa polarização que já deu o que tinha que dar ao Brasil”.

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Confira a entrevista completa:

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