Pecuária

Exportação de carne bovina teve ano difícil, mas com recorde de receita e ganho no preço médio, diz Abiec

De acordo com o presidente da Abiec, cenário em 2022 é de manutenção de bons resultados no mercado internacional

A pecuária de corte viveu um ano desafiador no Brasil em 2021. Se, por um lado, o preço da arroba ganhou patamares recordes, por outro, os custos de produção também tiveram um aumento significativo, comprometendo a rentabilidade do produtor. As exportações tiveram um papel importante no destino da carne que não foi absorvida pelo mercado interno. eu conversei com o presidente da associação brasileira das indústrias exportadoras de carnes que fez um balanço de 2021 e falou também sobre as perspectivas para 2022.

De janeiro a novembro deste ano, o Brasil exportou quase um 1,7 milhão de toneladas de carne bovina. Tal volume representa 8% a menos na comparação com o mesmo período de 2020 (1,845 mi de t). Mesmo assim, em receita, houve um ganho de 9,4%, passando de USS 7,763 bilhões para US$ 8,489. O preço médio melhorou ainda mais: 19%, saltando de US$ 4.207 dólares por tonelada para US$ 5.008.

Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, houve um saldo positivo neste ano, em relação às perspectivas deixadas pelo período anterior. Levando em conta eventos como a continuidade da pandemia e o fechamento do mercado da China, 2021 foi um ano de “grande experiência”, com ganho de receita mesmo com queda dos volumes exportados.

“Resumo da ópera: foi um ano difícil, mas foi um ano bom. Nós vamos de novo bater o recorde em relação à receita e ao preço médio, que é importante, com 16% a mais em relação ao preço médio do ano passado”, sintetiza.

Carne para a China

O principal imprevisto nas exportações brasileiras foi a interrupção de compras de carne bovina pela China, após o aparecimento de casos suspeitos do mal da vaca louca. O embargo durou praticamente 100 dias, mas, segundo a Abiec, a situação foi resolvida antes que pudesse causar um prejuízo muito maior.

“Talvez o maior prejuízo que a gente pudesse ter com essa paralisação e reabertura do mercado chinês, fosse a ausência por muito tempo do nosso produto na compra. Esse é um processo que tem muito desgaste e com custo altíssimo para recuperar”, afirma Camardelli. Mas o produto brasileiro ficou muito pouco tempo fora das gôndolas, diz o representante da Abiec. “A gente continua lá e talvez esse seja o grande objetivo de um retorno eficiente dentro das comprovações técnicas, que é não fugir do olho do consumidor num mercado tão demandante e tão competitivo.

O Brasil é muito dependente do mercado chinês na exportação de todas as carnes. Especialistas dizem que a recuperação do rebanho suíno chinês vai afetar os embarques brasileiros de carne de porco. Por outro lado, novos surtos de peste suíno africana surgiram este ano na China, colocando mais um ponto de interrogação nessa previsão de mercado futuro. O presidente da Abiec diz que, mais importante do que especular, é ficar atento aos sinais vindos de lá.

“O imposto do suíno aumentou de 8% para 12%. Isso tem um recado de proteção ao grande estímulo que o país fez em relação ao consumo e à criação do sistema pouco dependente ou maciçamente pouco dependente de importações. Por outro lado, eles baixaram os impostos da importação de pescados, o que mostra que estão trabalhando com outras proteínas”, diz Camardelli.

Certo mesmo é que o setor quer diminuir essa dependência do mercado chinês, e mostrou em 2021 avanços importantes na conquista de novos mercados. De acordo com o presidente da Abiec, há negociações adiantadas com o Canadá, discussões sobre a reabertura de mercado do Japão e perspectivas concretas de continuar a trabalhar com o mercado da Coreia do Sul. “E, quando eu reporto a esses três mercados, eu estou me referindo aos três maiores importadores do mundo, em que o Brasil ainda não consegue colocar carne in natura”.

Camardelli ressalta a importância da sinergia criada neste ano entre os órgãos do governo e os setores privados. “A gente vê hoje o Ministério das Relações Exteriores com a criação de uma secretaria específica, a gente vê a ministra Tereza [Cristina, da Agricultura] com a batuta na mão orquestrando com empatia, com capacidade e com conhecimento de causa. Eu acho que esse foi o grande ponto de apoio que nós tivemos durante esse ano”, pondera.

Respostas rápidas

Outro ponto importante em 2021 foi a agilidade que o setor demonstrou para responder às demandas internacionais relacionadas à qualidade da carne brasileira. Segundo o presidente da Abiec, no ano passado em 100 mil toneladas houve três divergências técnicas, mas que tiveram ações corretivas foram rápidas. “Veja a relação do volume exportado com as incorreções que foram encontradas. A maioria delas, por problemas de rotulagem, por problema de frio, de transporte de navio, ocorrências que não refletem um problema na área de produção”. Como houve continuidade na garantia da qualidade da carne brasileira, ele afirma que é possível vislumbrar para o ano que vem um novo recorde de receita em exportações.

Perspectivas

Para Abiec, 2022 traz perspectivas positivas para pecuaristas, suinocultores e avicultores, apesar de a cadeia produtiva ainda sentir os efeitos da pandemia — como a dificuldade de importação de insumos, como produtos veterinários, e a desorganização comercial provocada pela Covid-19.

“Mas com a base que a gente tem, uma cadeia produtiva muito pouco arranhada em relação aos seus conceitos básicos e com garantia de demanda, o que está acontecendo e o que vai acontecer nos permite recuperar num prazo bastante curto. As mesmas proporções e aquele mesmo fluxo que vinha sendo praticado com a China. Se a gente considerar que não acessamos 40% do mercado internacional importador mundial que tem a maior remuneração, nós estamos num cenário de continuidade nessa expectativa de sucesso e vamos em frente”, finaliza Camardelli.

 

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Fotos: Wenderson Araujo/Trilux/CNA