Lideranças da pecuária estão otimistas com relação ao consumo e à redução nos custos em 2013

Produtores e analistas avaliam ano de 2012 para a pecuária de corte e de leiteA alta nos custos da pecuária em 2012 fez com que produtores tivessem rendas menores, e agora, no fim do ano, a notícia de um caso não clássico de mal da vaca louca assustou produtores e compradores. Já a pecuária de leite enfrentou um ano atípico. Nos preços, houve estabilidade, com poucas diferenças em relação a 2011, mas a alta nos custos tirou a renda de produtores como Luiz Antônio Borges.

– Com este preço de ração, o leite teria que estar valendo R$ 1,50 o litro.

Com os preços dos grãos em alta, teve produtor que reduziu e até abandonou a atividade leiteira, como o pecuarista Palestino Ferreira.

– A gente mexe com leite e este leite está muito defasado. Muito ruim, então a gente está passando pra soja. Pelo preço do leite, a gente não conseguia nem adubar nem roçar os pastos. E com a renda da soja, as terras valorizam e, no dia de amanhã, se o leite voltar, as terras vão estar preparadas.

A pressão do mercado internacional também segurou os preços.

– Se não tivéssemos importação [de leite] o nosso mercado interno estaria mais aquecido – comenta o Presidente do Sindicato Rural de Sacramento, Hermógenes Vicente Ribeiro.

O clima também influenciou na oferta de leite até a chegada da entressafra. Segundo Cenyldes Moura Vieira, presidente da Laticínios Calu, esse foi um fator que influenciou a qualidade das pastagens.

– Embora tenhamos tido ocorrência de chuvas até o mês de junho aqui na região, quando a entressafra chegou, ela veio pra valer. Até hoje estamos com um pouco de dificuldade de pastagem aqui na região e isso, juntamente com a alta do custo de produção, tem dificultado muito para o produtor.

Perspectivas

Para 2013, as lideranças do setor estão otimistas com relação ao mercado consumidor e à redução nos custos.

– Nós temos sentido, do ponto de vista da indústria e da nossa área comercial, uma recuperação de vendas, principalmente nos últimos 60 dias. Isso nos deixa mais esperançosos para o ano de 2013, porque nós sabemos que, embora a produção deva se manter nos mesmos níveis, mais estabilizada, o mercado mais comprador é sinônimo também de melhoria na atividade e esperamos também que os preços dos insumos não estejam a níveis tão altos como está neste ano – projeta Moura Vieira.

Tanto para produzir carne quanto para produzir leite, os custos reduziram a renda dos pecuaristas. no caso da pecuária de corte, vale lembrar que 2011 foi marcado pela insegurança financeira dos frigoríficos. Em 2012, a situação voltou a ser favorável para equilibrar as contas, como no caso do Mata Boi, sediado em Araguari (MG), que está em recuperação judicial, mas já está abatendo mais do que antes de enfrentar a crise.

A unidade de Araguari está abatendo 1,2 mil cabeças por dia, 300 a mais do que abatia antes de enfrentar a crise. A diretoria que conseguiu reabrir a unidade de Rondonópolis, no mês passado, está otimista para 2013.

– Com base no planejamento que tivemos no ano de 2012, nós fizemos o planejamento de 2013 dentro do estratégico. Nossa posição é de otimismo com relação ao mercado, acreditando bem no mercado, no consumo. Os pecuaristas estão nos apoiando e devemos atingir os objetivos planejados para 2013 também – afirma Rubens Vicente, diretor do frigorífico Mata Boi.

O pecuarista Paulo Paiva mandou para o abate, em 2012, 700 cabeças, 10% a mais do que em 2011. A última entrega foi em outubro, com preço de R$ 92 a arroba. Para Paiva, o grande desafio de 2012 foi fazer a reposição. Ele pagou R$ 100 a mais por animal.

– Hoje eu diria que nosso maior problema não é tanto o preço do boi, é o preço da reposição. Quando você fala em reposição, é ela quem dá a margem de lucro ou prejuízo. Então não adianta a gente querer que o boi suba mais 10% ou 15%, que nós não temos mercado para esta carne, então nos temos que nos preocupar com a reposição. Quem tem o hábito de comprar animais com dois anos e meio a pasto encontrou maior dificuldade porque ele passava a concorrer com quem compra para confinamento. Esse que compra para confinamento paga um pouco a mais, porque ele está totalmente estruturado, só aguardando os animais, então ele tem que comprar.

Exportações

Nas exportações, 2012 teve muitos desafios para o setor de corte. O mercado russo fechou suas portas para os embarques da carne brasileira. No meio do ano, uma comissão visitou o país para inspecionar algumas plantas. Passados alguns meses, veio a notícia que os produtores esperavam. Três Estados brasileiros poderiam começar a se adequar às regras do país europeu para retomar os embarques.

Depois de anos, o Brasil atingiu o status de país livre do mal da vaca louca, e os produtores se animaram com a possibilidade de abertura de novos mercados. Mas o anúncio de um caso não clássico da doença no Estado do Paraná trouxe apreensão aos produtores. A morte do animal de 13 anos, que ocorreu em 2010, só agora foi confirmada pelo governo.

– Como foi encontrado o vírus em 2010 e não foi informado nada para ninguém? Falta um pouco de trabalho mais firme e mais forte nesse setor sanitário – afirma o analista de mercado Flávio Abdo.

Depois disso, o efeito cascata. Um país atrás do outro anunciava bloqueio às compras de carne brasileira, mesmo com a OIE, Organização Mundial de Saúde Animal, mantendo a classificação do Brasil como país de risco insignificante para o mal da vaca louca. Ao todo, foram sete países a suspender importações: Japão, Coréia do Sul, África do Sul, China, Arábia Saudita, Egito e Chile.

– Esses países que colocaram as restrições, a maior parte nada compra, são países de aquisição pequena. País grande é o Egito, que tem algumas restrições, localizadas do Irã. Agora o Egito, por outro lado, também está se restringindo ao Paraná que foi o Estado que registrou o problema – ressalta o diretor de sanidade animal do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes.

Para Antônio Carmadelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), é possível reverter o bloqueio em curto prazo.

– Nós acreditamos que, em curto prazo, a gente possa reverter, até pela convicção de que se trata de um processo técnico e pela determinação da OIE. Ele não é passível de discussão técnica, então a maioria dos países que baniram, determinaram temporariamente, e solicitaram esclarecimentos, e todos eles estão recebendo informações adicionais – disse Carmadelli.

Para o analista Flávio Abdo, o bloqueio comercial pode afetar os preços em 2013.

– Não vejo que isso possa trazer um impacto muito negativo, mas em termos comerciais, isso pode afetar preços de venda lá fora, podem vir várias perguntas de compradores de carne brasileira, como Rússia, Irã, China…

Apesar dos obstáculos enfrentados, produtores e analistas acreditam em melhorias para o ano que vem.

– Estou com uma expectativa que vamos ter uma melhora no inicio de 2013. Eu acredito que o mercado está bem mais firme – diz o produtor Paulo Paiva.

Flávio Abdo também vê o próximo ano sob uma perspectiva otimista.

– Estou positivo para o ano que vem, espero que a gente continue com um bom volume de exportação, que a gente consiga exportar um numero maior que esse ano e que a demanda interna se mantenha em crescimento.

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