O que acontece no mercado de carne bovina?

Setor passa por dificuldades, com baixa demanda e queda na oferta de animaisO mercado de boi gordo brasileiro está passando por uma situação delicada em 2015, com as diversas partes do setor apresentando problemas, e como em um ciclo que se retroalimenta, a situação de um acaba se refletindo no outro, prejudicando ainda mais o setor.

Fonte: Divulgação/Pixabay

Cada parte da cadeia possui questões específicas para lidar, mas dois pontos estão prejudicando todo o setor de carne: a queda no consumo interno e externo e o recuo na oferta de animais.

O Canal Rural preparou um levantamento sobre o setor, analisando os problemas de cada parte da cadeia, e buscou ver o que os próximos meses reservam ao setor.

Demanda interna e externa

No Brasil, devido às dificuldades econômicas, os consumidores estão alterando seus hábitos de consumo, deixando de consumir carne de boi e indo em busca de opções mais baratas, que é o caso da carne suína e de frango. Mesmo aqueles que ainda compram carne bovina mudaram de hábito, priorizando cortes dianteiros do que traseiros, que são carnes mais nobres.

No cenário internacional, os nossos principais compradores, Rússia e Venezuela, diminuíram suas aquisições, também por conta de problemas na economia. O resultado é um recuo de 14% das exportações de carne no acumulado de janeiro a maio em termos de volume e um recuo de 18% no faturamento, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Frigoríficos

Talvez a divisão que vem sofrendo mais com a situação sejam os frigoríficos, cujas margens de lucro estão prejudicadas desde o ano passado.

A fraca demanda do mercado atacadista está impossibilitando as indústrias de repassarem ao consumidor a elevação dos custos, principalmente o aumento do preço da arroba, que já subiu 21,7% nos últimos 12 meses.

Além de prejudicar o consumo, a recessão econômica também elevou os custos de produção, por conta do aumento do preço da energia e dos combustíveis.

Para tentar aliviar a situação, os frigoríficos estão recorrendo a duas medidas: reescalonamento da capacidade operacional, com redução no número de abates e demissões, e pressionando os vendedores a baixarem as cotações.

Dados da consultoria Agrifatto mostram que foram fechadas 40 plantas frigoríficas somente neste ano, entre pequenas e grandes. O número está muito próximo ao verificado em 2009, quando cerca de 52 plantas encerraram suas atividades. O estado de Mato Grosso do Sul registra a situação mais grave, com 1,5 mil demissões até o momento, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

No lado das compras, os frigoríficos estão pressionando os produtores, buscando pagar menos que os preços de mercado. A situação chegou a um ponto extremo em que, na última terça, dia 15, o preço oferecido pelo boi foi reduzido em até R$ 5 por arroba.

Pecuaristas

Na outra ponta da situação estão os pecuaristas, que veem a arroba do preço do boi gordo subir 21,7%, mas enfrentam uma valorização de 31,6% no preço do boi magro e de 34,7% no preço do bezerro, prejudicando o poder de compra daqueles que trabalham com recria e engorda.

A restrição no tamanho do rebanho é o principal motivo para a alta nos preços. Considerado o segundo maior do mundo, o rebanho brasileiro sofreu uma redução de 2,5 milhões de cabeças nos últimos quatro anos, com muitos produtores abandonando a atividade e transformando suas fazendas em lavouras de produtos rentáveis, como a soja.

Com os frigoríficos realizando programação curtas de abate, para forçar uma queda de preços, os pecuaristas estão resistindo a entregar boiadas em praças com os preços abaixo da referência, forçando a alta.

Perspectiva

Diante deste cenário, de baixo consumo e oferta diminuta, o que esperar do mercado de carne de boi para o restante do ano?

Segundo a analista de mercado da Agrifatto Lygia Pimentel, o cenário para o segundo semestre é favorável a exportações por conta da perspectiva de dólar alto e a perspectiva de abertura dos mercados de China e Arábia Saudita, além de indicações neste sentido pelo governo dos Estados Unidos.

Contudo, ainda é preciso habilitar as plantas frigoríficas para que possam vender carne a estes países. Além disso, o setor não deve se recuperar totalmente da queda nas exportações que ocorreram até o momento. O consumo interno, diz ela, ainda deve demorar a se recuperar.

Em relação à oferta de animais, a expectativa é de melhora, com um aumento na quantidade de animais em semiconfinamento e confinamento a pasto, de acordo com levantamento realizado em 11 estados que respondem por 90% da produção de carne no Brasil.