Perdas nas lavouras de soja brasileiras chegam a duas sacas por hectare

Município de Cambé, no norte do Paraná, é o campeão nacional de redução de perdas na colheita do grãoO Paraná cultivou 4,5 milhões de hectares com soja. A produção prevista é de 13,5 milhões de toneladas, mas pelo menos 270 mil vão ficar no campo. Esse volume equivale a uma saca por hectare, em média. Mesmo assim, o Estado perde apenas metade do que fica em outros Estados produtores do país.

A soja que fica espalhada pelo solo brasileiro chega a duas sacas por hectare. Parece pouco, mas o volume total chega a 2,7 milhões de toneladas, ou um R$ 1,5 bilhão não comercializado. Porém, em pelo menos um local, a realidade é bem diferente.

O município de Cambé, no norte do Paraná, é o campeão nacional de redução de perdas na colheita de soja. Há 19 anos, quando um projeto passou a conscientizar os agricultores, a região perdia quase 2,5 sacas por hectare. Na safra passada, Cambé não chegou a meia saca de soja perdida por hectare, em média. A família Dante foi além: perdeu apenas 2,5 quilos por hectare, uma porcentagem mínima de uma saca de 60 quilos do grão.

O agricultor Osvaldo Dante, de Cambé, ficou em primeiro lugar no Concurso Nacional de Redução de Perdas da última safra. Ele conta que é preciso adotar um conjunto de práticas para se chegar a esse nível de aproveitamento.

? É um sincronismo, desde o preparo do solo. Tem aquela variedade que se perde mais rápido na colheita, em um ano chuvoso debulha fácil na frente da máquina. E também a gente tem que ter aquela variedade que produz para ter o resultado. Dá para melhorar, a gente tendo condições de trabalhar com variedades produtivas, e, em cima dessas mesmas variedades, usar um pouco mais de técnica como espaçamento. Tem como melhorar talvez uns 30% de produção e tendo essa perda baixa da média da região ? disse Dante.

O agrônomo da Emater que coordena o concurso, Alcides Bodnar, coloca uma espécie de quadro de madeira e barbante onde foi feita a colheita na área da família Dante. No espaço de dois metros quadrados, ele recolhe os grãos que ficaram caídos. O copo medidor de perdas revela que o índice do agricultor se mantém muito baixo. Para ele, a conscientização é fundamental para esse resultado positivo.

? Tem que fazer um trabalho de base, botar na cabeça do produtor que ele tem que fazer a regulagem, que ele tem que fazer esse levantamento que a gente mostrou aqui, e ver quanto está perdendo, se tiver perdendo uma quantia grande vai lá e regula a colheitadeira. Há alguns municípios do Paraná que estão fazendo esse trabalho, mas no Brasil muito pouco se tem feito.

A Embrapa participa do Programa de Redução de Perdas e orienta o agricultor.

? Desde a época da semeadura, é importante você instalar bem uma lavoura, fazer um bom manejo desse cultivo, que começa com uma boa qualidade de semente. Eu, como sementeiro, como pesquisador dessa área, oriento que é muito importante começar a lavoura com a melhor semente possível. Assim, vamos ter uma boa população, limpa de invasores, o manejo da lavoura adequado para se ter uma lavoura uniforme e pronta para a colheita. As máquinas têm que ser boas, com boa manutenção, bem ajustadas, e com uma pessoa que vai dirigir essa máquina que tenha conhecimento de todos esses ajustes de forma que ele faça uma colheita muito boa, não só com qualidade, minimizando os danos mecânicos que isso é importante para semente e para grão, como também minimizando as perdas na colheita ? explicou o pesquisador José França Neto, da Embrapa Soja.