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Vender soja para 2022? Veja a opinião dos produtores e os preços oferecidos

O Projeto Soja Brasil ouviu vários produtores, lideranças da cadeia e analistas sobre os riscos e as oportunidades dessa antecipação da antecipação. Confira!

Seguindo a rotina de um 2020 atípico para o setor agrícola, com recordes atrás de recordes, entre outros fatos que chamam a atenção por fugir do senso comum, a soja talvez seja o setor que mais surpreenda. A maior produção da história brasileira já foi quase toda vendida a preços nunca vistos antes, abrindo espaço para que as safras futuras já comecem a ser negociadas. Neste quesito, ofertas e vendas para a safra de 2021/2022 de soja começam a aparecer, mantendo a atipicidade do ano. Mas será que os produtores estão animados em vender uma safra tão distante?

Antes de falar das vendas de 2022, vamos a um breve resumo do que tem levado a isso. Começando pela guerra comercial entre China e Estados Unidos, que trouxe ao Brasil o status de vendedor confiável. Ou seja, quando a China precisa ela vem até aqui e compra. Sabe que o maior produtor de soja do mundo está sempre em crescimento e terá como atender a sua demanda. Na sequência podemos destacar a crise gerada pela pandemia de coronavírus que fez do câmbio uma catapulta para os preços brasileiros, que já batem na casa dos R$ 130 por saca em alguns portos.

Tudo isso fez com que os estoques brasileiros de soja fossem dizimados, restando ao mercado, tradings e cooperativas a opção de ofertar soja para entrega futura. Isso já acontece normalmente, mas não na intensidade como a atual.

Safra 2020/2021 já vendida (o que era possível, claro)

Só para ter uma breve noção dessa disparidade que estamos falando, vamos destacar a antecipação de vendas do maior estado produtor de soja do Brasil: Mato Grosso. Por lá, mais de 50% das 35,1 milhões de toneladas previstas para serem colhidas em 2021 já foram vendidas. O normal, mesmo em anos com preços tão bons, como foi em 2019, era vender metade disso, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

“O que motivou essa aceleração nas vendas foi justamente as oportunidade que o mercado propiciou aos produtores, principalmente com a oferta de fertilizantes para a safra 2021, favorecendo a troca por soja com entrega para o ano que vem.E isso está acontecendo também com a safra 2021/2022, que desde maio já há ofertas para entrega em 2022”, afirma o superintendente do Imea, Daniel Latorraca.

Um levantamento realizado pela consultoria Safras & Mercado mostra que a comercialização da nova safra de soja, 2020/2021, segue em ritmo bastante adiantado se comparado a média normal para o período. Até o momento, o país já negociou quase 44% das 131,6 milhões de toneladas estimadas para o ano.

Ou seja, os produtores já negociaram quase toda a soja que podem antecipar para a safra 2020/2021, já que consideram arriscado mais do que isso, caso não consigam colher o total previsto por algum problema.

“O produtor sabe que não pode vender tanto mais antecipadamente, devido o risco da atividade. Na safra 2019/2020, teve produtor do Rio Grande do Sul que não colheu nem 30%, imagina se tiver vendido mais do isso, o tamanho da dor de cabeça”, afirmou o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Brás, durante uma live realizada pelo Projeto Soja Brasil.

Mas já tem vendas para 2022?

Sim, não vamos nem enrolar para dizer que existem sim negócios envolvendo a safra 2021/2022, principalmente no maior estado produtor do grão no país, Mato Grosso. Segundo levantamento do Imea, 1,29% da produção esperada para a temporada 2021/2022 já foi negociada pelos sojicultores de Mato Grosso, mas existe um porém ai.

“É um tratamento muito tímido ainda, pois a data é muito distante e tem muita coisas para rolar até lá. Acredito que vem vendeu apostou em uma segurança em relação as incertezas que existem para o ano que vem, ninguém sabe como será a produção no Brasil e nos EUA, ou como ficarão os preços, se a relação China e EUA trará mais impactos ao mercado”, afirma Latorraca.

A própria consultoria Safras & Mercado ainda não possui um número a respeito de vendas para 2022, mas o analista Luiz Fernando Gutierrez admite que com a oferta de negócios para aquele ano, deve haver também quem tenha aproveitado.

“Já tem gente vendendo sim, mas os volumes ainda são pequenos, em Mato Grosso. Mas é uma data muito distante, até para prever algo, imagino que os produtores também devem esperar um pouco mais para negociar. Apesar de achar uma boa oportunidade”, afirma.

Não é só o MT que tem negócios para 2022

Um levantamento rápido realizado pelo Projeto Soja Brasil nos principais estados produtores de soja do país mostrou que todos têm oferecido negócios para 2022, cada um com um patamar de preços, claro, mas todos acima dos R$ 90 por saca. Na maioria das vezes cooperativas e traders.

Todos os preços apresentados aqui foram enviados por produtores e não servem como anúncio, mas apenas consulta.

Em Mato Grosso, os preços variam de R$ 90 a R$ 94,50, dependendo de quem oferece. Uma em Sorriso e outra em Cláudia, conforme abaixo!

No Paraná, a oferta para 2022 é para pagar R$ 100 por saca.

Em Goiás o produtor recebeu oferta para 2022 a R$ 95,50 a saca.

O Rio Grande do Sul foi o que apresentou os maiores valores de venda e olha que a oferta em questão nem é de um grande polo ou município produtor.

Na Bahia, os preços oferecidos para entregar a soja em maio de 2022 é de R$ 97 por saca.

No Paraguai e Argentina os produtores só tem ofertas para 2021. Segundo o analista de mercado, Eugenio Irazuegui, que fica em Rosário, na Argentina o país antecipou 3% da venda de soja para 2021, abaixo dos 4,9% da mesma época do ano passado.

“Os preços na Argentina não estão tão bons quanto no Brasil e os produtores estão receosos, por isso não venderam muito”, diz Irazuegui.

“Aqui no Paraguai nem temos quem ofereça vendas futuras assim, como no Brasil, por isso não temos muitas vendas antecipadas”, diz o produtor de Tuparenda, no Paraguai, Eugenio Sefstron.

Os produtores estão vendendo para 2022?

Novamente sem enrolar, não, os produtores consultados não estão vendendo soja para 2022. Todos, sem exceção afirmam que a data é muito distante para negociar e as incertezas quanto ao preços dos insumos e os patamares de preços travam essa vontade de antecipar as vendas. Confira abaixo:

“Os custos devem subir bastante até lá e precisarei de mais soja por hectare para pagar. Acho arriscado antecipar tanto. Tem boa chance que o preço da saca a R$ 100 ser o novo normal em 2022, ou até mais”,
diz o produtor Fernando Manjabosco, de Coronel Bicaco (RS).

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“Estou negociando a safra de 2021 ainda. Já estão oferecendo vendas para 2022, mas está muito distante, pode acontecer muita coisa até lá”,
diz o presidente da Aprosoja Bahia e produtor rural, Alan Juliane.

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“Eu arrendo boa parte da minha área, é muito arriscado prever os custos em 2022. Tanto dos químicos, fertilizantes e também do arrendamento. Não sei nem se o preço normal em 2022 não será acima dos R$ 100. Por isso não vendi nada”,
diz o produtor Vinício Alves de Oliveira, de Caldas Novas, Goiás.

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“Existe oferta de negócios sim. Mas algum produtor falar que já vendeu soja para 2022 ainda não apareceu. Pode ser que esse valor comentado pelo Imea é algum produtor grande, mas os médios e pequenos, que nem eu, não ouvi nada de vendas para 2022. Está muito distante, a gente fica preocupado, pois são duas safras não plantadas. Vendi para a 2021, mas adiantar tanto é complicado, muito risco, não sabemos nada a respeito de dólar, é complicado”,
diz o presidente da Aprosoja Mato Grosso e produtor rural, Antonio Galvan.

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“Aqui na minha região ainda não estão oferecendo negócios para 2022, só para 2021. Para ano que vem já travamos alguma coisa sim. Mas mesmo se aparecer negócios para 2022, acho difícil a gente fechar, pois realmente é uma data muito distante”,
diz o produtor Romilson Carlos D’Ávila, Santa Cruz da Conceição, São Paulo.

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“Nós produtores rurais nunca tivemos esta oportunidade antes.O produtor que está fechando a safra de 2022 está aproveitando a oportunidade da alta do dólar e também do apetite chinês pela soja. Mas tem que ficar atento no quanto travar e vender desta soja para conseguir cumprir esses contratos e nao ficar exposto a possíveis multas por não entregar, né”,
diz o presidente da Aprosoja Paraná e produtor rural, Márcio Bonesi.

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Por fim o analista de mercado da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez até concordou que diante de tantas incertezas dá para entender o porquê de os produtores estarem receosos, mas ainda assim acredita que há aí nessas vendas para 2022, uma oportunidade.

“De fato, 2022 está muito distante, não sabemos como estará o câmbio, os preços na Bolsa de Chicago, como será a produção das duas safras 2020/2021 e 2021/2022 no Brasil e nos EUA. Não sabemos nada. Mas o valor de R$ 100 por saca não é ruim, me parece uma oportunidade para o produtor se proteger, vender um pouquinho que seja, mas entendo o receio deles”, diz Gutierrez.

Quando indagado sobre a chance aventada por um dos produtores de que os preços da soja possam estar em novos patamares de realidade em 2022, o analista não descartou a possibilidade. “Claro que existe essa chance, mas é muito difícil prever e os valores podem até estar mais baixos que hoje. Se já é difícil prever para o ano que vem, imagina para 2022”, afirma.

Para o superintendente do Imea, Daniel Latorraca, é natural que haja receio em relação as vendas para 2022, mas há sim uma oportunidade nisso. “Já temos muita incertezas de um lado, com isso, do outro, o produtor ganha a possibilidade de começar a travar parte dos custos. Eu vejo isso como um avanço para a gestão de risco”, afirma.

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