Dia do Agricultor: a sucessão familiar na propriedade

A família Pereira, do Triângulo Mineiro, é um exemplo bem-sucedido de processo de mudança de mãos na condução dos negócios no campo

Fonte: Canal Rural/reprodução

Entregar o comando dos negócios para os herdeiros nem sempre é tarefa fácil. Do lado dos pais, é preciso ter confiança para passar as rédeas; do lado dos filhos, é necessário haver preparo e comprometimento. No campo, essa realidade não é diferente, e o que se observa é que a sucessão familiar tem se tornado cada vez mais profissional.

Um exemplo de processo bem-sucedido de mudança de mãos está em curso no Triângulo Mineiro. No início dos anos 1980, a secular fazenda da família Pereira passou por uma mudança radical. Tradicionais pecuaristas de leite, os produtores começaram a investir na agricultura. A ousadia deu resultado e a atividade hoje se tornou o carro-chefe dos negócios, com plantio de mais de 3 mil hectares de soja, 4 mil ha de milho e 150 ha de feijão, em terras próprias e arrendadas.

O responsável pela guinada na condução da fazenda foi Júlio Cesar Pereira, que se deu conta de que os investimentos em recuperação de pastagens não compensavam manter a pecuária no local. Com o sucesso da produção de grãos, a propriedade se tornou uma referência na região. Mas o patriarca foi obrigado a buscar ajuda para conduzir os negócios. Foi aí que entrou em cena Júlio Cesar Filho, que, além do nome do pai, herdou o gosto pela agricultura.

No começo, conta o sucessor, o pai manteve as rédeas de tudo. “Eu era recém formado e estava um pouco inseguro”. Com o tempo, o comando foi sendo vagarosamente dividido, e o filho foi assumindo a fazenda aos pocuos. “Espero fazer isso com meu filho também”, afirma o herdeiro.

Economista e engenheiro agrônomo, Júlio Cesar Filho se preparou para assumir a frente dos negócios. A cobrança e a responsabilidade de gerenciar a fazenda é grande e, muitas vezes, a relação entre pai e filho passa a ser entre chefe e funcionário.

“Assim como tenho que dar resultados para os meus financiamentos no banco, tenho que fornecer isso para o meu pai”, diz, acrescentando que a propriedade é conduzida como se fosse uma empresa – e as cobranças do patriarca são constantes.

Júlio Cesar “pai”, entretanto, reconhece os méritos e a competência do filho. “Se hoje esta fazenda vai para frente, é por que meu filho se preparou. Ele tem formação, dedicação e capacidade, tem meu apoio e nós somos parceiros”, conta.

Nos próximos anos, essa parceria vai ganhar um novo integrante: João Bernardo Pereira, de 11 anos, que já começa a ser preparado para seguir os passos do avô e do pai. Júlio Cesar Filho ¬afirma que a condução da fazenda foi um “prêmio” que recebeu do pai, e que vai ser entregue à próxima geração.

“Tudo que a gente recebe da agricultura a gente devolve para a terra. Eu quero passar esse desafio para meu filho, porque ele precisa ser desafiado e não pode ‘sentar em cima do patrimônio’ “, diz Júlio Filho.