A instabilidade climática neste início de safra está causando transtornos e prejuízos na região sul de Mato Grosso. Em Jaciara, por exemplo, enquanto algumas lavouras de soja foram prejudicadas por chuvas de granizo, outras áreas estão sendo replantadas por falta de água. Com o cultivo atrasado na região, muitos agricultores estão preocupados com a janela da segunda safra.
O produtor Murilo Degasperi Fritsch semeia 4,2 mil hectares com soja no município e, pela segunda vez em pouco menos de duas semanas, é obrigado a entrar com as plantadeiras em campo, só que agora para replantar a cultura. As plantas que estavam recém-germinadas, não resistiram à estiagem de 19 dias. Para não correr risco de perdas de produtividade, o agricultor decidiu replantar os 150 hectares comprometidos pela seca.
“É o ideal a se fazer agora. Pois se deixasse daquele jeito, lá na frente, iria colher umas 35 sacas e não pagaria nem o custo direito. Vamos gastar mais aqui, só que lá na frente colheremos bem mais também. De 65 sacos até 70 sacos, que nos dará uma margem de lucro melhor, menor do que o restante, mais dá uma margem de lucro”, afirma Fritsch.
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O problema é que os riscos não para por aí. Para alcançar as médias desejadas nesse talhão, o produtor vai precisar de uma ajuda de São Pedro. Afinal as chuvas permanecem escassas na região e precisam se regularizar.
“Ano passado começou chover mais cedo e não parou. Plantamos a lavoura inteira sem problema nenhum. Esse ano está sendo bem diferente, muito ruim de chuva. Começou em setembro, parecia que iria firmar, mas de repente cortou. Umas previsões falam que agora irá firmar um pouco o tempo, outras falam que vai ser meio ruim até o dia 15 de novembro. Então tem que torcer para ser um ano bom e começar a chover”, comenta Fritsch.
Seca para uns e granizo para os vizinhos?
O mais curioso do clima é que pode acontecer uma coisa em uma propriedade e, logo ao lado, outra completamente diferente. Pois se na fazenda de Fritsch faltou água, em seu vizinho o problema foi a chuva. Calma, nós explicamos, por lá uma forte chuva de granizo afetou parte da lavoura já plantada.
“Como estava muito quente, as chuvas vinham com pedras. Isso prejudicou, não vai ser necessário fazer os replantio nessas áreas, mais o prejuízo é certo, já que vai ter uma quebra de quatro a cinco sacos por hectares. É o que a gente avalia”, diz Jorge Piccinin Filho.
Claro que, passado as chuvas, a preocupação agora também é com o tempo seco na fazenda de Piccinin Filho, ameaçando a lavoura germinada e atrapalhando o avanço do plantio. Segundo o produtor ainda falta semear 20% da área de 1,2 mil hectares de soja.
“Precisa chover, senão já paramos o plantio de novo. Onde plantei primeiro, tive sorte, veio uma chuva bem em cima, mas do lado meu vizinho teve que replantar. Foi sorte mesmo, onde deu essas pancadas acabou saindo bem a soja”, conta ele.
Segundo o presidente do Sindicato Rural, Rogério Berwanger, ainda tem regiões com apenas 60 milímetros acumulados, desde setembro. E outras, próximas, até na mesma propriedade, com 200 milímetros acumulados.
“É uma desproporção muito grande, corremos muitos riscos, então tem que ter muita cautela, pois é uma região que não tem muita umidade. O produtor tem que plantar quando já tem muita umidade, é mais seguro do que ficar arriscando e depois ter que conviver com uma lavoura mal plantada e com baixa produtividade”, comenta.
Berwanger afirma que apenas 30% das lavouras de soja foram cultivadas em Jaciara até o momento. Segundo ele, os trabalhos estão bem atrasados em relação ao mesmo período do ano passado e a lentidão já causa insegurança com a janela da segunda safra.
“O pessoal do algodão mesmo, teve gente que nem plantou a soja precoce por não chover em setembro e optou por fazer a safra normal de algodão. A safrinha tem uma data de plantio a ser terminada, então se a gente não semear a soja dentro do período, praticamente o agricultor corre o risco de semear a safrinha que é o milho correndo um risco maior”, diz Berwanger.
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