Após volume morto, chuva preocupa piscicultores em SP

Represa de Paraibuna, castigada pela estiagem em 2014, registrou excesso de chuvas nos últimos meses

A estiagem de 2014 fez com que muitos piscicultores de São Paulo abandonassem a atividade. Agora, algumas regiões enfrentam outro desafio: a falta de oxigênio na água por causa do excesso de chuva. Na represa de Paraibuna, em São Paulo, em apenas uma semana, o nível em alguns pontos subiu mais de um metro.

A estiagem foi tão severa na represa que, pelo menos 40% dos criadores abandonaram a atividade e pelo menos 130 mil peixes morreram. Agora, a preocupação é com o excesso de chuva, que eleva a matéria orgânica das encostas e diminui o oxigênio da água.

Para o psicultor Wagner Camis, que é autorizado pela Agência Nacional de Águas (Ana) a usar a represa de Paraibuna, a condição prejudica sua atividade. “Imagina-se que essa represa tenha 850 quilômetros de perímetro e, se você pegar a extensão que revegetou, são alguns mil hectares. É muito mato apodrecendo de uma vez só”, avaliou.

Camis tem duas licenças de uso para o manejo de seiscentos tanques de rede, mas hoje utiliza apenas duzentos e vinte e seis. Um reflexo da falta de chuva que reduziu drasticamente a produtividade na região. “Existia um risco eminente, falava-se que ia secar a represa, não veio a se confirmar isso, mas chegou ao volume morto e nós tivemos vários problemas, como deslocar estruturas, reposicionar tanques e barracão”, disse.

De acordo com o pesquisador Clóvis Ferreira, do Centro de Recursos Hídricos do Instituto Pesca, o período em que as áreas dos reservatórios ficaram expostas provocou a revegetação e, agora, esse pulso de inundação acaba comprometendo a qualidade da água. “Essa matéria orgânica em excesso acaba consumindo oxigênio disponível na água e compromete os processos”, falou.

Com duas irregularidades das chuvas, a palavra de ordem na região é tecnologia. “Em ambientes abertos é difícil falar em manutenção da qualidade da água, porém o produtor pode contribuir com as boas práticas de manejo. Ele vai ter que diminuir o adensamento, o arrazoamento, que são fontes de carga orgânica pro sistema, tentar trabalhar de forma a mitigar essa perturbação de forma que os organismos suportem a passagem por essa perturbação”, disse Clóvis.

Além da medição diária da temperatura da água, Wagner Camis tem usado probióticos, as chamadas bactérias do bem, que equilibram o oxigênio da água e por enquanto tem garantido a qualidade dos peixes. “Essa recuperação do volume foi além do esperado. Nós estávamos em janeiro de 2015 no volume morto e a expectativa era chegar a subir uns três metros. Subiram oito metros. Deve abaixar um pouco nesse período de estiagem, mas nós estamos otimistas que não volte a ser como era. Nós estamos hoje com 100% das gaiolas já juvenis, peixe para engordar e acreditamos voltar em plena força em 2017”, completou.