Rotação entre arroz e soja exige planejamento

Tema foi discutido em painel realizado hoje, dia 31, na Expointer, durante o Dia do Arroz

A rotação entre as culturas de arroz e soja em áreas de várzea está se consolidando a cada ano no Rio Grande do Sul, principalmente na parte sul do estado. Dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Igra) mostram que a área em que a prática ocorre aumentou em cinco vezes nos últimos cinco anos, se estabilizando em 300 mil hectares nas últimas temporadas, o equivalente a 30% da área cultivada com arroz irrigado.

A expectativa para a temporada 2015/2016 é de que a área plantada de arroz recue 3%, enquanto a soja permanecerá a mesma. 

Embora a técnica de rotação permite ao produtor diversificar sua renda e controlar o aparecimento de arroz vermelho, ela exige bastante planejamento dos produtores, para compensar os custos, lidar com problemas climáticos e elevar a produtividade.

Para tratar do assunto, o Canal Rural, em parceria com o Igra, reuniu um grupo de especialistas em um painel hoje, dia 31, no Dia do Arroz da Expointer, em Esteio, para discutir o tema.

O engenheiro agrônomo da Proatec Consultoria, Rafael Ramos, destacou que a técnica exige que os produtores adotem quatro práticas: escolha correta da época de semeadura, acerto do tempo dos processos produtivos, melhora da capacitação dos funcionários e de si próprio e intensificação do sistema de produção.

Pelos seus cálculos, o planejamento correto representa 40% do trabalho para fazer a plantação de soja ter alta produtividade, citando que o atraso na época de semeadura pode levar o produtor a perder 30 sacos por hectare.

– Mais de 60% da safra se decide antes da semeadura. Nós temos que nos conscientizar que a lavoura precisa ser planejada – disse.

Ramos disse também que a rotação entre soja e arroz é a tendência para o futuro, afirmando que a monocultura “está em decadência”.

Sustentabilidade

A questão da produtividade e do planejamento também foi citada pelo produtor rural Gustavo Lara, que arrenda terras para realizar o plantio de soja em Pelotas.

– No que compete a nós, é importante termos uma boa produtividade para podermos lidar com os problemas da porteira para fora – afirmou.

Durante a sua fala, ele ofereceu a sua experiência com a rotação entre arroz, que é produzido há quase 100 anos na propriedade que utiliza, e a soja, que começou a ser introduzida no local há 25 anos.

De acordo com Lara, a experiência está ajudando a integrar a lavoura e a pecuária no local, aumentando a produtividade dos bezerros que também são criados no local, além de melhorar a qualidade do solo.

– A soja deixa benefícios muito grandes para o arroz. Não só para o arroz, mas para o sistema inteiro.  Não posso deixar esse solo menos rico, por isso sou obrigado a fazer uma agricultura de precisão – afirmou.

Precaução

A rotação entre soja e arroz em terrenos de várzea traz bastantes benefícios aos produtores, mas ela precisa ser cuidadosamente planejada, para que o agricultor não tenha prejuízo. A declaração foi do panelista Geraldo Azevedo, médico veterinário e produtor rural em Mostardas.

– Acho que temos que administrar [a rotação] sempre com os pés no chão. O produtor precisa ter cautela, buscar o que é melhor para o seu negócio – afirmou.

Segundo Azevedo, o produtor deve buscar terras mais elevadas para realizar este processo, citando que o El Níño deste ano pode provocar alagamentos, destruindo os trabalhos dos produtores.

Apesar de demonstrar cautela, o produtor disse que a rotação de culturas é “um caminho sem volta”, pelo fato de a soja possuir mais liquidez no mercado.

– A soja junto com o arroz veio para fazer uma dobradinha [no Rio Grande do Sul] – disse.

Cenário

A situação da economia brasileira também foi assunto do painel. Segundo o comentarista do Canal Rural Miguel Daoud, embora o agronegócio seja responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o setor ainda carece de apoio governamental e precisa começar a produzir produtos de valor agregado, para ter maior competitividade no cenário internacional.

 – O Brasil tem pouco subsídio à agricultura. O país não tem instrumentos macroeconômicos, não tem instrumentos para passar o ciclo agrícola com tranquilidade – disse.

A situação é agravada, segundo ele, pela perda de credibilidade pela presidente Dilma Rousseff, os consecutivos embates entre o governo e o Congresso Nacional, além da falta de plano de governo por parte da oposição.

Daoud alertou ainda que a agropecuária também sofrerá com a queda de preços no mercado internacional, citando como exemplo a soja, cuja oferta superará a demanda.