Exigências do novo Código Florestal são tema de debate na FeniCafé, em Minas Gerais

Produtores se dizem apreensivos em relação à regularização de terras, mas especialista aponta que há formas de manter lucro e preservar o meio ambienteA adequação às normas do novo Código Florestal foi um dos temas mais debatidos na Feira Nacional de Irrigação em Café (FeniCafé), que encerra nesta sexta, dia 30, em Araguari (MG). Produtores definem e regularizam reservas legais e têm como desafio encontrar oportunidades de renda de acordo com a preservação ambiental. O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, Marcio Lopes de Freitas, aponta que a orientação é que os agricultores não se mantenham na defensiva em relação à nova le

– O Brasil é um país que tem que se orgulhar de tudo o que fez de correto. Muito mais do que os nossos concorrentes. E o nosso agricultor não precisa se sentir oprimido, acuado, nós não fizemos nada de errado. O que nós temos é que adequar a nossa linguagem e conversar de igual para igual. Conversar e entender um pouco mais o Código Florestal, transformando isso que hoje parece um limão em uma limonada – diz.

O cafeicultor Ramon Rocha relara que regularizou 10 hectares de reserva legal em sua propriedade há 12 anos, quando não era possível demarcá-los fora da fazenda. A solução foi erradicar o cafezal para transformar a área em floresta. Atualmente, cultiva 45 hectares de café e 10 de eucalipto.

– Você tem que riscar, plantar adubar, cuidar da formiga, que é um problema, e a gente fica até no meio do caminho não sabendo como fazer. Se pode ter interferência ou não. Se pode usar herbicida. Mas a gente vem conseguindo recompor esta reserva – conta.

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), no entanto, mostra que é possível utilizar a reserva legal economicamente. Na hora de investir, o produtor rural pode optar entre nichos de mercado como produção de mel, frutas nativas e turismo rural. Porém, é na madeira que está a melhor oportunidade, conforme o professor doutor em silvicultura de espécies nativas da universidade Pedro Brancalion.

Ele afirma que é possível conquistar uma renda de R$ 2,5 mil por hectare ao ano no final do primeiro ciclo, após a implantação da floresta. Entretanto, segundo o pesquisador, tudo começa com um bom planejamento. 

– É preciso fazer um levantamento das espécies nativas, com um bom mercado na região. Isso inclui frutas, madeiras nobres para serrarias e assim por diante. O segundo ponto é pensar em um sistema de cultivo de madeira e frutas nativas com base nas necessidades do produtor. Então, se ele depende de um retorno econômico rápido, pode cultivar as entrelinhas desse plantio com espécies agrícolas, ajudando a amortizar o investimento na área – explica.

Brancalion lembra que antes da parte econômica, a reserva tem que cumprir a missão de proteger solo, água e biodiversidade.

– O órgão ambiental exige que estes projetos de implantação de reserva legal para produção de espécies nativas sejam notificados. Isso é natural e muitas vezes o órgão não consegue diferenciar se a área foi plantada ou não, se está sendo feito extrativismo autorizado ou uma exploração legalizada. Comunicação é importante e viabiliza exploração futura na área – informa.

Rocha pontua que a burocracia que desestimula projetos sustentáveis e trava produção e preservação.

– A gente foi atrás para ver como funciona, como se faz estes projetos, e a quantidade de órgãos para os quais tem que pedir licença e os custos que tem para isso. A gente acaba abandonando. Eu já desisti da ideia, porque a burocracia é muito grande. Esta questão de implantação de reserva para manejo, se não mudar a legislação do jeito que está, produtor nenhum corre atrás, porque é uma burocracia absurda – diz.

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do Código Florestal aprovado no Senado