CLIMA EXTREMO

Chuva e granizo no Sul, seca e incêndios no Norte. Veja os motivos

De um lado, a precipitação acima da média interrompe plantio e, de outro, a estiagem compromete escoamento da produção

enchente e queimada
Fotos: CBMSC e Canal Rural

Enchentes no Sul e incêndios no Norte do país causam transtornos severos com pessoas desabrigadas, deslizamentos, estradas bloqueadas e até mortes. Precipitações acima e abaixo da média expõem a realidade de um Brasil continental em tempos de fenômenos e variações climáticas acentuadas, com 40 ºC no Norte e menos de 15 ºC no Sul.

Nos estados da Região Sul, a chuva que não dá trégua há mais de uma semana transborda rios e deixa cidades debaixo d’agua, parcialmente ou totalmente isoladas. A precipitação muito acima da média provoca estragos e prejuízos ainda incalculáveis com a destruição de imóveis urbanos e rurais e o cancelamento de grandes eventos. No Paraná e em Santa Catarina, os produtores são obrigados a interromper os trabalhos de campo e podem atrasar o plantio do ciclo de verão; nos dois estados, cerca de 200 municípios decretaram estado de emergência.

Santa Catarina, chuvas, tempestade, enchente
Enchente em área de Santa Catarina. Foto: Corpo de Bombeiros

No Norte do Brasil, a estiagem prejudica o escoamento da produção de grãos e favorece os incêndios que, na semana passada, encobriram de fumaça Manaus, a capital do Amazonas. O período de maio a outubro é mais seco na região. Ocorre que esse ciclo está se prolongando na região, com as chuvas demorando mais que o normal para chegarem. O nível do Rio Tapajós, por exemplo, importante rota de transporte de grãos atingiu esta semana 70 centímetros, o nível mais baixo em mais de 20 anos. O normal para a época seria o nível de 3 metros.

Fumaça proveniente de incêndios encobriram Manaus. Foto: reprodução/redes sociais

Segundo Arthur Müller, meteorologista do Canal Rural, o tempo severo no Sul se deve a dois fatores ou fenômenos climáticos: o El Niño e a Oscilação Antártica. Ele afirma que o El Niño está “em pleno andamento, de intensidade moderada com pico de intensidade forte previsto para o fim do ano”. E que “a Oscilação Antártica esteve negativa durante agosto/setembro e tende a ficar negativa novamente agora em outubro, uma configuração que favorece a incursão de mais frentes frias sobre o Sul do país”.

Ainda segundo o meteorologista, em relação ao Norte, a situação é totalmente atípica, porque as chuvas já eram para ter retornado à região. “O provável fator é que a anomalia global de temperatura de superfície do mar, principalmente no Pacífico (além da região do El Niño), acabou alterando a circulação levando mais chuvas para o oeste da chamada América do Sul Tropical, resultando nesta seca na parte leste, pegando principalmente o Amazonas.”

Em resumo, diz Arthur Müller, o impacto do El Niño no momento aqui no Brasil se traduz em temporais na Região Sul, seca no Norte/Nordeste e tempo mais quente em todo o país. “A falta de chuvas na faixa leste da região Norte e no Centro-Oeste também é consequência da combinação de outros fatores, que podem estar fortemente relacionados ao aquecimento anormal em todo o globo e que provocou diversos estragos no Hemisfério Norte durante a primavera-verão deles e começa a impactar aqui no Hemisfério Sul.”


Canal Rural Clima: ouça o podcast sobre previsão do tempo e curiosidades meteorológicas. Apresentação de Pryscilla Paiva e Arthur Müller.


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