Energia de biomassa perde espaço nos leilões do governo

Fonte representa cerca de 5% da matriz energética brasileiraA energia de biomassa perde cada vez mais espaço nos leilões do governo. Para representantes do setor, para quem a competição com fontes como a eólica tem sido desestimulante, o chamado mercado livre, em que usinas também comercializam energia, tem potencial reconhecido, mas precisa ser mais desenvolvido no país.

A energia de biomassa, principalmente a de bagaço de cana, representa atualmente cerca de 5% da matriz energética brasileira, mas essa fonte alternativa vem perdendo espaço. Segundo a indústria de cana-de-açúcar, em 2007 a biomassa chegou a ter 75% de participação nos leilões do governo. No ano passado, a participação caiu para 4%. Para o gerente de bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar José de Souza, o principal problema é que, em um mesmo leilão, são negociadas fontes diferentes e que não podem ser comparadas.

— Isso acaba afetando a política setorial para as fontes alternativas, porque você não tem uma definição de matriz energética. Você joga a moeda e vê o que vai dar em termos de contratação — diz Souza.

O consultor em bioenergia Onório Kitayama avalia que o problema existe porque os leilões oficiais refletem condições distorcidas de competitividade entre as diferentes fontes alternativas, como eólica, das pequenas centrais hidrelétricas e a própria biomassa.

— Caberia uma análise mais profunda para verificar não só o custo empresarial, mas também o custo econômico, em que se analisa não só o custo empresarial, mas o impacto que esse produto tem na economia do país — afirma.

O mercado regulado, em que o governo define as condições do negócio, absorve cerca de 75% da energia de biomassa fornecida atualmente. O restante é negociado no mercado livre, em que empresas compram das geradoras ou comercializadoras. Quem atua no setor acredita que o mercado livre tem potencial de crescimento e desenvolvimento, mas ressalta que essa modalidade também enfrenta dificuldades.

Uma das principais é a forma do contrato, que tem prazo bem mais curto que no mercado regulado.

— No mercado livre, apesar da sua representatividade já ser interessante, em torno de 25%, há uma carência em torno de contratos de longo prazo que possam servir de garantia para o investimento. Mas, ainda assim, é um mercado promissor que vem ganhando musculatura no mercado de energia elétrica — explica Souza.

André Bonaldo é sócio de uma empresa que comercializa energia de 30 usinas de biomassa. Afirma que contratos mais longos eram comuns anteriormente, mas com o tempo, se tornaram inviáveis. Para ele, um bom incentivo seria uma certa desregulamentação que facilite a migração da demanda para o mercado livre.

— Isso daria mais robustez e, consequentemente, a gente conseguiria viabilizar investimentos de fontes novas, empreendimentos novos, todos diretamente no mercado livre, não tratando mais o mercado livre como um sobra do mercado regulado como ele é visto hoje. Mas o que até agora a gente tem visto é que não há nenhum movimento tentando diminuir essa restrição para o mercado livre — diz Bonaldo.