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Fungo da Amazônia pode trazer novidades biológicas para a soja. Entenda!

Pesquisa inicial da Embrapa já mostrou que além de conseguir solubilizar fósforo do solo para as plantas, o fungo é capaz de proteger a soja de ataques de fitopatógenos do solo

A cada dia novos produtos biológicos vão surgindo e apresentando mais benefícios do que qualquer um químico poderia trazer para as lavouras de soja do país. Muitas vezes eles são até mais baratos que o tratamento convencional, pois também diminui a necessidade de se aplicar mais insumos. Desta vez, a Embrapa analisou um fungo do solo da Floresta Amazônica que se revelou um um importante estimulante para o desenvolvimento da soja. E, mais do que isso, também se mostrou eficaz em relação a patógenos presentes no solo.

O fungo em questão é conhecido como trichoderma. A Embrapa avaliou mais de mil linhagens, aliadas com duas fontes de fósforo e constataram que muitas delas promovem o crescimento das plantas de soja através da solubilização do fósforo presente no solo.

Vale lembrar, que um produto para solubilização do fósforo presente no solo (Biomaphos) foi lançado no ano passado, mas ele usa bactérias para isso. Entretanto, não é hábil em controle biológico, como o trichoderma, é.

Inoculante que libera fósforo para as plantas rende até 7 sacas a mais de soja

A descoberta pode dar origem a um biofertilizante, assim como o Biomaphos, em formato de inoculante, para importantes culturas agrícolas afirma a Embrapa.

“Os bioinoculantes de trichoderma são formulados à base de estruturas do fungo, geralmente por esporos. Sua aplicação é por meio do tratamento de sementes ou diretamente aplicado ao solo. São utilizados em diversas culturas de importância econômica, beneficiando a germinação e o crescimento inicial das plantas”, afirma o pesquisador da Embrapa Itamar Melo.

Segundo a entidade de pesquisa, o uso crescente de fertilizantes minerais tem contribuído para reduzir a saúde do solo, causando contaminação. Assim, os biofertilizantes à base de microrganismos benéficos podem anular esses problemas, e também reduzir os custos de produção.

“Para futuro produtos, a escolha da tecnologia de aplicação do fungo dependerá do desenvolvimento de formulações. Nesse caso, ainda não dispomos de uma formulação padronizada”, explica Melo.

Segundo o pesquisador, já há um método eficiente de produção de esporos e linhagens desse fungo, que esporulam muito rapidamente, entre três e seis dias em meios de cultivo naturais, uma vantagem adicional aos produtos disponíveis no mercado até o momento.

“Algumas ações inovadoras quanto ao desenvolvimento de um eficiente biofertilizante seriam potencializar a associação de linhagens da mesma espécie fúngica com funções específicas para promoção do crescimento de plantas, melhoramento da estruturação e saúde do solo e controle de patógenos habitantes do solo”, reitera Melo.

Resultados da pesquisa

Plantas de soja inoculadas com linhagens selecionadas de trichoderma foram cultivadas no solo com fosfato de rocha e superfosfato triplo. Os pesquisadores observaram um aumento de mais de 40% na biomassa das plantas inoculadas com o microrganismo. E a eficiência da absorção de fósforo pelas plantas foi elevada em até 141% em comparação ao grupo que não contou com o trichoderma sp.

O produto a base do fungo Trichoderma tem o potencial de colonizar o sistema radicular e a rizosfera. Foto: Laura Bononi/Embrapa

A bióloga Laura Bononi, que utilizou a pesquisa em seu doutorado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), revela que o fungo foi capaz de produz diferentes ácidos orgânicos durante o processo.

“Esses ácidos são importantes para liberar o fósforo retido em óxidos de ferro e alumínio, ou seja, de converter o fosfato presente no ambiente em fosfatos di ou monobásicos, que estão prontamente disponíveis para a absorção”, conta a bióloga, que foi orientada por Melo.

Segundo Melo, o uso de microrganismos solubilizadores de fosfato é uma estratégia sustentável e promissora para gerenciar essa deficiência em solos agrícolas, ressaltando que essa tecnologia permite aproveitar o uso de diferentes tipos de fosfatos de rochas oriundos de minas brasileiras. Atualmente, esses fosfatos são pouco aplicados como fertilizantes, o que faz o País importar esse insumo.

A importância do fósforo

A pesquisa já demonstrou que o nitrogênio e o fósforo são os nutrientes que mais limitam a produção agrícola e são essenciais no desenvolvimento inicial das plantas. Porém, os solos brasileiros possuem, naturalmente, baixa quantidade desse elemento, o que exige aplicações de fosfato em grandes quantidades.

“O fósforo está associado a três processos bioquímicos fundamentais: produção de energia, respiração e fotossíntese. Ele também participa de processos enzimáticos e compõem estruturas das células vegetais, como os ácidos nucléicos e as membranas celulares”, afirma Melo.

Embora exista uma grande quantidade de fósforo no solo, sua baixa disponibilidade para as plantas é um dos principais obstáculos à produtividade agrícola. As lavouras só conseguem absorver entre 10% e 40% do total do mineral aplicado ao solo. Esse fenômeno é devido a um alto grau de reatividade que ocorre entre o fósforo e os constituintes do solo, causando a fixação do mineral ou a sua precipitação com as partículas do solo, tornando-o indisponível para a absorção das plantas.

Proteção para o solo

Os fungos têm vantagem sobre as bactérias pois conseguem manter um agregado no solo proporcionado pelo crescimento de suas hifas (filamentos). Dessa forma, ele auxilia a planta na aquisição de nutrientes, água e protege do ataque de fitopatógenos.

Esse fungo e as bactérias são microrganismos diferentes, no que diz respeito à biologia. Mas ambos disponibilizam fósforo para a planta por meio da solubilização. Porém, o trichoderma é capaz de proteger a planta em relação a patógenos presentes no solo”, diz a bióloga Laura Bononi.

Trichoderma já é usado

Entre as várias espécies presentes na natureza, o Trichoderma harzianum é a mais comumente empregada no controle biológico de doenças de plantas, prevalecendo em restos vegetais em várias regiões geográficas.

“O Trichoderma tem importante mecanismo de ação sobre patógenos que atacam culturas agrícolas importantes como fusarium spp. (podridão vermelha da raiz), sclerotinia sclerotiorum (mofo-branco) e rhizoctonia solani (podridão radicular)”, explica o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja.

Embrapa estima que aproximadamente dez milhões de hectares de cultivo de soja estejam infestados pelo fungo que provoca o mofo-branco. Foto: Maurício Meyer

A Embrapa estima que aproximadamente dez milhões de hectares de cultivo de soja estejam infestados pelo fungo que provoca o mofo-branco. Essa doença se manifesta com maior severidade em anos chuvosos, temperatura amena e constante umidade do solo. A principal forma de infecção das plantas pelo fungo ocorre preferencialmente nas pétalas de soja, que servem de substrato para o fungo no início da infecção, antes de atingir hastes e pecíolos. A doença atrapalha o desenvolvimento da planta e reduz produtividade.

O trichoderma tem sido empregado com sucesso como agente de controle biológico desse patógeno na soja. Para isso, é necessário um condicionamento de solo para promover o máximo de colonização pelo trichoderma e, assim, reduzir o potencial da doença na área.

Meyer ressalta que o controle biológico é importante, pois somente a adoção do controle químico não é suficiente para um bom manejo do mofo-branco na sojicultura, é necessário a integração de práticas.

“Temos que considerar que mesmo com a maior eficiência de controle químico, ainda ocorre produção de inóculo. Por isso, as demais medidas de manejo devem ser adotadas em conjunto, para inviabilizar a manutenção do fungo durante a entressafra”, explica.

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