Ano de embarques e valorização recordes para a pecuária de corte

Receita alcançou US$ 7 bilhões em 2014; expectativa para 2015 é aumento de 8% na arroba do boi gordo no primeiro semestreRecorde nas exportações e no preço da arroba do boi gordo em 2014. O ano foi positivo para a pecuária brasileira e o cenário poderia ter sido ainda melhor, não fosse a delicada situação econômica do país.

Nos últimos quatro anos, o abate de fêmeas no Brasil aumentou quase 8%, chegando a 32 milhões de cabeças em 2013, maior recorde registrado no país. A falta de matrizes no mercado gerou um cenário de oferta restrita em todas as categorias, o bezerro nelore teve valorização de quase 30% em 2014. Já os animais de cruzamento industrial da mesma categoria foram
negociados a R$ 1,3 mil.

– O próximo ano, a situação deve ser a mesma, porque nós pegamos um ano de seca, essa seca afeta as qualidades das pastagens, afetando o desenvolvimento das pastagens eu prejudico o desenvolvimento dessas fêmeas, que eu retive e afeta a reprodução. Por isso, nós devemos ter uma consequência nefasta da seca, que é a redução da quantidade de bezerros nascendo no futuro – explica Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria.

Já o boi gordo teve valorização superior a do bezerro. Em dezembro, mesmo com oferta maior, a arroba foi comercializada a R$ 145. A valorização só não cresceu mais, porque a demanda interna, prejudicada pelas conjunturas econômicas, limitou o consumo de produtos de origem animal.

– Nós temos hoje uma grande dificuldade de repassar para o consumidor a alta que vem da fazenda. Esse ano o boi gordo subiu em torno de 20%, 22% na fazenda, no frigorífico subiu em torno de 18%, 20%. Na conta final, subiu em torno de 10%, em alguns momentos chegou a 7%. O varejo não é capaz de repassar isso para o consumidor, o poder de compra da população não permite que isso ocorra – esclarece o analista da Scot Alex Lopes.

Mesmo com a arroba valorizada, os confinamentos tiveram queda. Em Mato Grosso, um dos principais Estados produtores de carne do país, a redução foi de 11%. Os altos custos da alimentação e de animais para reposição atrasaram o primeiro giro do confinamento.

– É uma atividade que em três meses você tem, no mínimo, mesmo com o custo alto e uma venda não muito boa da arroba, no mínimo 5, 6% de retorno de três em três meses. Não existe nenhuma atividade financeira, nenhum outro tipo de aplicação que você faça hoje no país, que compete de igual para igual com o confinamento – avalia Lopes.

Com a valorização do boi magro, o bezerro corresponde por 70% dos gastos operacionais dos confinamentos. Para aumentar a margem de lucro e reduzir o custo da alimentação na arroba produzida, os pecuaristas investiram na eficiência alimentar dos animais.

Em um confinamento localizado em Pirajuba (MG), com capacidade estática para abrigar cerca de 2,4 mil bovinos, a média do consumo alimentar é de 145 Kg de matéria seca por arroba produzida. Os animais chegam com peso médio de 13 arrobas e permanecem por um período de 90 dias, até serem abatidos com 19 arrobas. O lucro é de R$ 240 por cabeça e rendimento de 2,4% ao mês.

– Seja na atividade de grãos, pecuária ou suinocultura, quanto mais eficiente você for, quanto mais você produzir, gastando menos, é melhor para a atividade, porque é aonde você pode melhorar um pouco mais a margem de lucro – diz o pecuarista Fabiano Gambarato.

Para 2015, o custo operacional dos confinamentos deve aumentar 4,5%. A expectativa é que a oferta restrita do boi magro no mercado valorize ainda mais a arroba do boi gordo, que deve fechar na média dos 8% no primeiro semestre.

– A partir do momento em que você faz um alto investimento, trata esse bezerro como um alto investimento, isso exige que você trate ele com alta produtividade, com alta utilização de insumos, para você encurtar o ciclo de produção e conseguir vender o bezerro em um momento de alta da arroba – orienta Lopes.

Em 2014, as vendas externas de carne bovina renderam um recorde ao Brasil. A receita alcançou a marca de US$ 7 bilhões. Em volume, o crescimento foi 4% maior em relação a 2013. O fim do embargo de mercados importantes contribuiu para este resultado.

– Fomos liberados para a China, que tem uma magnitude muito grande, nós estamos com a certeza do comunicado da Arábia Saudita, nós já superamos embargos pontuais de ocorrências nos Estados, no caso Paraná e Mato Grosso pelo Irã e Egito. E a expectativa que nesse primeiro trimestre de 2015, nós vamos superar todos os embargos decorrentes do achado de priori, decorrente de 2014 e 2012 – afirma Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Com a queda no preço do petróleo, a Rússia e a Venezuela devem reduzir o volume de carne importada em 2015. Já a valorização do dólar deve contribuir nas exportações para novos mercados como China e Arábia Saudita.

– Os Estados Unidos está ameaçando abrir o mercado, não é certeza ainda para 2015, mas há uma esperança de que isso ocorra. Os Estados Unidos, especificamente, está passando por uma crise no quesito produção de carne, eles abateram uma boa parte do rebanho, diminuíram bastante o contingente bovino e, consequentemente, os preços da carne dispararam e eles virão buscar carne no Brasil também. Nós devemos aumentar os embarques para eles também – projeta a consultora da Agrifatto Lygia Pimentel.

Não existe nenhuma atividade financeira, nenhum outro tipo de aplicação que você faça hoje no país, que compete de igual para igual com o confinamento.

Alex Lopes, analista de mercado