Família de produtores é presa por trabalho escravo

Eles são acusados de submeter sete paraguaios à condição análoga à escravidão; família nega acusações 

Uma família de agricultores de Guaíra, localizada no oeste do Paraná, perto da fronteira com o Paraguai, foi presa em 21 de julho, acusada de explorar trabalho escravo em sua propriedade de seis alqueires. A família diz que é inocente, alegando que contratou os trabalhadores, de origem paraguaia, através de um intermediário.

– Foram encontrados sete paraguaios que, na visão do Ministério Público do Trabalho e dos fiscais, estavam submetidos à condição análoga à escravidão. Por conta disso foi lavrado o auto de prisão em flagrante das pessoas que se encontravam lá e que, em tese, eram responsáveis pela propriedade – diz o delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Marco Smith.

Na ocasião, foram presos a produtora rural Izabel Stefenson e o seu filho, Everton. Ambos possuem deficiência auditiva e não entenderam não ocasião por que foram presos. O pai da família, seu Adenir, não estava no local no momento da operação policial.

A família garante que os paraguaios foram contratados através de um intermediário. O pagamento para esse tipo de atividade manual é feito por tonelada. Para as 170 toneladas, o valor foi fechado em R$ 4,590 mil.

–Pagava pro chefe [deles]. Todo dia vinha pedir dinheiro pra nos. Agora como e o que ele fazia, eu não sei – diz Izabel.

O trabalho estava estimado para durar oito dias, mas as chuvas impediram a colheita durante mais de duas semanas. Segundo a família, os homens pediram para dormir na propriedade, para não precisar atravessar a fronteira todos os dias.

Dona Izabel e o filho foram soltos depois que a comunidade arrecadou R$ 40 mil para pagar a fiança. Mas no mesmo dia, seu Adenir teve a prisão preventiva decretada. Sem possibilidade de fiança, ele esta detido na sede da Policia Federal de Guaíra há uma semana. Desde então, os agricultores se reúnem diariamente para uma mobilização, na tentativa de sensibilizar a juíza responsável pelo caso.

A juíza da Justiça Federal de Guaíra não quis gravar entrevista sobre o assunto. Um pedido de habeas corpus já foi negado e uma nova liminar deve ser julgada a qualquer momento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no Rio Grande do Sul. A defesa do produtor alega conflito de decisão e prisão sem justificativa, já que as denúncias de ameaça aos paraguaios não foram comprovadas.

– Como que não tem requisitos pra manter a dona Izabel e o Everton presos e tem requisitos pra manter o seu Adenir? Mesmo imóvel, mesmas partes, mesmas supostas vitimas. O seu Adenir, em momento algum impedia, que eles saíssem de lá. Tinha telefone, se comunicavam por telefone. Eles andavam armados com facão, eles mesmos disseram no depoimento e falaram que o seu Adenir não tinha arma nenhuma. A ilegalidade da prisão, a gente vê nessa situação, que não havia ameaça em relação aos estrangeiros – afirma o advogado da família, Luis Claudio Nunes Lourenço.

Ele explica ainda que no dia da fiscalização, a situação trabalhista foi legalizada através de acordo entre o produtor e os sete homens, com o pagamento de R$ 3,2 mil, referente a um mês de contratação, para cada um deles.

Depois da denuncia, os sete paraguaios e o intermediário não foram mais localizados.