Carência de dados trava expansão do seguro rural

Entrevistada da semana no Direto ao Ponto, a especialista em mercado de seguros Júlia Guerra explica que a modalidade rural ainda não é o foco no Brasil

Embora tenha apresentado tímido crescimento desde os anos 2000, sobretudo nos mercados de milho e soja, a modalidade de seguro rural ainda é um impasse a ser vencido dentro do agronegócio. “O produtor não o vê como um aliado, mas como um custo”, revela a especialista Júlia Guerra no programa Direto ao Ponto. O tema é polêmico e tem sido bastante discutido nos últimos dias pelos produtores que foram atingidos pelas quebras de safra e por consequência, os endividamentos.

Para a especialista, a cultura dos seguros no Brasil ainda recai mais em automóveis e residências do que no campo, isto por um simples motivo: faltam dados que possam ajudar o corretor a negociar as apólices de modo personalizado. Segundo Guerra, é preciso que o governo desenvolva um banco estatístico mais consistente de produtividade, quebra de safra, clima, tempo, histórico, mapa das redondezas, como os que existem nos Estados Unidos, o maior mercado de seguro rural do mundo, segundo ela.

Os levantamentos feitos pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e do Zoneamento Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não seriam suficientes para que o trabalho das seguradores pudesse ser direcionado de forma a conseguir a credibilidade de produtor, com melhores preços e maior abrangência de cobertura.

“É preciso analisar a real necessidade do produtor. Nestes casos, não é possível fazer nada de ‘prateleira’ com pacotes prontos, por exemplo.” Guerra explica que o ideal seria, na hora de contratar um seguro rural, o profissional compreender a cadeia produtiva daquela determinada região, as variações climáticas, as dificuldades de manejo, o contexto logístico e de infraestrutura do lugar, para conseguir um máximo de previsibilidade de riscos e criar uma apólice ideia a partir destas variáveis, pensando ainda nos mercados internos e externos.

Ainda segundo a especialista, os valores também podem baratear a partir de uma maior adesão dos seguros em todo o país, visto que hoje, a maior concentração de hoje é no Sul.

Mudanças à vista

Nesta semana, o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União a criação de um grupo de trabalho composto por representantes do governo, instituições financeiras e entidades do agronegócio para a elaboração de um novo modelo de seguro rural. Eles terão 90 dias para a apresentação do projeto. Os pontos discutidos giram em torno de orçamento, contingenciamento, ampliação de recursos e mais garanti ao seguro da renda.

Segundo o Secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, também pode ser votada, na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) no dia 28 de julho, a revogação da resolução que torna obrigatória a exigência de seguro rural em financiamentos subsidiados, aqueles que há a participação do governo. O Prêmio do Seguro Rural (PSR) deste ano contempla os produtores com um valor de R$ 400 milhões disponíveis para proteção.