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Milho safrinha: produtores de MT aflitos com produtividade que não atinge metade da prevista

Agricultor do município de Paranatinga esperava colher 120 sacas por hectare, mas até agora média não ultrapassou 40 sacas/ha; colheita está em 27% da área do estado

A colheita do milho não começou como o agricultor Robson Weber esperava. O agricultor investiu na lavoura em Paranatinga (MT), e previa colher no mínimo 120 sacas do grão por hectare. No entanto, por onde as máquinas já passaram, o resultado foi bem diferente. A produtividade média ficou apenas entre 30 e 40 sacas.

“[A produtividade foi] Muito frustrada, lugares que não vai nem passar a colheitadeira que não dá nada, deu só um rastoinho, espiga miúda, ,nem grão tem. Uma quebra muito significativa, não vai dar renda. A preocupação bateu na porta, porque o fertilizante que foi investido, o químico que foi investido, tudo caro, e não vai trazer resultado para pagar os custos”, lamenta Weber.

“Sem renda e com dívida”

milho safrinha em espiga miúda
Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

O fraco desempenho do milharal é resultado da estiagem prolongada que, segundo o agricultor, castigou todo o ciclo da cultura. “Uma área que foi plantada no dia 10 de fevereiro dentro da janela e hoje está com esse modelo de espiga. Chuva cortando no final de março, últimas chuvas boas. Depois, só garoa de 5 milímetros, 10 milímetros… O resultado está aqui na minha mão, tamanho da espiga, grão muito miúdo, parecendo mais uma pipoca. A expectativa sem dúvida é de baixa produtividade, então não tem perspectiva de produzir muito mais do que 40, 50 sacas não”, comenta o agricultor.

Robson Weber ainda fala de como ficam os compromissos. “Tem que saber lidar com essa situação, porque fertilizante que você comprou, a empresa quer receber; o químico, a empresa quer receber; a semente, quer receber… Tentar falar com a empresa, o achou não é barato se você tem um milho de R$ 70 [a saca] e faltaram 10 sacos para cumprir, são R$ 700. Então, é preocupante…em renda e com dívida”.

Milho negociado com antecedência

O início de colheita também está frustrando o produtor rural Dilson Luiz Cadore Júnior, que, diante da baixa produtividade, é mais um a ficar preocupado com o cumprimento dos contratos negociados com antecedência.

“São milhos plantados no final de janeiro, começo de fevereiro, dos quais as primeiras médias estão muito abaixo do esperado. Estão em torno de 60, 70 sacos e não tem muita expectativa de melhorar. Este ano, se conseguir cumprir os contratos, vai ser um ano muito bom, se conseguir cumprir… e Paranatinga, região de Nobres e Água Boa, são regiões siltosas e, para o milho é um desafio produzir, ainda mais com seca ainda. O pé não aguenta muitos dias de sol, no máximo 30 dias ele já está se entregando, está morrendo”, ressalta.

Segundo o Sindicato Rural de Paranatinga, os impactos da falta de chuvas nos milharais cultivados no município nesta segunda safra foram maiores do que o imaginado. O diretor da entidade, Carlinhos Rodrigues, afirma que essa safra não consegue cobrir o próprio custo. A gente estava prevendo uma quebra e está sendo bem maior, e essa safra não cobre o próprio custo. Um ano que castigou demais, infelizmente a seca está sendo muito severa para nós”, diz o diretor da entidade, Carlinhos Rodrigues.

Segundo ele, há propriedades com até 100% de perdas, com plantas sem maturação ou mortas. “Boa parte do pessoal que fez  sistema de troca, sistema de venda antecipada, está renegociando ou já renegociou, porque já sabe do prejuízo. E boa parcela dos produtores não vão conseguir cumprir os contratos”, afirma Rodrigues.

Risco de queimada

O diretor do sindicato conta ainda que, em sua própria fazenda, a escassez hídrica também prejudicou o desempenho da plantação. Nas primeiras áreas colhidas, a produtividade média ficou até 70 sacas abaixo da esperada.

Para evitar mais perdas na produção, com um possível incêndio na lavoura de milho, o agricultor trocou o turno das colheitadeiras da propriedade para jornada noturna. “A gente colhe do fim de tarde até madrugada. Durante o dia as temperaturas são muito alta, e tem muito vento também, então o risco de queimada é muito forte”.

Em Mato Grosso, os agricultores já colheram 27% da área total cultivada nesta segunda safra. O ritmo é superior à média histórica para o período, que é de 13,9%.