Lula chega a Buenos Aires sob elogios de Cristina Kirchner

Na véspera, a presidente deu primeira entrevista coletiva dos KirchnerFoi precedido de elogios da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, o pouso de Luiz Inácio Lula da Silva às 19h20min desse domingo, dia 3, em Buenos Aires, para um encontro em clima de reconciliação. Na comitiva, levou cinco ministros e mais de 200 empresários.

Desde que os dois países adotaram posições opostas em negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), há uma semana, as relações ficaram tensas. Para Cristina, a visita do colega brasileiro é tão importante que ela aceitou conceder a primeira entrevista coletiva da Era Kirchner, desde que seu marido, Néstor, tomou posse em 2003. A presidente argentina comentou o constrangimento que se seguiu à divergência na reunião de Genebra. Na Rodada de Doha, estava em discussão a contrapartida dos países emergentes a concessões feitas por ricos.

? As visões diferentes e adversidades não significam que não podemos articular um objetivo comum. Abordaremos esse tema (Doha) com Lula e Chávez. É muito importante para a integração a presença de Chávez. Vocês me escutam sempre falar que, para a equação energética do Mercosul, é fundamental ter a incorporação da Venezuela ? afirmou Cristina.

As menções à Venezuela não são gratuitas. Para surpresa e certa contrariedade de diplomatas brasileiros, o presidente Hugo Chávez tem chegada prevista para esta segunda-feira, dia 3, em Buenos Aires, o que gerou especulações sobre uma minicúpula regional, sem confirmação até esse domingo.

Lula avisou que vai falar sobre Doha na China

Antes de deixar o Brasil, Lula também fez referências ao futuro da Rodada de Doha. Disse que telefonou para o presidente dos EUA, George W. Bush, e para líderes da China e da Índia com o objetivo de tentar retomar as negociações fracassadas:

? Telefonei para o presidente Bush. Na terça-feira, vou falar com o presidente Hu Jintao (da China), e pretendo ligar para o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. Na minha opinião, aconteceu uma certa anormalidade na Rodada de Doha. Eu disse ao presidente Bush que não é possível que a gente morra na praia depois de tanto trabalho.

Além do jantar para quebrar o gelo entre Cristina e Lula, previsto para a noite de ontem na residência do embaixador do Brasil na capital argentina, Mauro Vieira, o programa prevê um seminário intitulado Argentina-Brasil: uma aliança produtiva crucial, que será aberto por Lula e Cristina no Hotel Sheraton, no bairro portenho de Retiro. Para participar, Lula leva uma comitiva de cerca de 200 empresários brasileiros, o que foi saudado por Cristina.

? É inédita a presença de uma delegação empresarial como a que traz Lula ? afirmou.

Segundo a presidente argentina, o alcance do encontro dá mostras da disposição dos dois países de aprofundar o processo de integração, apesar das críticas dos argentinos à invasão brasileira. Cristina lembrou que a recuperação da indústria argentina teve início no governo de seu marido, Néstor Kirchner, em 2003, e a comparou com a brasileira:

? Nós começamos a recuperar lentamente o processo de industrialização. Se compararmos o nosso desenvolvimento nos anos 40 com o Brasil, tínhamos uma política aeronáutica muito mais importante, mas hoje o Brasil tem uma empresa como a Embraer.