Com crédito restrito, operações de troca crescem 10%

Taxa de juros alta e a burocracia estão espantando o produtor rural dos bancos 

Fonte: Marcos Santos/USP Imagens

O comitê de política monetária, Copom, anunciou o corte de 0,25 pontos na taxa de juros, passando de 14,25% para 14%. Esse é o primeiro corte nos juros dos últimos 4 anos e tem como objetivo incentivar a atividade econômica e facilitar o acesso ao crédito.

Nos últimos anos, a taxa de juros alta, restrição de crédito e burocracia têm espantado o produtor rural dos bancos e tem feito crescer as operações de troca, também conhecidas como barter, um tipo de negociação que aumentou quase 10% só nesta safra.

O produtor rural Leonardo Malvestiti Rodrigues, de Aguaí, no interior de São Paulo, divide a terra de 60 hectares em diferentes culturas como soja, milho e feijão. Para ele, o custo ainda é alto e conseguir crédito é um desafio. “A gente tem que buscar outras alternativas, pois está difícil crédito em banco”, falou.

Para alavancar a produção, Leonardo e a esposa investiram no barter, onde o pagamento de insumos e equipamentos é feito com a própria colheita. Uma plantadeira adquirida pelo casal, por exemplo, será paga ao longo de dois anos com mil sacas de soja.

Além da máquina, adubo, defensivos e sementes também foram negociados no mesmo modelo. São R$ 450 mil que não precisaram ser retirados do crédito bancário. “Tenho quase certeza de que, se não fosse essa modalidade, a gente não conseguiria fazer tudo isso que a gente fez esse ano. Acho que vai ser até mais fácil de pagar, porque a gente não tem nada penhorado, nada em garantia, é só a própria produção”, disse Leonardo.

A vantagem não é apenas para o produtor. A empresa em que o gerente comercial Renildo Reis trabalha, por exemplo, negociou também em troca de soja os insumos que Leonardo precisou para a produção. “A inadimplência é praticamente zero, pois existe acompanhamento de lavoura e nós temos os nossos técnicos de campo, que são os representantes que vão juntamente com o produtor acompanhar pra não existir problemas de colheita. Com o produtor colhendo, automaticamente é 100% garantido o recebimento. Isso é bom para todo mundo”, disse o gerente.

Tendência

Um levantamento feito no segundo trimestre de 2016 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) revelou que cada vez mais produtores rurais usaram outras opções, além do tradicional crédito bancário e uso do capital próprio, para bancar as safras deste ano. Com isso, ganharam importância fornecedores que vendem a prazo, fora do sistema financeiro.

O levantamento apontou que 11% do financiamento para a safra 2015/2016 aconteceu por meio de barter, ou seja, 8% a mais que o mesmo período do ano passado. Em contrapartida, o percentual da safra financiado por bancos caiu de 42% para 37% na atual pesquisa. Ainda de acordo com a Fiesp, o resultado é reflexo do cenário econômico do país.