A cultura da soja não tem tradição em produção com lavoura irrigada, mas esse cenário tem mudado nos últimos anos. O assunto foi tema do sexto episódio do Programa Aliança da Soja.
Da capital do feijão para o “mini” Mato Grosso. No interior de São Paulo as terras de Capão Bonito foram se transformando nos últimos anos. O feijão ainda é cultivado, mas a soja tem sido a grande protagonista. Atualmente já é a maior cultura do município, correspondendo a 60% do total produzido entre as commodities agrícolas.
Na família Fujivara, o feijão deu espaço para a soja em 2002. A decisão foi pela rentabilidade do grão. Sidney Fujivara já faz parte da terceira geração de agricultores e acredita que a cultura deve continuar crescendo nos próximos anos. “Eu vejo com bons olhos a cultura da soja. Nós temos uma demanda mundial, temos um país maravilhoso, um clima maravilhoso, investimentos e os jovens tem se interessando pela agricultura”, comenta.
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Com o calor forte da região e pouco volume de chuva durante o ano, a saída foi contar com a ajuda da irrigação. “Ela vai nos trazer muito mais segurança, muito mais estabilidade em relação à produção. Então, acredito que a irrigação é uma das ferramentas que o agricultor deveria repensar em termos da viabilidade e de investimento”.
Outro benefício é plantar e colher de acordo com o calendário planejado. Com isso, é possível ter até três safras por ano. “Nós conseguimos fazer o plantio de verão, o plantio da safrinha, no caso do milho e onde não vai o milho safrinha, nós conseguimos fazer a cultura de inverno com o trigo. A irrigação vai em todas as culturas porque, justamente, ela vem para suprir a deficiência hídrica em diferentes fases e diferentes épocas”, explica Fujivara.
A empresa que instalou os pivôs na fazenda registrou o dobro de vendas do equipamento em 2021. O projetista técnico, Santiago Savoldi, explica que o prazo para conseguir as autorizações necessárias vai de três a seis meses. Antes de iniciar a instalação, o produtor precisa avaliar a viabilidade econômica. “Primeiramente, é definir o projeto, qual a área que se quer irrigar e como melhor aproveitar a sua área. Em seguida, você já vai saber qual vai ser a demanda hídrica e aí deve procurar os órgãos competentes de outorga, junto à companhia elétrica para liberação de energia. Esses são os passos para seguir adiante”, define.
Crescimento da irrigação até 2040
De acordo com os últimos dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), de fevereiro de 2021, o Brasil possui 8,2 milhões de hectares irrigados. A projeção é que esse número continue crescendo. Até 2040, a área deverá ter um acréscimo de 4,2 milhões de hectares, o que corresponde a 79% a mais do total registrado em 2020.
O produtor rural Marcelo Góes, também de Capão Bonito (SP), faz parte do grupo de agricultores que elevaram a área irrigada no país. O plantio começou em 15 de setembro e avança nos 2000 hectares. Para ter mais segurança e não ficar refém do clima, para a próxima temporada do milho segunda safra e da soja em 22/23, a área vai ganhar três pivôs para irrigação. A média produtiva do ciclo 20/21 de soja foi de 77 sacas por hectare no sequeiro. Para a próxima safra, na área irrigada, que corresponde a 8% do total, ele espera ter um acréscimo de 15% em produtividade.
“Devido ao alto investimento que se tornou a cultura de cereais, nós procuramos agora também a irrigação, pensando, principalmente, na eficiência, em fazer a cultura na hora certa e o seguro pelo alto investimento que a gente faz”.
Planta sem água é planta sem produtividade
O pesquisador da Embrapa Oeste, Rodrigo Arroyo Garcia, explica os benefícios da irrigação para a cultura da soja. Apesar do produtor investir muito em tecnologia, adubação e tratos culturais, não deve esquecer que o que mais impacta na produtividade é a deficiência hídrica ao longo do ciclo da soja.
“Isso vai depender muito da intensidade e da fase de desenvolvimento da planta de soja em que ocorrer essa deficiência hídrica. O cenário atual que a gente está passando mostra um grande benefício da irrigação, pois as chuvas que ainda não chegaram, que não se estabilizaram nessa época do ano, não atrapalham. Quem tem irrigação já inicia a semeadura logo após o vazio sanitário”, afirma.
Irrigação pode trazer aumento de até 30 sacas por hectare
O custo do benefício da irrigação tem sido um atrativo para os produtores de soja. De acordo com Faos Lopes, cofundador da Icrop, o produtor deve avaliar a viabilidade econômica, mas na maioria dos casos a implantação dessa ferramenta é vantajosa.
“Especificamente para soja se observa o aumento de 20 a 30 sacas por hectare, comparando com áreas que não tem irrigação. O custo em relação à produção deve aumentar em 89 sacas por hectare, então tem um espaço de muito ganho produtivo em relação à irrigação”.
O payback do investimento vai depender de alguns fatores. “Um projeto de irrigação tem um conceito muito específico sobre o tipo de solo, relevo, clima, captação de água, bem como da distância de onde está o recurso hídrico, então existe uma variação de preço em função da característica do local. De modo geral, dependendo do contexto, pode-se pagar após dois anos, indo até próximo de cinco anos”.
Faos lembra, ainda, que outra vantagem é a durabilidade do equipamento, que pode chegar a 20 anos.
Os benefícios da agrometeorologia
Outra ferramenta para garantir a produtividade é a agrometeorologia, que analisa o impacto do clima nas atividades agrícolas. Com esses dados é possível tomar a decisão certa a cada etapa de produção. O agrometeorologista, Marco Antônio dos Santos, alerta que é fundamental que o produtor tenha acesso à previsão do tempo, pois o estresse hídrico afeta a fitossanidade da planta.
“O estresse hídrico diminui a massa verde da planta e isso diminui a produtividade . A planta mais estressada hidricamente ou até termicamente permite a entrada de patógenos e agrava as condições fitossanitárias. Só para vocês terem uma ideia, hoje, 73% das perdas no mundo com produtividade estão relacionadas à água, seja por déficit ou por excedente hídrico”, ressalta.
O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.
