Agronegócio

Coronavírus: família vive drama com esposa e filha em quarentena na China

Luiz Pablo acompanha do Brasil a dificuldade de familiares para retornarem ao país. No último dia 23, o governo chinês proibiu a saída de 7 milhões de pessoas da região de Wuhan

O argentino Luiz Pablo, de 44 anos, vive um pesadelo diante da epidemia do coronavírus. Sua esposa, Hui Zhang, e a filha do casal, de apenas um ano de idade, são duas entre as 7 milhões de pessoas que estão sob um regime de quarentena em Wuhan, na China, região onde foi comprovado o primeiro foco da doença, de acordo com o governo chinês.

Em entrevista exclusiva ao Canal Rural, ele relatou como a família tem vivido as últimas semanas com a escalada no número de vítimas provocadas pelo vírus. “Todas as informações que temos do governo são passadas através de um aplicativo de mensagens. Os hospitais estão abarrotados de pessoas e os moradores, a qualquer sinal de uma possível gripe, correm para os médicos. O governo está construindo dois hospitais, mas ainda assim não será o suficiente”, afirma.

Pablo relata que as autoridades locais instauraram um toque de recolher e suspenderam a circulação de todos os meios de transporte público, como metrô e ônibus. “As pessoas também foram proibidas de usar seus carros. O único meio de transporte é um veículo que o governo está disponibilizando apenas para ir aos hospitais ou supermercados. Além disso, nenhum avião está autorizado a pousar ou decolar”, disse.

Escassez de comida 

Em vídeo enviado ao Canal Rural, a esposa de Pablo, Hui Zhang, explica que a cada dia a situação se agrava. “Nós não podemos voltar ao Brasil, porque em 23 de janeiro a China decidiu fechar a cidade. Agora tudo o que podemos fazer é ficar em casa. Todos estão ansiosos, nervosos e sentindo-se em uma prisão”, afirma.

 

Hui também relata preocupação e dificuldade em conseguir comprar alimentos. “A comida está começando a ficar mais escassa. Em alguns dias eu não sei como vamos fazer para conseguir comprar comida para mim e para a minha filha aqui nesta região”.

De acordo com Pablo, a tensão em volta dos suprimentos aumenta a cada dia de quarentena, já que os produtores agrícolas locais também estão proibidos de trabalhar nos campos e fábricas de processamento de alimentos. “Os trabalhadores das fábricas não podem se deslocar até o local de trabalho, com isso o processamento de carnes e outros alimentos estão parados também”, explica ele.

Falta de respostas

Em busca de ajuda e respostas, Luiz Pablo conta que entrou em contato com o Itamaraty,  Ministério das Relações Exteriores do Brasil, mas que não obteve resposta até o momento. “Já liguei e mandei e-mails dezenas de vezes, mas ainda não tive respostas. A minha esperança é que o Brasil consiga, talvez, disponibilizar um avião para retirar do país pessoas que não estão doentes, assim como estão fazendo os Estados Unidos”.

O Canal Rural entrou em contato com o Ministério de Relações Exteriores do Brasil e a resposta foi que a embaixada brasileira em Pequim e os consulados-gerais “estão acompanhando atentamento os desdobramentos do surto“. Segundo o Itamaraty, o governo chinês tem mantido comunicação constante com os representantes diplomáticos e consulares e, até o momento, não considera organizar a retirada de estrangeiros das áreas já em situação de isolamento.

O Ministério das Relações Exteriores tem recomendado a todos os cidadãos brasileiros que sigam com atenção as recomendações do Ministério da Saúde sobre o tema.

A Embaixada do Brasil em Pequim estima em 70 o número de brasileiros em toda a região de Hubei, onde está a cidade de Wuhan. Mas não é possível ter um número preciso, uma vez que os brasileiros não são obrigados a se registrar junto às autoridades consulares.

Entenda a doença

O coronavírus é um novo vírus que tem causado doença respiratória, com casos recentemente registrados na China. Os coronavírus são uma grande família viral, conhecidos desde meados de 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais.

Geralmente, infecções por coronavírus causam doenças respiratórias entre leves e moderadas, semelhantes a um resfriado comum. No entanto alguns coronavírus podem causar doenças graves, com impacto importante em termos de saúde pública, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), identificada em 2002, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), identificada em 2012.

Segundo o Ministério da Agricultura brasileiro, o coronavírus poderia, também, causar infecções em animais. Entretanto, as investigações ainda estão em andamento para identificar e estabelecer as espécies com potencial para servirem como reservatório dessa doença. Até o momento, com base nas informações disponíveis, não há relatos do vírus em qualquer espécie animal.