Previsão de chuva após o Carnaval anima produtores do Sul do Brasil

Perspectiva de boas precipitações em todo o Rio Grande do Sul deve impedir prejuízos ainda maiores com a secaA ressaca poderá virar euforia no pós-Carnaval dos agricultores do Rio Grande do Sul. Para isto, basta que se confirme a previsão de chuvas expressivas e bem distribuídas no interior a partir da próxima quarta, dia 22. O campo mantém a esperança nas próximas semanas porque, apesar de amenizarem as perdas, as precipitações registradas da semana passada foram insuficientes para acabar com a seca.

– A previsão é de chuva significativa e bem distribuída na próxima semana, incluindo regiões onde não choveu recentemente. Até o fim de fevereiro, as perspectivas são boas para o Estado – afirma Glauco Freitas, meteorologista da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro).

Economista da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Antônio da Luz, explica que, apesar de não recuperar as perdas registradas nas lavouras, a chuva poderá estancar os prejuízos.

– Se a chuva for adequada e estancar as perdas será ótimo. Só há possibilidade de piora caso a seca persista – diz Luz.

As boas precipitações animam produtores como Luiz Rodrigues, de Victor Graeff, que derrubou nove hectares de milho para plantar soja, em dezembro. Graças às chuvas de baixo volume, mas regulares, nos dias seguintes, a lavoura é um oásis em meio a 21 hectares de milho seco. Uma nova sequência de precipitações pode garantir a produção de 40 sacas por hectare.

Apesar do desenvolvimento da lavoura e do otimismo com as próximas precipitações, o engenheiro agrônomo da Emater em Passo Fundo (RS), Cláudio Dóro, observa que o replantio fora de época não é recomendado.

Para o gestor técnico da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio) Dirceu Gassen a esperança também é amenizar os prejuízos com bons negócios: a soja iniciou a semana em alta na bolsa de Chicago. E, se o dólar subir, haverá preço melhor para ajudar a compensar as perdas, ressalta Farias Toigo, analista de mercado da Capital Corretora.

O peso da soja
No ano passado, o Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul cresceu 5,7%, quase o dobro do estimado para a economia nacional (de 2,5% a 3%). Um dos principais motivos para essa diferença foi o desempenho da agropecuária, que teve expansão de 18,88% no ano passado. Por sua vez, esse resultado foi alimentado pela combinação de uma supersafra de grãos com preços internacionais em patamares recordes.
Entre os grãos cultivados no Estado, o mais importante para a economia é a soja. Por isso, a retomada da expectativa de uma safra ainda razoável para este ano é um alento não só para os produtores rurais como para todos os setores da economia gaúcha.

Como estão as principais culturas

Soja
Muitas lavouras estão na fase de floração, com porte reduzido e perdas significativas. Os cultivos do tarde, com falhas de germinação e porte baixo, terão recuperação menor mesmo que chova. Em alguns locais, há perdas irreversíveis. A situação é crítica no Noroeste, onde está concentrada grande parte da produção. Em outras regiões, a chuva já amenizou parte da quebra, que chega a 22% segundo a Emater.

Milho
A colheita avança, mas só 10% da área plantada ainda pode ter uma produção razoável em regiões como Vale do Taquari e Vale do Rio Pardo, de acordo com a Emater. O resto está comprometido, mesmo que chova. A quebra de produção estimada pelo órgão é de 42%.

Arroz
A perda maior foi na época de semeadura. Quem conseguiu estabelecer e tem água para irrigar, está bem. A radiação solar é decisiva e, associada à irrigação, garante um ciclo favorável com a intensa luminosidade. Mesmo com a redução de área prevista diante do preço desestimulante da safra passada, levantamento feito em fevereiro pela Conab aponta quedas de 20,9% na produção e de 12% na produtividade média.

Pecuária
A chuva recente restabeleceu parcialmente a umidade do solo, mas a qualidade das pastagens ainda é preocupante porque as precipitações foram irregulares nas regiões da campanha e na fronteira oeste, principalmente. No norte do RS, onde choveu menos, as pastagens estão em situação ainda mais crítica, resultando em redução no peso corporal do rebanho e queda de até 50% na produção de leite em alguns municípios.