Praga capaz de destruir toda a lavoura de soja se espalha por Mato Grosso

Como ela é de difícil detecção, já que fica escondida na palhada, combate é complicado. Demora no tratamento pode condenar toda uma lavoura, garantem agrônomos

Pedro Silvestre, de Jaciara (MT)
Uma praga de difícil controle está preocupando produtores de soja de Mato Grosso: o torrãozinho. Este pequeno besouro cinza e marrom não só provoca perda de produtividade, como aumenta os custos com controle químico.

Ao observar este inseto tão pequeno em cima da folhagem, não dá para imaginar o prejuízo que é capaz de trazer. Só que em pouco tempo ele devora as folhas e se a infestação for muito grande, ataca também as hastes da planta.

“Eles se alimentam muito rapidamente. De um dia para o outro o dano causado é grande. É uma praga difícil de enxergar, porque na maior da parte do dia, quando está quente e claro, ele fica escondido na palhada. E o produtor só percebe algo errado quando as plantas aparecem destruídas”, diz o engenheiro agrônomo, Murilo Degasperi.

Segundo ele, por não saber de onde vem o problema, muitos produtores demoram a iniciar o combate a praga e o resultado pode ser devastador. “Muita gente vê os danos na lavoura, tudo comido, raspado nas hastes, nos caules e nem sabe o que está causando isso daí, porque não acha a praga. Mas, esta demora, se não for controlado no início da infestação, pode causar danos sérios, com perdas de até 100% da lavoura”, garante Degasperi.

Conhecido popularmente como torrãozinho (Aracanthus mourei), ele é um velho conhecido dos produtores de Mato Grosso. Mas, é no município de Jaciara, que ele preocupa mais. O presidente do sindicato rural, Rogério Bervanger, conta que no ano passado a praga já deu bastante prejuízo para os produtores, mas este ano ele chegou ainda com maior intensidade.

“Ele veio com maior intensidade, causando mais de prejuízo e dando mais dor de cabeça, porque é uma praga que, depois de nascer na soja, se esconde muito bem e vai destruindo as lavouras até o final. Com isso, gastamos muitas aplicações e, as vezes, não dá certo. Ele acaba cortando o galho com vagem e faz um grande estrago até o final do ciclo da cultura”, diz Bervanger.

Na propriedade de Jean Fritch, parte da lavoura já foi comprometida pelo inseto. O agricultor, que não estava preparado para combater a praga, conta que foi surpreendido e os prejuízos foram maiores.

“Não esperava isso, não tinha nem programado as aplicações de torrãozinho, pois fiz o tratamento de semente e achei que seria suficiente, mas não foi. Com o ataque, os custos subiram em torno de 10% para o controle e o prejuízo acumulado subiu para 30% em cada reboleira e são várias reboleiras na área inteira”, diz Fritch.

A causa do aparecimento do inseto nesse período ainda é investigada, mas segundo o agrônomo da propriedade, tudo leva a crer que a estiagem é quem mais contribui para a proliferação da praga.

“Muita gente demorou para plantar. Então o fato de ter pouca chuva e atrasar o plantio, levou muitos produtores a não fazer a dessecação da lavoura anterior, muita gente deixou de fazer aplicação no pré-plantio e isso pode ter sido um dos fatores para ter aumentado a incidência da praga”, conta Degasperi.

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