Aliança da Soja

Uso de dessecante na lavoura é tema do Aliança da Soja

Com a proibição do uso do paraquate, produtores relatam dificuldade em aplicar quantidade prevista de dessecante. Órgãos de fiscalização alertam para uso de produtos sem registro

A falta de dessecante no mercado tem impactado diretamente o produtor rural. De acordo com a Aprosoja Brasil, por conta da oferta escassa, a elevação do preço atinge 300% em algumas regiões. Isso porque o litro do insumo na safra 21/22 custou, em média, R$ 100, ao passo que no ciclo anterior saia por cerca de R$ 30.

O produtor rural Carlinhos Rodrigues, de Paranatinga, em Mato Grosso, por exemplo, conta que o volume do produto adquirido não foi entregue pelas empresas. Ele concluiu a colheita da soja na última semana de fevereiro em sua propriedade de 765 hectares destinados à cultura e precisou trabalhar com menos litros de dessecante do que o planejado inicialmente.

Paraquat dessecante
Foto: Daniel Popov/Canal Rural

“Precisei reduzir a dosagem, assim como outros produtores da região. Isso dificultou bastante o controle e diminuiu muito a eficiência do produto. Conheço casos de falta do produto, de pessoas que não conseguiram dessecar”, diz, completando que a escassez trouxe impurezas ao grão e contribuiu com o surgimento de plantas daninhas, atrasando, também, o plantio de segunda safra-seja de milho ou de algodão, como é típico na região.

Produtos ilegais

Com o cenário de alta de preços e falta de herbicidas no mercado, a preocupação dos órgãos de fiscalização se volta à comercialização de insumos sem os registros necessários. Nesse âmbito, o gerente de Sanidade Vegetal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Renato Blood, aponta que o contrabando de produtos tende a aumentar. “O produtor terá dificuldade em encontrar o produto no comércio nacional e começará, então, a buscar fora do país. E essa oferta tende a aumentar, pois é uma oportunidade de contrabandistas oferecerem esse tipo de produto, que não terá registro no Brasil”.

Segundo ele, o registro de um agrotóximo é extremamente complexo no Brasil e passa pela avaliação do Ministério da Agricultura quanto à eficácia agronômica, da Anvisa no que concerne os riscos à saúde humana e do aval do Ibama no que diz respeito aos impactos ao meio ambiente. “Já quanto ao produto que é registrado fora do país, não sabemos a intensidade de análise que é feita, além do próprio risco desse produto ser falsificado e não ter a eficácia desejada”, conta Blood, lembrando, também, que a prática de aquisição de produtos sem licença configura crime, conforme a lei.

Desvio de uso

O gerente da Adapar destaca que outro problema neste cenário de escassez de produtos é o desvio de uso dos agrotóxicos. “Se o produtor não encontrou aquele dessecante que já foi testado para uso em determinada cultura, pode acabar tentando utilizar outro herbicida para fazer essa dessecação. Esse herbicida que não foi testado pode não fazer o trabalho de forma adequada, pode trazer um problema de resíduo no grão e ocasionar perda na produtividade, já que dessecantes costumam ter efeitos muito específicos que aumentam a migração de nutrientes para os grãos”, enfatiza.

Dicamba pulverização herbicida
Foto: Franciele Dalmaso/Aprosoja

De acordo com ele, o produtor deve sempre buscar adquitir seus produtos nos comerciantes registrados nos órgãos de defesa agropecuária do estado. “Além disso, o uso do produto tem de sempre estar acompanhado do receituário agronômico. No estado do Paraná temos um sistema de monitoramento do comércio de agrotóxicos, em que o comerciante que faz a venda é obrigado a encaminhar ao órgão de defesa uma via desse receituário agronômico. Isso permite, também, ao estado do Paraná fazer uma análise de risco do comércio e uso de agrotóxico no estado […]. Isso permite até o monitoramento espacial buscando o comércio irregular de produtos“, explica.

Segundo ele, o agricultor precisa se manter alerta sobre pessoas que aparecem na porta da propriedade oferecendo produtos sem procedência e registros atestáveis, sendo necessário sempre se manter atento à embalagem e rotulagem do produto.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e é exibido todas as segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.