Mercado e Cia

‘Incertezas na demanda mantêm volatilidade nos mercados agrícolas’

Molinari destaca que é preciso avaliar a situação estrutural global da econômica para enxergar a demanda futura

Em meio ao avanço do coronavírus no mundo, os mercados agrícolas iniciaram mais uma semana com volatilidade. Segundo o analista de mercado da Safras & Mercado, Paulo Molinari, os mercados ainda não conseguiram encontrar um ponto de otimismo de curto prazo para estabelecer que a demanda futura será uma demanda positiva, logo após o coronavírus.

“A China parece que está tentando sair da paralisação e é natural que retorne às compras de soja e também de carnes. Temos alguns problemas de oferta de contêineres, até porque os contêineres que foram para a China não retornaram e isso pode trazer alguma dificuldade de embarques regionais”, pontua o especialista.

Na Europa, por exemplo, a restrição da circulação interna, também fez com que os importadores antecipassem as compras. Enquanto isso, a Argentina maior exportadora global de farelo de soja, segue com portos fechados, situação é que já se refletiu nos preços do farelo de soja praticados na Bolsa de Chicago (CBOT).

Já em relação à demanda interna, o analista afirma que é natural essa corrida das pessoas aos supermercados para estocarem produtos, que resulta em uma bolha de demanda. Mas, que na verdade, nada mais é do que uma antecipação das compras, o que seria adquirido no prazo de um mês, acaba sendo comprado no curto prazo.

“Mas tudo isso são coisas locais e pontuais, que ajudam no primeiro momento, mas temos que ver a situação estrutural global da economia para enxergarmos a demanda futura e, nesse caso, temos todas as previsões de primeiro semestre ruins, do ponto de vista de crescimento econômico mundial. Inclusive, no Brasil e, naturalmente, a demanda acaba sendo afetada em nível global também”, explica Molinari.

Safras e comercialização

Enquanto isso, os produtores avançaram na comercialização de soja e milho no país. A recente disparada do câmbio tem contribuído para o avanço das negociações. De acordo com levantamento da Safras & Mercado, até o momento, em torno de 61% da safra de soja foi negociada, restando apenas 40% da produção para vender até janeiro de 2021.

O analista ainda pondera que haverá uma reavaliação para baixo na expectativa de safra no Rio Grande do Sul, o que ajusta ainda mais o quadro de oferta. “Agora tudo depende do que irá acontecer com essa demanda global ao longo do segundo semestre, principalmente se a China irá comprar soja nos EUA ou no Brasil, quanto tempo os portos da Argentina ficarão fechados, são pontos importantes”, completa Molinari.

No caso do milho, em torno de 29,8% da safrinha foi comercializada até o momento. Apesar da evolução nas vendas, o especialista ainda destaca que a comercialização não é tão grande como o mercado interno está precificando.

Além disso, no cereal, outro ponto importante é a questão climática, algumas regiões do Paraná, Mato Grosso do Sul, Paraguai e São Paulo receberam chuvas na última semana, após mais de vinte dias de estiagem em muitas localidades.