Política

MST recua sobre invasões de terra no país

O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, descarta promover uma onda de invasões de propriedades no Abril Vermelho

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltou atrás e negou a intenção de realizar uma jornada de ocupação de terras durante o mês de abril, conhecida como “Abril Vermelho”, que marca o massacre de Eldorado do Carajás em 1996.

Segundo o coordenador nacional do movimento, João Paulo Rodrigues, não haverá uma estrutura de ocupação organizada pela direção nacional do MST, embora eventuais ocupações possam ser decididas pelas estruturas estaduais do movimento.

O MST planeja mobilizações políticas, como marchas, atos e assembleias em frente a órgãos públicos, e espera iniciar uma série de agendas com ministros e representantes do governo federal para tratar de reivindicações políticas e orçamentárias.

Entre elas, está a indicação de novos superintendentes e diretores em dez estados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

“O presidente Lula e sua equipe têm que apresentar um plano de assentamento de novas famílias, a partir da desapropriação de latifúndio improdutivo, assentamento em terras públicas devolutas da União, ou mesmo reposição, eventualmente, de lotes vagos. E atualizar as famílias que estão em cima das terras, mas não têm o reconhecimento por parte do Estado”, afirmou.

O dirigente do MST disse ainda que o movimento vai atuar em defesa do governo Lula. “Ajudamos a eleger o governo, somos parte desse campo político que fez a campanha, que lutou contra o golpe, contra o bolsonarismo”, enfatizou.

Na segunda (10), membros do movimento ocuparam a sede da entidade em Maceió e cobraram a saída do superintendente do Incra em Alagoas, Cesar Lira, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Nesta terça-feira (11), o prédio foi desocupado depois que o governo federal prometeu uma reunião para tratar sobre o tema.

Segundo João Paulo Rodrigues, este ano já ocorreram 16 ocupações de terra. No ano passado, ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, foram cerca de 40 ocupações.

Apesar disso, ressaltou o líder do movimento, as jornadas de abril de 2023 não terão as ocupações como estratégia principal de reivindicação. No entanto, elas poderão ocorrer pontualmente em alguns estados.

“Não tem nenhuma nova jornada de ocupação de terra sendo feita país afora. O que tem é uma jornada de mobilização que, eventualmente, um estado ou outro pode decidir ocupar um latifúndio, que está abandonado, que as famílias estão acampadas na beira da estrada e podem vir para dentro [da área]”, explicou.

Mensagens divergentes no MST

As palavras do coordenador nacional do MST são diferentes de João Pedro Stédile, também membro da direção nacional do movimento.

Em um vídeo, Stédile anunciou em vídeo que haverá invasões de terra em “todos os estados” do Brasil no mês de abril.

Neste ano, já foram registradas invasões de partidários do movimento em fazendas de Pernambuco e da Bahia.

“A nossa reivindicação é que sejam desapropriados, o mais urgente possível, os latifúndios improdutivos para resolver o problema das famílias acampadas e criar espaço para produção de alimentos saudáveis”, disse Stédile. Ele afirma que atualmente há 80 mil famílias em ocupações no país.