Pecuaristas de Mato Grosso querem mais crédito e menos burocracia

Pastagens degradadas, custos elevados e para piorar preços baixos na comercialização. Setor pede facilidade para acessar recursos e assim tentar evitar mais demissões

Fonte: Divulgação/Assocon

Desburocratizar as linhas de créditos para aumentar os investimentos da porteira para dentro é uma das principais exigências dos criadores de gado do Vale do Araguaia, responsáveis por um rebanho de quase 5 milhões de animais.

O Mato Grosso possui 24,7 milhões hectares de pastagem, sendo que 25,5% desta área está localizada na região nordeste do estado. A pecuária teria tudo para ser a principal fonte de renda e lucros por ali, mas os problemas climáticos e o alto custo de produção têm diminuído os investimentos e estagnado o aumento da produção.

O pecuarista Vasco Miomens Zarans, de Água Boa conta que a rentabilidade é muito baixa na região e muitas propriedades já demitiram funcionários para reduzir custos, algo que ele já avalia fazer. “A fazenda vizinha tinha setenta empregados, demitiu trinta. Outro amigo que tinha quatrocentos, demitiu duzentos. Eu estou me preparando para demitir, não sou grande mas terei que corta 30% dos funcionários”, reitera Zanans.

O criador Danilo de Mello também confirmou o aumento no valor do sal, usado para complementação da nutrição dos animais e também o aumento dos juros para captar crédito. “Aumentou tudo e o preço do gado baixou demais. No ano passado eu vendi boi a R$ 140 a arroba, hoje o valor não passa de R$ 120. Está muito desproporcional. Ninguém vai querer fazer dívida este ano, só quem precisa cobrir outra dívida. Está difícil de investir na atividade”, diz Mello.

Segundo o sindicato rural de Água Boa, o município possui hoje 300 mil hectares com pastagens, muitas já degradadas por falta de investimentos. “Com dinheiro, a demanda para reformar estas pastagens seria muito grande. Nós temos muita área para ser renovada, corrigida e reformada”, conta o presidente da entidade Antônio Fernandes de Mello.

Com os recursos reduzidos, o jeito é tentar acessar as linhas de crédito disponíveis no mercado. Opções não faltam, mas elas não são atrativas, garante o vice presidente do sindicato rural de Barra do Garças, Ary Panutti. “São muitas exigências. Documentação que as vezes não conseguimos por conta de algumas restrições e os bancos não facilitam nada”, diz ele.

Por sua vez, a cooperativa de crédito Sicred, afirmou que as exigências mais rigorosas são necessárias para proteger estas linhas de crédito com juros controlados. “Existe sim uma burocracia. Pois são linhas subsidiadas, com juros mais baratos. Para se ter ideia, hoje uma linha de crédito para reformar pastagens está em torno de 9,5% ao ano, então é uma linha bem atrativa no valor do juros. Não é nada fora do normal e temos várias pessoas que acessam essas linhas”, explica o gerente da instituição, Diego Neves.

Uma solução encontrada pelo Banco da Amazônia foi criar linhas de crédito pré aprovadas para tornar o processo menos burocrático e mais rápido. “Tentamos ser mais ágeis com relação a isso. Por isso criamos e trabalhamos essa questão de limites pré aprovados para o cliente. Por exemplo, se o produtor rural ou um pecuarista precisa do custeio, isso não pode demorar, ele está precisando de uma coisa rápida. Então já deixamos isso pré aprovado“, comenta o gerente do banco, Wanderlei José de Oliveira dos Santos.

Essa dificuldade leva o pecuarista a estudar outras estratégias na busca de recursos. Em Água Boa, uma alternativa da década de 1970, pode voltar a ajudar os criadores, o arroz. “O arroz é uma cultura fácil, você planta, aduba e vende. No ano seguinte você aproveita a palha do arroz e entra com a pastagem novamente”, diz o presidente do sindicato. “Esse valor do arroz ajuda a pagar os custos da reforma e ainda traz lucro.”

Para ajudar os pecuaristas entidades como a Acrimat e a Famato estão conversando com as superintendências dos bancos e com políticos para ver se conseguem uma melhoria nas condições de obtenção de crédito.  “O que queremos é que o pecuarista possa usar o dinheiro de forma rápida e com menos burocracia”, diz Mello, do sindicato rural

Por fim o diretor regional da Acrimat, Marcos Jacinto comentou que são muitos perfis diferentes de pecuaristas e situações bem diferentes, que a ideia é arrumar a situação da melhor maneira possível. “Nós temos que tentar resolver os problemas localizados para que a possamos realmente fazer uma mudança na pecuária, na produtividade. Uma mudança intensiva nessa arroba produzida. Se o interesse é realmente que o produtor tenha acesso a esse crédito, vamos checar, procurar saber o porque o pecuarista não está conseguindo acessar e vamos tomar atitudes para resolver”, garantiu Jacinto.