Nova base mundial de dados vai aumentar conhecimento sobre produtividade dos solos

Informações ajudarão a identificar as limitações da terra e dos recursos hídricos e a avaliar o risco de degradaçãoUma nova base mundial de dados vai aumentar o conhecimento sobre a produtividade atual e futura dos solos, assim como o potencial deles de armazenamento e de fixação de carbono. As informações ajudarão a identificar as limitações da terra e dos recursos hídricos e a avaliar o risco de degradação do solo, em particular da produzida pela erosão. A informação foi divulgada nesta semana pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

A partir dessa base de dados sobre o solo, a FAO produziu um mapa mundial sobre a presença de carbono (Carbon Gap Map, em inglês) que permite a identificação de áreas onde o armazenamento de carbono no solo é maior. E também indica o potencial dos solos degradados para fixar bilhões de toneladas adicionais de carbono.

O conceito de seqüestro de carbono foi adotado pela Conferência de Kioto, no Japão, em 1997, para conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera e assim diminuir o efeito estufa. Significa a captura e a estocagem segura de gás carbônico, evitando assim sua emissão e permanência na atmosfera. Por meio da fotossíntese, as florestas capturam o carbono e lançam oxigênio na atmosfera. Para mitigar o aquecimento global, uma série de meios artificiais de captura e seqüestro do carbono, assim como processos naturais, estão sendo estudados e explorados.

A informação sobre o solo sempre foi escassa, o que dificultava a previsão da capacidade e das dificuldades para a produção de alimentos e fibras, assim como o potencial dos solos para fixar carbono e atuar como sumidouros. Até agora, os maiores esforços para usar a agricultura na tentativa de gerir os gases de efeito estufa foram concentrados na fixação de carbono com o plantio de árvores, já que a quantidade de carbono conseguida assim é bastante substancial.

No entanto, há um interesse cada vez maior em se achar formas de aumentar a retenção de carbono no solo, já que essa é a maior reserva dessa substância em seu ciclo terrestre, embora as estimativas sobre sua capacidade variem muito.

O solo pode ser uma fonte ou um escoadouro de gases de efeito estufa, dependendo do seu uso. Para a absorção a longo prazo, o carbono orgânico deve ser armazenado em solos de pouca rotatividade.

? As propriedades químicas e físicas dos solos também ajudam a determinar a informação específica sobre seu comportamento como filtro de águas residuais, habitat de organismos vivos, local para construções ou sumidouro de carbono. Quanto mais informações tivermos sobre as propriedades do solo, melhor poderemos avaliar a qualidade de nossos recursos naturais em todo o mundo e seu potencial para produzir alimentos agora e em cenários futuros de mudanças climáticas ? assegurou Alexandre Müler, vice-diretor Geral da FAO para Recursos Naturais e Meio Ambiente.

De acordo com Freddy Nachtergaele, especialista em solos da FAO, os dados sobre as características do solo são um elemento chave para saber como funciona um ecossistema.

? As propriedades do solo também nos informam se eles têm o potencial de armazenar água suficiente para garantir o crescimento das plantas durante um período de seca ou para resistir a uma inundação. O conhecimento das propriedades do solo pelos agricultores é, além disso, a base da gestão eficiente da aplicação de fertilizantes, reduzindo a perda de nutrientes no meio ambiente ? afirmou.

Avaliação do potencial da terra

A FAO e o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados (IIASA) uniram suas recentes atualizações de informação mundial sobre solos e incorporaram a elas o Mapa dos Solos do Mundo FAO-Unesco, para formar uma Base de Dados Mundial Harmonizada sobre o Solo (HWSD, por suas siglas em inglês). Entre outros parceiros que contribuíram de forma significativa para a informação estão The European Soil Bureau Network, o Instituto de Ciências do Solo da Academia Chinesa de Ciências e ISRIC World Soils.

Os solos como armazéns de carbono

Os diferentes solos têm capacidades distintas de atuar como armazenadores de carbono, o que tem uma implicação direta na captura dos gases de efeito estufa. Os solos do mundo contêm mais carbono orgânico (1,5 mil gigatoneladas) do que a atmosfera (que possui cerca de metade desta quantidade em forma de CO2, em torno de 720 gigatoneladas) e a vegetação (600 gigatoneladas) combinadas. Desta forma, mudanças relativamente pequenas no fluxo de carbono nos solos têm um efeito importante em escala global.

Além de poder prever o efeito das mudanças no regime de chuvas nos diversos cenários de alterações climáticas, os cientistas necessitam de informação sobre a capacidade do solo para armazenar umidade, o que está nessa base de dados.

O HWSD proporciona informação precisa sobre o solo em todo o mundo, necessária especialmente por causa da Convenção sobre as Mudanças Climáticas e os instrumentos posteriores ao Protocolo de Kioto para medir o carbono no solo e o comércio de carbono.

Também pode ser útil para os engenheiros agrônomos, especialistas em agricultura e cientistas para o planejamento do desenvolvimento sustentável da produção agrícola e melhorará a avaliação da degradação dos solos, os estudos de impacto ambiental e as opções de gestão sustentável das terras agrícolas. A base de dados servirá ainda para orientar as políticas relacionadas às questões de competência do solo referentes à alimentação, à energia e à biodiversidade.