Trigo

Moinhos brasileiros são contra entrada de trigo transgênico vindo da Argentina, diz Abitrigo

Entidade se posicionou contra a comercialização de variedade recentemente aprovada no país vizinho, principal fornecedor do mercado brasileiro

Trigo tempo firme
Foto: Débora Fabrício/Canal Rural

Representantes da indústria de trigo do Brasil podem interromper as compras do produto da Argentina caso o país passe a comercializar uma variedade de trigo transgênico aprovada recentemente. Por meio de nota, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) informou que consultou os moinhos e ampla maioria se disse contrária a esse tipo de comercialização.

“Em pesquisa interna promovida pela Abitrigo com os moageiros brasileiros, 85% não foram favoráveis à utilização de trigo geneticamente modificado e 90% informaram estar dispostos a interromper suas compras de trigo argentino, caso se inicie a produção comercial naquele país e sua exportação para o Brasil”, disse a Abritrigo.

A entidade também informou que entrou em contato com representantes da cadeia do trigo na Argentina e foi informada da posição contrária à produção e comercialização dos produtos transgênicos.

“Não identificamos nenhum movimento de demanda dos consumidores brasileiros por soluções transgênicas; ao contrário, há manifestações publicadas de associações de consumidores com restrições ao uso desses produtos transgênicos. Opiniões emitidas em eventos regulatórios, processos judiciais, manifestações de órgãos de defesa de consumidores e clientes permitem inferir que o mercado brasileiro se posicione de forma reativa e preocupado quanto à adoção de alimentação transgênica”, continuou em seu comunicado.

Caso seja autorizada a comercialização pelo Brasil, no entanto, a entidade diz que “importantes  custos de controle serão agregados ao processo de importação, que terão consequências sobre os preços aos consumidores”.

Discussão antiga

O uso de trigo geneticamente modificado faz parte de um debate de aproximadamente 30 anos na indústria do trigo. Segundo a Abitrigo, por meio de análises feitas ficou decidido pela não aprovação desse tipo de trigo por não serem identificados benefícios evidentes às pessoas, sendo objeto exclusivo de busca de aumento de produtividade do campo.

“O relatório da FAO sobre trigo geneticamente modificado registra apenas duas variedades aprovadas no mundo, sendo uma nos Estados Unidos em 2004, que gerou grande repercussão negativa mundial e a interrupção de sua produção e comercialização e a outra variedade aprovada na Argentina, ainda sem comercialização”, disse a Abritrigo.

A entidade diz ainda que apoia o progresso científico e que prioriza a segurança alimentar, tanto que estudos da Embrapa junto com a iniciativa privada já teriam promovido grandes avanços na qualidade e produtividade do trigo brasileiro. “Por esses motivos, a Abitrigo se manifestará contrariamente à comercialização tanto da farinha como do trigo transgênicos no curso da audiência pública convocada pela CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança], por solicitação de empresa argentina produtora do trigo transgênico. No mesmo sentido, a associação deverá solicitar às entidades governamentais brasileiras que não autorizem a comercialização desses produtos no Brasil”, finalizou.