Baixa demanda e altos custos prejudicam lucro das indústrias de cacau

Alta das cotações do cacau não beneficia produtor brasileiro

O preço internacional do cacau fechou em alta nesta semana, mas a baixa demanda interna pelo produto provoca queda na moagem da amêndoa. Aliado a isso, os altos custos de produção provocam o recuo da rentabilidade das indústrias no país.

 A incerteza sobre a oferta internacional do cacau até o fim do ano safra 2014/2015 mantém o preço do produto em alta. Na bolsa de Nova York, a amêndoa chegou a ser cotada a US$ 3,142 a tonelada. No mercado brasileiro, a saca de 60 quilos foi comercializada a R$ 480.

A alta no preço do cacau não está refletindo na indústria. No Brasil, nos oito primeiros meses de 2015 a demanda de moagem em relação ao mesmo período do ano passado já é 15% menor.

– A queda na demanda ela já está consolidada. A gente tem três trimestres seguidos de queda de moagem. Moagem é o que mede a demanda no mercado de cacau e isso é muito devido à situação macroeconômica do mundo todo. No Brasil não é diferente a situação e a perda de poder aquisitivo leva a isso – diz o gerente da Trading Brasil Alimentos, Northon Coimbrão.

Na Indústria Brasileira de Cacau, em Rio das Pedras, interior de São Paulo, a rentabilidade caiu em torno de 50% desde janeiro por causa dos altos custos de produção. O diretor comercial calcula uma retração na moagem de 20% em relação ao primeiro semestre de 2014.

– A conta da indústria do cacau, ao contrário do que as pessoas pensam, ela é uma conta negativa, porque mesmo com o deságio entrando matéria prima mais barata, em relação ao preço internacional, a gente repassa para o cliente esse deságio. O cliente exige esse deságio e esse deságio não repõe os altos aumentos de custos que teve. Aí durante esse ano, que é o aumento da energia, o aumento da logística, aumento da embalagem, o aumento de todos os insumos que compõe essa cesta de produção de cacau – diz o diretor-comercial da empresa, Maurício Dati de Pinho.

Para ele, o mercado deve continuar nesta mesma situação até meados de 2016.

– A partir de 2016 a gente pula a safra. A partir da safra 2016, a previsão é de uma melhora substancial em relação à demanda – afirma.

Apesar da menor demanda de cacau no mercado brasileiro, o setor registra crescente aumento nas importações de cacau em pó, principalmente de países asiáticos.

– A capacidade de moagem no Brasil, ela é bem maior que a capacidade de produção, então esses produtos que chegam, eles sempre chegaram, mais acentuadamente nos últimos três quatro anos pra suprir a necessidade do mercado interno. Isso claro que influência o preço de aquisição da matéria prima, ele deixa o preço de venda mais barato no final das contas, mas ele já acontece há algum tempo pra zerar a conta – diz Coimbrão.