Aliança da Soja

Entenda o que levar em consideração na hora de comercializar a soja

Especialistas falam de contratos futuros, custos de produção, vendas no mercado físico e digital e projetam o futuro da oleaginosa

A soja é um dos principais ativos agrícolas do Brasil. A comercialização da oleaginosa guarda particularidades que foram destacadas no novo episódio do programa Aliança da Soja. Nessa cultura, muitos produtores combinam a venda antes mesmo do plantio para cobrir o custo de produção e aproveitar os preços praticados no mercado. Consultores ressaltam que o indicado é fazer a fixação aos poucos e nunca comprometer o total do volume a ser colhido.

As negociações podem acontecer em diferentes mercados. No físico, chamado também de soja disponível, a compra e venda são feitas à vista. Assim, tanto a entrega quanto o pagamento ocorrem na hora. Já no mercado a termo, chamada de soja de balcão, a empresa compradora assume a responsabilidade de classificar, limpar e secar o grão. A data de entrega e o local do recebimento são previamente estipulados em contrato.

Grãos de soja em meio a notas de dinheiro e moedas
Foto: Daniel Popov

Já as negociações de mercado futuro têm como função proteger os preços. Os contratos são negociados na Bolsa de Valores brasileira, a B3, e a soja é cotada em dólares por saca de 60 quilos. Um lote mínimo equivale a 450 sacas, o que totaliza 27 toneladas do grão.

Atualmente, os preços praticados no Brasil são um espelho da Bolsa de Valores de Chicago, mas a partir de 29 de novembro, a B3 vai alterar o contrato futuro da soja, que passa a operar com o FOB Santos.

“O que vai diferir é a forma como o contrato é cotado. Lá em Chicago ele é cotado em centavos de dólar por bushel e aqui ele é cotado em dólares por tonelada. Ele vai refletir o valor da soja brasileira e não mais em Chicago”, detalha o especialista em commodities da Terra Investimento, Geraldo Isoldi.

Custos de produção

O nono episódio do Aliança da Soja também entrevistou o presidente da Aprosoja-PR, Márcio Bonesi. Segundo ele, é fundamental que o produtor de soja faça contas para conhecer o seu custo de produção. “Isso porque é difícil saber o quanto comprometer de sua produção em contrato se não buscar o custo. Dependendo da época que se faz esse travamento da soja futura é a época que se tem o custo na ponta do lápis. Esse é um dos segredos para se fazer bons negócios em contratos futuros de soja”, declara.

O modelo de negócios de trocas por meio de cooperativas também foi enfatizado por Bonesi. “No Paraná o sistema de cooperativismo é muito forte e os produtores costumam realizar essa troca de soja pelos insumos, como fertilizantes. Claro que a cooperativa exige garantias, mas é uma forma menos burocrática [de adquirir produtos]”.

O presidente da entidade ressalta que apesar de o déficit de fertilizantes ter atingido todo o país e no Paraná não ter sido diferente, o produtor do estado que optou por esse modelo de negócios não sentiu tanto o impacto porque pôde fazer a troca do grão pelo insumo que estava estocado nas sedes dessas companhias. “Ainda assim, é muito importante o produtor escalonar essa troca ou essa venda futura, não fazendo o negócio em um único período”, aconselha.

Riscos de oscilação

O contrato futuro da soja é uma ferramenta utilizada para cobrir custos de produção e diminuir os riscos de oscilação de preço do produto. Para Isoldi, o hedge, como é chamada essa operação, traz mais segurança para o produtor rural.

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“O real motivo da existência dos contratos é esse. Não é especulação, não é investimento, não é nada disso, é proteger tanto produtor da baixa, como a indústria da alta. É uma operação em conjunto com o físico, é uma operação mista, onde o produtor vende na B3 a soja dele em um preço futuro. Se chegar lá na frente a soja ter disparado de preço, eu vou ter fixada uma parte no preço mais baixo, mas a grande maioria eu vou vender no preço mais alto. Enquanto que se cair, vou vender a minha soja no físico um pouco mais baixo, mas pelo menos eu vou garantir uma parte da minha produção”, explica.

Preços remuneradores

O consultor da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, afirma que a partir do ano passado o mercado começou a trabalhar com um panorama diferente para a soja. “A questão cambial catapultou os preços da soja em 2020 e continua para este ano como um fator de suporte para os preços. Temos hoje preços muito remuneradores para a soja no Brasil e isso faz com que o produtor aumente a sua área, a exemplo desta temporada, em que teremos aumento de área [para o grão] no país”, conta.

Segundo ele, a volatilidade da soja faz com que seja necessário o olhar para Chicago e para o câmbio, visto que é difícil de prever se o nível dos preços remuneradores da soja continuarão elevados. “Mesmo assim, ainda estamos falando de preços sustentados, até porque entendemos que o câmbio deve continuar em níveis elevados no ano que vem. Mas com Chicago mais fraco em comparação com alguns meses atrás – como estamos vendo agora – e um câmbio mais fraco, pode ser que o preço, principalmente na entrada da safra, recue, mas isso não quer dizer que voltaremos a níveis de antes da pandemia. Acho que continuaremos com preços bastante elevados no Brasil, mas é muito importante o produtor ficar de olho na questão cambial”, ressalta.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.