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Recuperação da demanda por etanol pode impulsionar preços do milho nos EUA

Produtores de etanol vislumbram uma recuperação impulsionada por reaberturas econômicas e estímulos propostos pelo presidente Joe Biden

Os preços futuros de milho na Bolsa de Chicago (CBOT) atingiram no começo de fevereiro o maior nível em quase oito anos, e analistas acreditam que uma recuperação da demanda por etanol pode impulsionar ainda mais as cotações.

Cerca de 40% da safra de milho dos Estados Unidos costumava ser destinada à fabricação do biocombustível, mas a demanda despencou por causa da pandemia de Covid-19. Agora, produtores de etanol vislumbram uma recuperação impulsionada por reaberturas econômicas e por uma possível onda de regulamentações favoráveis à bioenergia do governo Joe Biden.

Nos últimos seis meses, os preços de milho subiram cerca de 50%, refletindo a maior demanda da China. O país vem recompondo seu plantel de suínos após surtos de peste suína africana terem reduzido significativamente o número de animais.

Nos dois primeiros meses de 2021, as importações chinesas do grão mais do que quintuplicaram ante igual período do ano passado. Em 9 de fevereiro, o milho na CBOT alcançou US$ 5,74 por bushel, o maior nível desde julho de 2013. Na segunda-feira, 29, o vencimento maio fechou em US$ 5,4675 por bushel. Recentemente, o Goldman Sachs estimou que os preços devem voltar aos US$ 5,70 dentro dos próximos 12 meses.

Por enquanto, a produção de etanol nos EUA não retornou aos níveis anteriores à pandemia. Na semana encerrada em 19 de março, a produção média ficou em 922 mil barris por dia, em comparação a mais de 1 milhão de barris/dia na época correspondente de 2019. Agora, mais motoristas estão voltando às estradas nos EUA. “Esperamos que o consumo de gasolina e etanol comece a se aproximar gradualmente dos níveis anteriores à pandemia nos próximos meses, com o aumento das vacinações e o retorno das atividades normais, a menos que aconteça algo inesperado”, disse o economista-chefe da Associação de Combustíveis Renováveis (RFA), Scott Richman.

Essa recuperação pode representar uma fonte adicional de demanda, num momento em que agricultores planejam semear uma área maior com milho para aproveitar os preços mais altos. “Isso dá aos produtores alguma confiança quanto a sua intenção de plantio para 2021”, disse Curt Covington, diretor sênior de empréstimos institucionais da empresa de crédito agrícola AgAmerica.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) publica amanhã seu relatório de intenção de plantio. Segundo analistas, a área de milho deve ser estimada em 93,1 milhões de acres (37,68 milhões de hectares). No mês passado, o USDA projetou uma área um pouco menor, de 92 milhões de acres (37,23 milhões de hectares). Mesmo assim, o número de fevereiro já representa a maior área de milho desde 2016.

Alguns analistas também apostam em políticas de Joe Biden que estimulem o uso de combustíveis renováveis. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) indicou no mês passado que não vai apoiar medidas do governo Trump que tentavam desobrigar algumas refinarias de petróleo de cumprir exigências de mistura de biocombustíveis. “Nas últimas semanas, vimos algumas indicações positivas da EPA, pela primeira vez em um bom tempo”, disse Jim Pirolli, chefe de operações de etanol da Andersons.

No ano passado, por causa da queda da demanda causada pela pandemia, cerca de 73 das 204 destilarias de etanol do país interromperam a produção. Mais de 50% das que permaneceram abertas operaram com capacidade reduzida, de acordo com dados da RFA. “2020 foi um ano abismal para o setor”, disse o CEO da RFA, Geoff Cooper.