Milho

Milho: produtores e tradings divergem sobre classificação em Mato Grosso

Segundo a Aprosoja-MT, diferença em análises ocorre para desvalorizar o cereal entre a assinatura de contrato de venda antecipada e a entrega do grão

Foto: Pedro Revillion

Divergências na classificação do milho geram polêmica entre produtores e tradings. Os casos aconteceram em Mato Grosso e a desvalorização do cereal é apontada como um dos motivos do impasse pelas principais lideranças do setor.

Um dos prejudicados foi o caminhoneiro Luiz Roberto da Costa Alves, que teve o seu último carregamento, pertencente a um contrato de 18 mil sacos de milho, rejeitado. Segundo ele, a justificativa para a rejeição seria a de que o carregamento possuía fedegoso, uma semente tóxica. “Lá na lavoura não tem fedegoso, só corda-de-viola”, declarou Alves, referindo-se a outra espécie de invasora.

O produtor rural, dono do carregamento, e um representante da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) foram até a unidade receptora e negociaram a liberação da carga. Segundo Rafael Vinícius do Santos, supervisor da Aprosoja, foi necessário conversar com o gerente e com o setor de controle de qualidade antes de os produtos serem finalmente aceitos.

“Segundo eles, existe um estudo que comprova que o fedegoso é uma semente tóxica, mas isso não consta no contrato e na instrução normativa do Mapa, a IN-60 de 2011. Por isso a carga foi aceita”, completou o supervisor.

Outro ponto de discórdia foi em relação ao desconto de grão avariados. O produtor rural Nei Luiz Dariva comercializou antecipadamente cerca de 70% da safra de milho, sendo que a parte dos tradings já teria sido entregue. Mas o resultado da classificação deixou o produtor indignado. “Não é a primeira vez que a gente tem uma amostra classificada com divergências. A empresa não volta atrás e não tem uma legislação para isso, é o que se classificou e botou no papel. A frustração aumenta quando a gente vê que não tinha um desconto, que estava no padrão, e não poder fazer nada”, disse o produtor.

Uma hipótese levantada pela Aprosoja-MT é que as divergências nas análises ocorrem para desvalorizar o milho entre a assinatura do contrato antecipado e a entrega do grão. Segundo o presidente Antônio Galvan, em anos em que o produtor vende barato e não tem o produto para entregar, como em 2016, não houve reclamações sobre a classificação do cereal. Já em safras em que o valor do produto fica abaixo do preço de contrato, surgem diversos problemas com as empresas. “Por isso vamos questionar e discutir esses contratos sim, não é mais possível as empresas tratarem os produtores dessa forma”, disse.

Para o presidente do sindicato rural de Nova Mutum, Emerson Zancanaro, é necessária uma nova legislação que esteja mais afinada com as duas partes da negociação. Num segundo momento, diz, será preciso investir em pesquisa, para minimizar a interferência do “fator humano”. “A classificação é muito subjetiva. (Ao analisar) Avariados e impureza, uma pessoa tem um olhar, outra tem outro olhar”, afirmou Zancanaro.

O produtor rural Wanderley Cossetin precisou acionar os classificadores credenciados pela Aprosoja em duas oportunidades. Numa delas, ele contestou a avaliação da trading e mandou paralisar a entrega. A empresa indicou 12% de descontos, enquanto a análise da Aprosoja registrou 8,8%.

Classificador Legal

De acordo com o presidente da Aprosoja-MT, o programa Classificador Legal foi implantado por conta da deslealdade de algumas empresas e profissionais. “Não queremos generalizar, mas isso virou uma epidemia”, disse Galvan.

Um dos procedimentos realizado nas tradings considerado irregular pelo programa Classificador Legal é a quantidade de grãos utilizada na análise. “Em média, a gente encontra no campo entre 50 e 100 gramas, o que é pouco representativo (da carga) do caminhão e gera divergências. No caso do milho, a instrução normativa do Ministério da Agricultura fala de no mínimo 250 gramas para classificação”, disse o classificador Hudson Sales Santana.