Agricultura

Fazenda no interior de SP se destaca pela produção de café especial

Na propriedade, toda a colheita do grão é feita de forma manual, em virtude das grandes elevações de solo, características da área

Em São Sebastião da Grama, no interior de São Paulo, a Fazenda Cachoeira da Grama é uma de 6 grandes propriedades da região que se destacam pela produção de café.

Na propriedade, toda a colheita do grão é feita de forma manual, em virtude das grandes elevações de solo, características da área, que não permite a entrada de grandes máquinas nas lavouras.

Para o líder em qualidade sustentável da Nespresso Brasil, Guilherme Amado, o grande diferencial da Cachoeira da Grama é estar localizada na região.

“Aqui você encontra arábicas que despontam em qualidade, especialmente uma variedade que surgiu em São Paulo, que é o caso do bourbon amarelo”, diz.

A 20 quilômetros de Poços de Caldas, município de Minas Gerais, a fazenda conta com 411 hectares, sendo 80 hectares exclusivos para o cultivo do bourbon amarelo, um dos melhores grãos do mundo para produção de cafés especiais.

As áreas de café contam com solo vulcânico, altitude entre 1 mil a 1,5 mil metros, e temperatura média entre 17°C e 18°C, condições ideais para o cultivo do arábica.

De acordo com Marcelo Viviani, administrador da propriedade e gerente de sustentabilidade do café bourbon, a adaptação do fruto a região foi extremamente importante para a cultura.

“O bourbon é uma variedade de arábica que desde o início da produção aqui no Brasil se destacou pela qualidade e se adaptou muito bem com o clima aqui da região, que conta com uma baixa incidência de pragas, porque ele é bem sensível em relação ao ataque de pragas e doenças. E com essa boa adaptação, nós conseguimos uma boa produtividade, além de extrair uma boa qualidade que é típica do desse café”, afirma. 

Colheita e cuidados

No ano passado, as lavouras brasileiras de café foram afetadas pelas geadas que aconteceram em julho.

No entanto, na propriedade, os impactos não foram tão intensos e há expectativa de uma colheita maior do que havia sido projetado.

Todos os frutos colhidos na fazenda são aproveitados, desde os maduros, verdes até os secos, que após a coleta, são separados por qualidade.

“Aqui no Vale da Grama essa geada foi bem amena, por trabalharmos em montanha, as áreas selecionadas já desde o século 18 não sofrem com a geada, então as perdas foram praticamente zero aqui na fazenda e nós estamos nesse ano colhendo em torno de 9 a 10% acima do previsto para a safra deste ano. Há expectativa para colhermos entre 1800 e 2000 sacas”, acrescenta Viviani. 

Sustentabilidade

Entre as principais práticas sustentáveis da fazenda, está o cuidado com as famílias que residem e trabalham na propriedade.

Para Amado, há três pilares fundamentais quando se fala em sustentabilidade do café: direitos trabalhistas, conservação ambiental e gestão financeira.

“As pessoas que trabalham na cultura do café tem de ter todas as condições de trabalho digno, toda legislação trabalhista, toda parte de saúde e segurança. Segundo, a parte de conservação ambiental, essa região além de produtora de café é produtora de água, com mais de 154 nascentes, além disso, é preciso cuidar da vida silvestre, e também solos e resíduos. Por fim, o terceiro grande pilar é o aspecto econômico, como uma fazenda tem gestão para ter custo de produção de uma forma adequada e suficiente, e também vender o café por um preço bom, com isso você dá sustentabilidade econômica para a atividade”, comenta Guilherme. 

Para o administrador da fazenda, é importante que o trabalhador escolha ficar no campo.

“Hoje nós temos entre 26 a 28 famílias trabalhando aqui, e para que isso ocorra, é preciso que essas pessoas contem com uma boa qualidade de vida, de moradia, educação e acesso a serviços médicos e sociais. A equipe precisa estar motivada, porque no trabalho, também precisamos de uma boa produtividade, uma produção de montanha é quase artesanal, depende muito do trabalho manual e esse é um serviço pesado, essa boas condições são a chave para manter os trabalhadores aqui”.

De acordo com os especialistas em café, o momento atual do setor é de transição, já que a agricultura regenerativa, que consiste na produção agrícola capaz de preservar o meio ambiente, por meio de recuperação da terra e restauração de áreas degradadas, vem ganhando cada vez mais espaço.

“Estamos vivendo um momento especial tanto no Brasil, como em outros países, uma mudança do modelo baseado no alto uso de insumos, principalmente de fertilizantes e defensivos, que agora caminha para uma produção agrícola mais natural, com os produtos biológicos ganhando força, isso faz com que as pessoas da fazenda tenham de mudar a chave, tanto na maneira de agir como de pensar. Nós saímos da revolução verde e entramos na revolução biológica”, avalia Amado. 

Segundo Viviani, após a pandemia da covid-19, o consumidor passou a olhar mais para saúde.

“O conceito de agricultura regenerativa é levar sanidade ao solo, tendo um solo saudável você tem uma planta saudável, que ocasionam em frutos saudáveis e que geram um café saudável, e quem consome esse produto também promove a saúde do consumidor. Estamos olhando para um trabalho com menor uso de insumos externos, menor uso de agroquímicos, buscando um controle mais biológico, mas sempre focando na manutenção de uma boa produtividade, porque não adianta produzir com qualidade, de forma saudável, se não tivermos uma boa produtividade, e os biofertilizantes, associados a variedades mais resistentes, ao desenvolvimento de microrganismos no solo que permitem uma maior interação e nutriente disponível, torna a produção mais autônoma nessa questão de manejo e trato cultural da lavouras”.

Conectividade

No Brasil, a falta de conectividade é um problema que afeta muitas áreas produtoras do Brasil, e para o líder em qualidade da Nespresso, é preciso que os agricultores tenham acesso a internet, tanto para uma melhor qualidade de vida, assim como para a manutenção da população rural no campo.

“As pessoas que vem colher o café, uma das exigências dos colhedores, que vem de outras regiões é que a fazenda tenha internet, então a gente tem uma deficiência em todos os níveis, e hoje é um dos principais pontos que temos que oferecer, principalmente pensando em novas gerações. Se não houver conectividade para eles, não existe vida no campo”, ressalta Amado.